São vários os nomes e expressões com os quais os intelec-tualóides do imperialismo ou mesmo os ingênuos e infan-tilizados do momento tentam explicar o presente da imensa e brava América do Sul. Em geral, falam em uma "onda vermelha" progressista que, depois de séculos de governo das elites locais, teria inundado esta parte do nosso imenso continente com dirigentes oriundos das classes populares, prontos para fazer governos "do povo, para o povo". Rafael Correa, Evo Morales, Tabaré Vázquez, Michele Bachelet, Hugo Chávez, Fernando Lugo e o próprio Luiz Inácio. Os legítimos líderes destes povos tão castigados pela rapina estrangeira! Nunca houve embuste maior nos mares do sul.
Estas figuras, do cocaleiro ao operário, aparentemente aclamadas pelas massas como seus legítimos líderes revolucionários, na verdade instrumentalizaram todo este apelo de suas biografias e foram alçadas ao comando do entreguismo sul-americano por meio de processos eleitorais fajutos, ilegítimos. Agora, no biênio 2009-2010, muitos deles tentarão perpetuar seus grupos no poder em mais uma rodada de eleições picaretas, onde abundará a retórica de compromisso com as massas e os gritos anti-USA. No fundo, e na prática, todos eles representam forças contra-revolucionárias, que trabalham pelo esvaziamento dos interesses dos trabalhadores.
Neste ano de 2009, estão agen-dadas votações para presidente da República no Equador, na Bolívia, no Uruguai e no Chile. Neste momento, Correa, Morales, Vázquez e Bachelet, respectivamente, têm basicamente duas coisas em comum. Em primeiro lugar, chefiam administrações antipopulares e demagógicas, oscilando entre o "socialismo" aburguesado da presidente do Chile e do presidente do Uruguai até o oportunismo bravateiro do presidente do Equador — passando pela negociação com o imperialismo, travestida de resistência do presidente boliviano. Em segundo, tentarão, nas eleições que se aproximam, perpetuar no poder seus grupelhos de elites partidárias ditas "de esquerda" e as frações da burguesia que representam.
Em 2010, Colômbia e Brasil
A Colômbia representa um contraponto à tendência erroneamente chamada de "onda vermelha"? Na verdade, não. Apenas aparentemente. O gerentão Álvaro Uribe, executivo-modelo dos interesses imperialistas na América do Sul, costuma ser referido por seus chefes ianques como um contraponto ao que chamam de "golpismo" do presidente vene-zuelano Hugo Chávez e à verborragia de "esquerdistas" de meia-tigela, como os próprios Morales e Correa. No entanto, a partir do episódio que marcou o seu principal momento enquanto cabeça da administração bipartida entre Bogotá e Washington, ou seja, a libertação da ex-sequestrada das Farc Ingrid Betancourt, Uribe passou a articular com o USA e com parte da oligarquia colombiana o golpe do terceiro mandato presidencial consecutivo, que seria disputado nas eleições presidenciais de 2010.
É um tipo de artimanha que já foi levada a cabo, por exemplo, no Brasil, quando Fernando Henri-que Cardoso mandou subornar todo o Congresso Nacional para que a emenda constitucional da reeleição fosse aprovada. Isto prova que a "democracia para exportação" que o USA tenta empurrar goela abaixo seja aqui, seja acolá (no Oriente Médio), não passa de um sistema corrupto, submisso, cuja lengalenga libertária termina mesmo é em serviçais diligentes, em instituições que só funcionam para atender às demandas do neocolonialismo, e em cartas constitucionais que são emendadas segundo as urgências do poder econômico internacional.
O golpe do terceiro mandato, aliás, é algo que foi considerado pela gerência petista aqui no Brasil semicolonial gerenciado por Luiz Inácio, onde o bloco da farsa eleitoral também voltará a desfilar em 2010. É uma possibilidade que talvez ainda não tenha sido descartada entre a elite petista mais desavergonhada — incluindo o próprio presidente desta República das Bananas — , mas, no entanto, tudo indica que é mesmo Dilma Roussef que representará o PT em mais uma disputa com o PSDB pelo alto butim que é pago a quem faz do Brasil um paraíso para o capital financeiro e monopolista, e do povo brasileiro uma multidão sem direitos, sem garantias, e com salários nivelados por baixo.
Qual é o desafio?
Outros países sul-americanos só serão submetidos às suas ver-sões destes processos eleitorais viciados nos anos seguintes. O Pe- ru, do genocida Alan García — candidato a ser um novo Uribe —, e a Argenti-na, do casal Kirchner, terão eleições em 2011. Em 2012, será a vez da Vene-zuela do
demagogo Chávez e de seu projeto de "reeleição ilimitada". No Paraguai, só em 2013. O bispo Fernando Lugo tem ainda cinco anos de governo pela frente.
Todos estes dirigentes de hoje, sejam aqueles identificados com a esquerda histórica da América do Sul (ligada aos movimentos indígenas e operários), sejam aqueles com currículos impecáveis de excelência em serviços prestados ao imperialismo, comandam Estados burguês-latifundiários ora acossados pela atual crise capitalista. Sua resposta à crise vem sendo dada em uníssono: atender às reivindicações do patronato em apuros, penalizando as massas sul-americanas em nome da salvação da grande burguesia daqui e de fora.
Nos últimos meses — todos os dias, a todo momento — tentam nos convencer de que os maiores desafios do continente nos próximos dois anos são "ter acesso ao crédito", "manter as exportações", "incentivar o consumo" e que tais. Ora, o maior desafio que os povos sul-americanos têm pela frente é o de não aceitar a realidade da crise capitalista, e do próprio capitalismo burocrático gerenciado por esta corja, como um destino irremediável. É preciso rejeitar este legado de conformismo e desesperança que as classes dominantes tentam nos empurrar goela abaixo. Para tanto, é papel do trabalhador consciente denunciar o que representam estes dirigentes e partidos contra-revolucionários autodenominados trabalhadores socialistas e comunistas, e mostrar a quem ainda não sabe que o que agora se avizinha não passa de mais uma rodada de farsas eleitorais, cujo objetivo final é dissimular democracias de fachada.