Juliana Manhães no espetáculo Umbigar, inspirado em cinco danças de ‘umbigada’
Trabalhando a quase 20 anos com danças populares brasileiras, a atriz e dançarina maranhense Juliana Manhães, leva sua cultura regional para o resto do país. Participando do grupo As Três Marias — Núcleo de Folguedos Brasileiros, em seus dois espetáculos solo, na oficina de brincantes festeiros, ou como doutoranda sobre as danças de umbigada, Juliana trabalha o brincante como um importante ator e dançarino popular dentro da riquíssima cultura brasileira.
— Sou de São Luiz do Maranhão, berço de muitas manifestações culturais, e ainda bem pequena participava das festas populares com meus pais. Tenho uma lembrança muito forte de ver o bumba meu boi, dançar com a burrinha, ter medo do cazumba, que é um personagem mascarado — conta Juliana Manhães.
— Minha mãe frequentava bastante as rodas de tambor de crioula, uma manifestação afro-brasileira que só tem lá no Maranhão. Eu escutava esses tambores e gostava de dançar, mas nunca imaginei que um dia isso se transformaria na matéria-prima do meu trabalho profissional — continua.
— Comecei a me aproximar ainda mais da minha cultura maranhense depois que cresci e me mudei para o Rio de Janeiro, para cursar faculdade de artes cênicas. Rapidamente conheci uma forte comunidade do Maranhão na cidade, e através do grupo As Três Marias comecei a fazer brincadeiras nas ruas, apresentações, oficinas e festas — diz.
‘As Três Marias — Núcleo de Folguedos Brasileiros’, trabalha com o ritmo do cacuriá e do tambor de crioula.
— Este ano estamos completando dez anos de existência, e além das apresentações e brincadeiras, realizamos duas festas anuais ligadas as tradições maranhenses, reunindo várias comunidades, como: ‘Boi brilho de Lucas’, o ‘Mariocas’. Fazemos também intercâmbios com mestres lá do Maranhão. Vou todos os anos para a minha terra, em várias épocas, visitar alguns deles, que chamo de minha família — declara.
— Há onze anos participo do bumba meu boi do seu Apolônio Melônio, o ‘Boi da floresta’, dançando vestida de cazumba. E meu interesse foi até além de ser brincante, já que fiz meu mestrado sobre a performance do cazumba no bumba meu boi do Maranhão, guiada pelo meu mestre cazumba, seu Abel — continua.
Além do grupo, Juliana tem dois espetáculos solo que apresenta por várias partes do país.
— O primeiro é o ‘Divino emaranhado’, onde conto 3 histórias, faço vários personagens, canto, danço e toco. Começo na perna de pau, cantando e contando histórias. Conto, por exemplo, sobre dona Ana e seu Laércio, de Santarém, PA, que me ensinaram a fazer a farinha d’água da mandioca — fala.
— O outro é o ‘Umbigar’, realizado através do prêmio Claus Viana de dança e montagem. Foi inspirado em cinco danças de umbigada: o tambor de crioula, no Maranhão, o lundu, no Pará, o Coco , que agrega várias cidades do nordeste, o jongo, daqui do sudeste, e o samba de roda, do recôncavo baiano. Canto, danço, represento, toco pandeiro em ritmo do samba, trabalhando a tradição, mas usando um olhar mais contemporâneo — conta.
Levando a umbigada para a universidade
Juliana tem visitado muitas cidades para se aprofundar no seu trabalho de palco, oficinas, e sua tese de doutorado sobre as danças de umbigada.
— Nossas manifestações e danças brasileiras fazem parte de influências que vem desde os índios, com as rodas e o ritmo repetitivo, do africano, com os tambores, a questão ritualística, a brincadeira, o improviso, etc, e ainda tem os portugueses. Em cada estado brasileiro podemos constatar que ela criou uma uma gestualidade diferente — diz.
— A partir do lundu foram se criando várias ramificações de danças: o samba de roda, o tambor de crioula, o jongo, o coco. Os escravos em seu tempo de folga, e daí vem o chamado folguedo, se reuniam para tocar, cantar, lembrar suas memórias. Creio que disso surgiram muitos ritmos, nos quilombos e senzalas — comenta.
— E o brincante surgiu a partir dessas misturas, dessas ocasiões, manifestações do povo mesmo. E ele tem me levado ao meu trabalho profissional de forma geral, inclusive o acadêmico, por observar sua importância dentro do universo do ator e dançarino — expõe.
Dentro desse universo Juliana apresenta em várias cidades a oficina ‘Roda dos brincantes festeiros’.
— Sozinha ou com As Três Marias, trago 17 danças do Brasil, a maioria do nordeste, agregando-as as saias de chita, aos guarda-chuvas pretos, para que as pessoas possam entender o que é ser um brincante — explica.
— A ideia é mostrar o que vem a ser dançar com entusiasmo, buscando o seu estilo sem se preocupar muito em acertar, em ter um passo específico, mas, pensando na questão da pulsação e da gestualidade brasileira. Gosto de fazer em meus espetáculos e oficinas um pouco do que o brincante faz: ele dança, canta, toca e atua, tudo ao mesmo tempo — define.
No momento ela está em uma viagem de pesquisa de campo na Africa, onde ficará até janeiro.
— Estou buscando na fonte essas danças de umbigada, os tambores, as semelhanças e diferenças com o que temos hoje no Brasil. Quero saber como estão hoje essas danças na Africa, entendê-las melhor e levar um pouco disso tudo para a minha pesquisa no Brasil — finaliza Juliana Manhães.
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