A edição do dia 6 de junho da revista estadunidense New Yorker chegou às mãos dos seus leitores com uma reportagem que irritou o alto escalão da administração Obama. A reportagem, intitulada “O Irã e a bomba”, mostra como as “evidências” que o imperialismo ianque vive citando sobre o suposto desenvolvimento secreto de armas nucleares pelo Irã são, no mínimo, incertas. O texto foi escrito por Seymour Hersh, premiado jornalista que tem no currículo, entre outras denúncias, as humilhações que os soldados ianques impunham aos presos políticos do imperialismo na cadeia de Abu Ghraib, no Iraque, e a presença massiva de agentes do sionismo realizando operações secretas no Irã, no Iraque e na Síria.
O “furo” de reportagem de Seymour Hersh foi a divulgação de informações contidas na mais recente edição do relatório National Intelligence Estimates (NIEs), produzido pelo National Intelligence Council (Conselho Nacional de Informações), com data de publicação de fevereiro deste ano. Segundo Hersh, este relatório diz que, em matéria de progresso iraniano em termos de tecnologia nuclear, não há qualquer prova conclusiva de que o Irã tenha feito algum esforço para construir uma bomba atômica desde 2003.
A data específica de 2003 tem uma razão. Naquele ano, foi produzido o último relatório NIEs antes de fevereiro desse ano. Naquela feita, o relatório que irritara o então chefe ianque, Bush, dizia que o Irã havia suspendido o seu programa de desenvolvimento de armas nucleares após a criminosa invasão do Iraque, seu inimigo histórico, pelo USA. Essas informações vieram a público apenas dois meses depois de Bush ter dito que o Irã estava de posse de armas nucleares suficientes para desencadear a terceira guerra mundial.
É mais uma prova do estratagema ianque de deixar o álibi da ameça nuclear sempre à mão para o caso de o USA decidir atacar o Irã neste cenário atual de corrida imperialista e repartilha do mundo – como se os ianques tivessem autoridade ou moral para impedir qualquer nação de ter as armas que julga necessárias para se defender.
Do urânio enriquecido ao urânio empobrecido
Enquanto o USA segue exercitando sua demagogia nuclear mundo afora, não param de surgir informações sobre o fato central acerca desse tema: vem dos próprios ianques as maiores ameaças referentes a armas de destruição em massa e contaminação radioativa.
Uma dessas informações é a de que nas primeiras 24 horas do ataque contra a Líbia os aviões de guerra B-2 ianques lançaram 45 bombas contendo ogivas de urânio empobrecido, a exemplo dos mísseis Cruise lançados contra o território líbio desde aviões e navios britânicos e franceses.
Militarmente, o urânio empobrecido tem grande capacidade para atravessar veículos blindados e construções. Fora isso, depois que uma arma com urânio empobrecido atravessa uma superfície sólida e explode, ela emana uma nuvem de vapor radioativo venenoso. Essa nuvem permanece no ar e, dependendo do vento, pode viajar grandes distâncias. As partículas de óxido de urânio, facilmente inaláveis, podem ficar nos pulmões e em outros órgãos vitais ao longo de anos, podendo causar toda sorte de doenças graves. Especialistas dizem que o urânio empobrecido se encaixa perfeitamente na categoria de “arma suja”.
Outra informação importante envolvendo a demagogia nuclear ianque é que o USA ajudou secretamente a França a desenvolver um arsenal nuclear na década de 1970 com a intenção de dividir o imperialismo europeu, enfraquecendo-o. Richard Nixon e Henry Kissinger queriam promover uma disputa entre França e Grã-Bretanha com o objetivo de minar a força de uma futura União Europeia.
Isso só prova que a retórica ianque sobre armas nucleares não obedece a outra lógica senão a lógica da geopolítica, a política do imperialismo, aquela que abarca as disputas, alianças, arranjos, tratos e conchavos envolvendo os processos de partilha e repartilha do mundo entre os grandes monopólios.