Eles chegaram, olharam, gostaram muito. Pensam que é deles. Refiro-me a esta turba de gringos, chefetes de transnacionais que infestam a cidade de Macaé, afrontam o povo, o verdadeiro dono das coisas e das terras macaenses.
De dentro de suas mansões que mais parecem palácios, cheios de seguranças, muros eletrificados, esses galos de granja fanhos e de língua enrolada (o “idioma dos gatos”, como descrevia a saudosa Jurema Finamour) lançam olhares de nojo para quem passa em frente às suas casas. São figuras frágeis que para se manter em pé necessitam escorar-se nas bordas do capitalismo que vive sua agonia final. Assim sustentam suas poses treinadas nos espelhos de uma consciência milenarmente corrupta, colonial, alimentada na exploração do homem pelo homem e nas guerras de agressão aos povos.
Com suas drogas e seus automóveis luxuosos que cheiram a porão de navio viking, podem comprar pessoas e empresas nacionais. Podem e conseguem porque os destinos de nosso país, por enquanto, permanecem nas mãos dos gerentes coloniais, assalariados de luxo do império, infelizes e submissos que comem o que cai das mesas dos magnatas e se iludem com tronos imaginários edificados em areias movediças.
II
Macaé nunca incorporou essa gentalha à população nativa, esses paspalhos homiziados em seus condomínios luxuosos. A cidade assimilou os petroleiros de hoje, os operários da construção civil e a gente trabalhadora em geral, como no passado fez com os ferroviários.
Gringos assim já estiveram por aqui. Vieram e se foram. Deixaram rastros de destruição, prostituição, drogas e desemprego. Os de hoje são muito piores. Conseguem ser mais degenerados e detestam – como lá onde eles se procriam, no USA – os latinos. Olham para os nativos como seres inferiores à sua “raça”. A maioria destes senhores que dá ordem ao poder colonizado é ianque. Os invasores aportaram em Macaé com suas firmas presenteadas em troca dos serviços prestados em golpes de Estado, em guerras de agressão e genocídio nas quais, com muito agrado, desempenharam papéis protagônicos.
Costuma-se contar que, a serviço no Vietnã, esses mesmos ianques matavam crianças vietnamitas jogando-as para o alto e aparando-as nas suas frias baionetas… Assassinos desse tipo conseguem dormir porque desde abril de 1964 não há mais governo brasileiro, capaz de ir ao encalço desses criminosos.
Muitos, até agora, são chamados de “capitão tal” ou por outras patentes que ganharam nos massacres perpetrados contra o povo trabalhador em várias partes do mundo.
Seus chefes costumam compensar com bons pagamentos esses heróis da covardia, das invasões, da rapina e dos massacres em terras alheias. Entregam aos seus subalternos, como prêmio, algumas empresas em países cujos governos se dobram a eles. A família de Bush Maluco, quando ouviu falar de petróleo em Macaé, montou uma “empresa” aqui, que tem o nome de Halliburton. Seu vice atual, Dick Cheney, figurou como diretor geral da Halliburton que, na realidade, continua pertencendo à família de Bush. Agora, surge uma denúncia no USA de que desviaram 2,5 bilhões de dólares da guerra no Iraque para essa mesma empresa.
São genocidas e ladrões duas vezes. Afora quando roubam deles mesmos. De qualquer forma, a fabulosa quantia subtraída ao Tesouro dos piratas ianques, se não é aplicada criminosamente contra os iraquianos passa a ser criminosamente aplicada contra os brasileiros no Rio de Janeiro. E tem gente que pensa que nós não temos nada a ver com a guerra no Iraque ou que os assassinos imperialistas ainda não nos atacaram.
O Brasil vive na mira dessa gente e, por isso, Macaé – como a cidade que tem a maior reserva de petróleo do país – é o alvo de suas invasões.
O dinheiro fácil que aparenta vir da extração do petróleo, esconde fabulosos negócios, desde aqueles pertencentes aos grandes criminosos de guerra aos cruéis facínoras de segundo escalão, velhos traficantes de drogas e mulheres, a exemplo do que a própria Polícia Federal desvendou no interior de São Paulo com a prisão de um bandido de procedência libanesa, estourando de intoxicação, e que se intitulava “homem do Petróleo”. Mas a essa mesma polícia, por acaso, mandaram investigar a vida pregressa dos ianques que vivem nas mansões macaenses, como reis e imperadores? Costuma fiscalizar, com ordens judiciais, o conteúdo dos milhares de containers de grande risco, portadores de “novas bactérias” e de ilícitos penais que chegam ao município?
III
Lá, no USA, eles prendem tudo que é latino, devassam a sua vida, jogam para cima colchão, bolsas, rasgam mochilas, para depois permitirem que o imigrado transite naquele território… na condição de escravo, naturalmente. E aqui, aonde os pescadores são os donos do mar, e aonde os velhos ferroviários, petroleiros e seus descendentes devem ser os verdadeiros senhores?
Não acredito, embora já tenha certeza que o poder central é gerente – nada mais que um preposto do gringo – que toda a gente brasileira esteja acocorada ao USA. Entre os privilegiados, grandes brasileiros e democratas precisam fazer valer seus sentimentos patrióticos e não apenas as massas trabalhadoras. Esperar por quem, por mais o quê? Macaé, sua “elite” e muitos de seus “governantes”, são cúmplices desses invasores.
Macaé está muito maior do que a gente imaginava ficar. São milhares e milhares de brasileiros, da mesma forma, vilmente explorados. Definitivamente, não se pode permitir que nossas vidas permaneçam nas mãos dessa lumpem-burguesia, que de tão porca precisa banhar-se em perfume francês para ter o seu cheiro suportável.
O povo, os pescadores, os camponeses, os ferroviários, petroleiros e os estudantes, são os senhores. Não ao encastelamento e às cercas eletrificadas. Sim à liberdade (a inteligência edificada da necessidade, nas formas da ação das massas) e à igualdade dos que vivem pelas suas próprias mãos, que juntas constroem os instrumentos destinados a romper com o modo de produção mais decadente que a humanidade já conheceu. E este é o momento para dizer não e esses invasores, antes que um amanhã seja tarde…
O sol ainda reina no entardecer da cidade e alguns jovens petroleiros, transportados por vans, uns em suas bicicletas e outros a pé, se dirigem ao embarque para as plataformas no mar.
Enormes perigos, vagalhões que ameaçam varrer terraços gigantes de um lado ao outro, tudo faz lembrar o olhar de desprezo que o gringo lança sobre o dia a dia do nosso povo trabalhador macaense e aguça a contradição entre a mesa do explorado e a vida fácil do bandido rico cercada de recursos cuja origem não se explica.
Como dizia meu velho avô Mathias Coutinho de Lacerda, macaense, dono da Fazenda do Airys, nos anos de 1915, quando dele se aproximava algum “visitante”; um explorador do trabalho alheio ou rico assassino querendo fazer negócio:
— Ponha-se para fora! A casa aqui tem dono!