A desclassificada declaração do (ex) presidente FHC

A desclassificada declaração do (ex) presidente FHC

Ligamos a televisão e eis que vemos e ouvimos o presidente FHC, diretamente de Portugal, dizendo que no Brasil não existe fome, absolutamente, e sim, subalimentação. E, logo depois, fala em subnutrição (ipsis verbis, nov. de 2002).
Em princípio, quisemos até entender o porquê de tão esdrúxula declaração. Seria ignorância, desconhecimento de causa ou desleixo? Mas, então, me lembrei que se tratava, ainda, do presidente do Brasil que continuava usurpando do título para receber outras condecorações, inclusive do “amigo”… descobridor em 1500.

Neste caso, não havia alternativa, — era puro cinismo, mesmo. Tornava-se bastante contraditório estar recebendo medalhas com toda pompa, exatamente porque teria governado com seriedade, e ter que reconhecer, naquele momento, a miséria (que anda de mão dada com a fome) existente no país que o próprio “desnacionalizou” (privatizou), durante oito anos. O que é suficiente para comprovar a presença dos famintos brasileiros. Sim, porque tudo isto, nada mais é do que uma parcela da perda da nossa soberania, sem a qual não podemos traçar nosso destino. E logo, passamos à fome, à subnutrição e a subalimentação.

Depois de oito anos de governo, o “distinto” presidente acredita que há diferença entre estas três expressões, embora todas elas signifiquem falta de comer. A não ser que o “presidente” considere que comer nas pequenas, médias e grandes lixeiras, seja subalimentação — aliás, o que ele presenciou o tempo inteiro. Será que é isto? Como sociólogo, é capaz de ter razão… Sabe-se lá!

Costumo conceituar a fome como a expressão biológica da doença social. É um sinal psicossomático, avisando que o organismo está precisando de alimento (remédio), de substâncias necessárias para que ocorram transformações (reações) bioquímicas, que serão incorporadas ao sistema biológico (humano). Quando se fala em alimento (comer), não preciso patentear o óbvio. Ninguém, de sã consciência, imagina que não seja o necessário e suficiente para que se possa viver. Ter saúde. Ter forças para lutar. Se não, podemos comer capim, barro (o que acontece com as crianças nordestinas, a maioria cheia de vermes que lhe roubaram todo o ferro — Fe), carne humana cancerosa. Isto já acontece com o lixo hospitalar.

A Fome

“Eu tava num desespero danado, sem comer nada. De repente, peguei um rato. Não tive dúvida. Despelei e meti na grelha. Quando ficou bem assadinho comi com satisfação” — conta Aloísio Severino da Silva, 47 anos, morador da Favela do Jacarezinho em Recife, Pernambuco.

“Aqui não sobra nem cobra nem sapo” — diz Solange Valuiz da Silva, 30 anos, no lixão de Peixinhos, em Olinda. Nos raros momentos em que consegue comer comida de verdade ela dá gargalhadas.

Leonildes Cruz Soares, 65 anos, “teve mais sorte”: encontrou um peito humano e comeu com cuscuz (abril de 1994). Este fato nos foi confirmado por fax da TV Jornal do Commercio, do Recife, pela chefe de redação Maria Anunciada”. (ver Por trás da Saúde — p. 26*)

Cidadania (?)

“Lixão hospitalar — Local onde é depositado o lixo dos hospitais de Olinda, Pernambuco. Parte da população faminta da região procura carne humana no depósito de lixo para alimentar-se. O pedaço mais disputado pelas mulheres é o peito que serve para ‘um bom cozido’. Dona Maria, diarista no lixão, confessa saber que o peito é canceroso (peça cirúrgica)”. (Telejornal Brasil, SBT, 1994 )

A menos que o presidente queira considerar que tudo isto é subalimentação e subnutrição e, conseqüentemente, não é fome, na concepção de sua mente doentia ou na moral gerada no cerne de seu cérebro carcomido pela visão permanente da miséria de sessenta milhões de brasileiros, eufemisticamente classificados de “abaixo da linha de pobreza”. Porque assim consta da cartilha dos “deveres de casa” distribuídos à quase totalidade dos políticos, nossos representantes que advogam, muito bem, os interesses estrangeiros, com os quais se locupletam por inúmeros mandatos extorquidos dos analfabetos, aos quais outorgaram, democraticamente, o direito do voto, tão fácil de ser trocado por telhas, tijolos, cimento, cesta “básica”, vale transporte, vale comida, vale botijão de gás, bolsa escola (R$15,00), restaurante popular (R$1,00), etc. Para a miséria, as esmolas.

Lembremos que a alimentação é a vacina de todos os males (doenças). Gunnar Myrdal (filósofo e economista sueco) dizia: “Ficaram doentes porque eram pobres; como adoeceram tornaram-se mais pobres (não puderam trabalhar, quando tinham emprego, coisa rara, no Brasil); e assim prossegue o ritmo da doença e da morte com a pobreza de entremeio”. Seria poético, se não fosse trágico. E o senhor presidente deixa doze milhões de desempregados. Isto, na mísera estatística da “mídia”, quase inteiramente controlada pelos governantes. Mais sessenta milhões de analfabetos do nosso idioma e outros vinte milhões que falam mal e parcamente (fácil de serem manipulados eleitoralmente). Somos o primeiro em lepra do mundo (Campeão Mundial). Em 1986 iam dormir com fome (ou “subalimentados” nas lixeiras), senhor ex-presidente, vinte milhões de crianças até sete anos de idade. Hoje são trinta milhões.

“A mortalidade infantil, aqui, é histórica, basta lembrar que em Maceió (1940), era de 443 por mil nascimentos (Osvaldo Lopes da Costa, — BioEstatística nas Capitais Brasileiras) e em 1994, Alagoas mostrava que a mortalidade infantil oscilava entre 337 e 495 óbitos por mil nascimentos, até um ano de idade. Querem mais? E adiantaria? Os políticos brasileiros não estão nem aí para esses fatos. No Brasil, as coisas acontecem de qualquer maneira, permitidas pelos próprios políticos, e depois, se alguém reclamar, eles instalam uma “comissão” para investigar. São umas gracinhas…!” (Não há Saúde sem Soberania )

Patrimônio nacional utilizado como numa monarquia absoluta

E há quem pense: o homem está saindo. Deixa para lá. Sheakespeare já dizia em Macbeth: “O que não tem remédio, não adianta olhar”. Mas não é bem assim. FHC, não por acaso, foi escolhido pelos Estados Unidos para tomar assento na ONU, quem sabe, no Conselho e continuar nos “representando”… Ora, meu Deus, este cara, quando nos “governou”, não sabia que nós passávamos fome. Calcule depois que mudar para os paises de clima de montanha. Afinal, dessa vez, ele não pode nem se queixar que fomos nós que o escolhemos, e sim, o presidente norte-americano. Por isso, é certo que irá adotar para facilidade de representação o velho slogan: “O que é bom para os Estados Unidos, é bom para o Brasil”. Aliás, este moço já vinha doando o país, como se fosse dele. Igual à monarquia absoluta onde o soberano, sem dar satisfação a ninguém, vendia (agora ele doa, através da chamada banda podre), os bens do país e até pedaços do território nacional: três quartos da Amazônia, e (entre os últimos escândalos) Alcântara. E eu sou maranhense.

Vejamos o que diz Celso Brant em Projeto Tiradentes, (2a edição — p.92, Editora Gazeta de Minas, 1996): “Na verdade, o governo vai vender a Vale do Rio Doce, uma das mais ricas, lucrativas e bem organizadas empresas do mundo, para pagar a dívida do Banco Nacional, uma empresa particular mal-administrada e cuja falência foi evitada por uma medida provisória editada na calada da noite. Assinada por quem? Pelo senhor Fernando Henrique Cardoso, pai de Paulo Henrique Cardoso, marido de Ana Lúcia, filha de Magalhães Pinto, dono do Banco Nacional. Essa medida tornou possível a venda da parte boa do Banco Nacional para o Unibanco. A parte podre—de seis bilhões de dólares — ficou para o governo pagar, com a venda da Vale do Rio Doce. O senhor Fernando Henrique Cardoso utiliza o patrimônio nacional como se estivéssemos numa monarquia absoluta em que o soberano, sem dar satisfação a ninguém, vendia os bens do país, e até pedaços do território nacional para solucionar os problemas da realeza”.

E por falar em Alcântara, senhor presidente, por coincidência, uma pesquisa feita pela Fundação Getúlio Vargas e publicada pelo jornal O Dia, em 10-07-2001, demonstra que o Maranhão apresenta o maior índice de “indigência” (aspas nossas) do país. Famintos ou, como queira, suba-limentados: sessenta e quatro por cento. Na verdade, deve alcançar setenta ou mais por cento. Está aí a razão por que ninguém grita contra tanto terrorismo ofensivo, tramado pela própria “democracia” do Executivo, Legislativo e Judiciário brasileiro.

Já que ninguém diz nada, a não ser A Nova Democracia, Alcântara está toda ocupada, militarmente, pelos Estados Unidos, graças ao (ex) presidente FHC, que não explica isto, nem outras coisas mais, nos seus programas de rádio e nenhum radialista pergunta sobre o assunto. E a governadora, quem sabe?, se não topou tudo pela “governabilidade” e a esperança de chegar à Presidência da República?

Soberania — o direito de conduzir o nosso destino (repito) — é a única arma capaz de obstaculizar a fome, permitindo a existência do bem-gerado, bem-nascido e bem-criado (educado e instruído), desestabilizando, os fatores resultantes da subnutrição, fundamentalmente, as doenças, permitindo que a saúde se instale.

Saúde é o bem-estar físico, mental, social e econômico do indivíduo. O social, indiscutivelmente, abrange: educação, habitação, trabalho (com salário digno) e alimentação, fechando o ciclo vital e o círculo sadio com a soberania. Um depende do outro.

Ninguém é cidadão quando está sem trabalho, sem ter onde morar, doente, sem ter o que comer (esperando esmola do governo).

A liberdade permitida, com a qual nós chegamos até mesmo, a insultar o presidente e seus asseclas, é uma dádiva maquiavélica, que serve de entretenimento a todos nós e que em absoluto os atinge. Enquanto isso, eles dizem: “Podem espernear. Nós os acalmaremos com os vales-esmolas. Nós lhe damos a liberdade limitada, mas, a independência não!” É a desmoralização do que chamam “povo” que, sem saúde e desorientado não pode dirigir o próprio destino, estabelecendo a Soberania da Nação (Brasil).

Perderam a compostura e nós, a paciência

Se não pudéssemos dizer o que pensamos, teríamos, naturalmente, que buscar alternativas bem piores para eles. Tal como dizia Jacques Rousseau: “Se a força os mantêm, só a força os derruba”. Não interessa se o Regime de Força é disfarçado de democracia. É de se perguntar: que democracia é esta? E há que responder: é uma falsa democracia. Porque não há democracia sem saúde, nem saúde sem alimentação, nem mesmo com a subalimentação ou subnutrição, no conceito do ex-presidente FHC, que, de qualquer maneira, já vimos que significa fome.

Tanto não há democracia, que este mesmo presidente governou todo o tempo com medidas provisórias (e foram centenas, editadas e reeditadas). Todas do interesse estrangeiro que coincide, também, com os seus, passando despercebidas pelo Congresso “nacional” (Câmara e Senado), balcão de negociatas vergonhosas (como se soubessem o que é isso), chegando-se a perder a noção da validade de sua existência.

Perderam a compostura e nós a paciência, esgotada que foi pelas doenças, violência, miséria e fome, sofridas pela maioria e presenciadas por outra parte que se agarra, desesperadamente, nas oportunidades cada vez menores, tentando não se deixar arrastar pela desgraça que assola o país. Enquanto a saúde é colonial, as idéias são coloniais e o Brasil não pertence aos brasileiros.

E o pior terrorismo e tortura, assim, acontece, que é receber esmolas e, acomodado, chegar ao fim bem antes da morte e se arrastar sem esperança até o último momento.

Nos próprios documentos do PNDU — Programa para Desenvolvimento, elaborado pelas Nações Unidas, se reconhece que existe conhecimento científico, tecnologia e capital para libertar o mundo da fome em menos de uma geração. Mas, Jiddu Krishnamurti já dizia isso em O Descobrimento do Amor. Falta, segundo a ONU, a famigerada vontade política. E nós acrescentamos: das elites no poder, da própria ONU e de tantas outras “organizações mundiais” que só falam, falam e falam, mas sem nenhuma “vontade” de resolver. A da Saúde (OMS), em nada é diferente. Participa, também, do processo kafkiano, com tendência masoquista, apenas informando que as desgraças (doenças) estão aumentando.

Um exemplo dentre milhares: Em 1988 a OPAS (Organização Pan-Americana de Saúde) informava que o Brasil era campeão do Continente Americano em lepra (na interpretação light: hanseníase) e o segundo do Mundo. Em 1999 (onze anos depois), aparece novo anúncio, dessa vez da Organização Mundial da Saúde: O Brasil é campeão do mundo em lepra. Venceu a Índia, que tem 980 milhões de habitantes. Era maio de 99 e esta notícia deve ter servido de consolo ao fato de o Brasil ter ficado em 4o lugar nos Jogos Pan-Americanos, acontecimento bastante divulgado pela televisão. Quanto à lepra, muitos da classe médica, até hoje não sabem disso. Quanto mais os milhões que têm que lutar pela sobrevivência, conseguindo nas lixeiras as calorias da subalimentação do presidente.

E um aviso a quem chegar ao Primeiro Mundo: não falem em hanseníase. Eles não sabem do que se trata. Lá, eles só conhecem o nome lepra, mas não têm a doença. A inovação é brasileira, ou melhor, dos políticos, que até já aprovaram uma lei (1983) proibindo que seja pronunciado o termo lepra. São umas gracinhas! E por que não dizer, calhordas!!!

Será que FHC havia se esquecido de que não mais subvencionava frangos, os principais “cabos-eleitorais” da sua reeleição? Sem contar com o suborno do Congresso. Naquela época, eu mesmo cheguei a comprar frango (galeto) “pronto”, assado por R$1,80. As máquinas, mesmo proliferando, principalmente, nos subúrbios, não conseguiam dar conta da demanda popular. Após ter se mantido no poder, o preço do “galináceo” começou a subir, e em 26-11-2002 chegava a R$7,50. Atualmente, os frangos estão morrendo de fome, ou sendo abatidos antes da hora, uma vez que não há alimento para eles, já que a ração está sendo exportada.

Ou está pensando que ainda resta alguma coisa das “cestas básicas”, distribuídas pela primeira dama que administrava o maior conluio com a injustiça social e a consagração da incompetência de um governo — a Comunidade Solidária? Vi e ouvi na TV dona Ruth dizendo: “Nós distribuímos, entre 94 e 98, três milhões de cestas básicas. Se o presidente (marido) se reeleger, já temos um projeto de distribuição de 30 milhões de cestas”. Grande projeto. A miséria iria aumentar dez vezes.

Nisso ela acertou, antes das “organizações mundiais”.

Fala em português…

Certa vez, trabalhando em um Centro de Saúde na Praia de Ramos (ainda não tinha o “piscinão”, embora a tuberculose continue aumentando), observei que uma doente de tuberculose começou a não responder ao tratamento. Conversamos, e ela me disse: “Doutor, eu não tenho o que comer. Recebo uma cesta básica, mas o arroz está cheio de “bicho” e o feijão, de tão duro, acabou com o meu gás. A farinha, também, está com gorgulho”. Mandei que ela trouxesse para eu ver. Resolvi mostrar aos colegas de trabalho. Fui até a sala da diretoria e despejei sobre a mesa. Foi uma atração — bicho para todo lado. Depois, fiquei sabendo que estes cereais estavam sendo aproveitados dos silos abarrotados, desde o tempo do Collor, que por algum motivo não tinham sido exportados, nem vendidos, à época, no mercado interno. Talvez, porque as madames do Primeiro Mundo só comam coisas selecionadas: maçãs sem pontos pretos, abacaxis com o miolo amarelo. Enfim, tudo que esteja viçoso. O resto fica para nós e por preço exorbitante, que terminamos comendo da lixeira do Primeiro Mundo.

Mas, senhor ex-presidente, como é que o sociólogo não sabe que no Brasil existem 30 milhões de pobres e 40 milhões na miséria, com fome — a sua subalimentação? Afinal, o escritor já deu “aula” na Sorbonne. O que, aliás, não representa nada de mais, já que, segundo o cientista francês Luc Montagnier, descobridor do LAV — vírus associado à leucemia-HIV — que estagiou na Sorbonne, os cursos lá concebidos são péssimos (ipsis líteris, Des virus e des Hommes, vírus e homens). O que demonstra a desorganização daquela que “fez a fama e deitou na cama” até hoje. Por isso mesmo, deve ter convidado FHC para dar uma “aulinha” aos brasileiros que, reconhecendo o embaraço e o nervosismo do “professor”, terminaram dizendo: “Ó Fernando, deixa de ser besta. Fala em português, que só nós estamos aqui!”

A Fome é uma vergonha para qualquer elite governante. É um flagelo. Um genocídio. Impedir as pessoas de viverem o maior tempo de vida é coisa de bandido (literalmente), que não se justifica, mesmo quando a elite, cinicamente, tenta explicar dizendo que não depende dela, mas das “globalizações”, dos “neoliberalismos”, dos empréstimos e dos agiotas internacionais (FMI). Só não dizem que eles estão mancomunados e são de alta periculosidade.

Brasileiros e estrangeiros de vergonha, estão cansados de esclarecer o que é fome, mostrando que depende da tal vontade política. Entre estes: Melhem Adas ( A Fome — Crime ou Escândalo?); Susan George (Com a outra Metade da Morte —O Mercado da Fome); Nilda Teves Ferreira (Cidadania —Uma Questão para a Educação); Josué de Castro (Geografia da Fome); Edmundo Santos (A Espoliação continua). Continua mesmo. Facilitada pelos bandidos de Brasília.

Mas, tenhamos em mente que estes intelectuais, e muitos outros, como Jacques Généreux (O Horror Político); Viviane Forrester (O Horror Econômico); Arno Peters, Carsten Stahmer, Heins Dieterich e Raimundo Franco (Fim do Capitalismo Global), chamam a atenção, constantemente, para a reação extrema que pode advir da população massacrada, sem dó nem piedade, pelos locatários do poder. Em outras palavras, revolução, que não poderia ser cultural, considerando que, no Terceiro Mundo (Brasil, por exemplo), predomina o analfabetismo, a fome, a miséria (ausência de moradia, saneamento básico, instrução, etc.).

No entanto, não temos nada…

Nilda Teves: “Já não basta apelar para a compreensão das massas. O sofrimento tem seus limites e pode chegar o momento em que prevaleça a lei do mais forte — neste caso, a multidão enfurecida”.

Jacques Généreux: “Não acreditamos mais na política. Nada mais esperamos dela. No entanto, não temos nada, senão a política para escapar do horror político! Reconquistemos esse instrumento, antes que seja tarde”.

Viviane Forrester: “Durante um colóquio na Áustria, em Graz, um orador perguntou à platéia (muito internacional) se esta conhecia Mallarmé (um poeta francês), o que foi respondido com gargalhadas. Não conhecer Mallarmé?! Logo depois, um italiano tomou a palavra e mencionou vários nomes próprios, perguntando: Conhecem? Ignoramos todos. Eram nomes de marcas de metralhadoras. Ele estava voltando de um país que considerava exemplar estar em guerra civil, onde 90% dos habitantes conheciam esses nomes, mas 0% o de Mallarmé. Para nós Mallarmé… Para eles, as metralhadoras!”

Arno, Carsten, Heins e Raimundo: “É óbvio que essa ausência de vontade política das elites, somente pode ser superada com a pressão “democratizadora” (aspas nossas) e a luta das massas…

… qualquer Revolução tem como objetivo a melhora da situação dos pobres…

… A consciência pública é parte deste processo, da mesma forma que a vontade política, a unificação organizativa dos pobres e dos que carecem de direito, incluindo seus atos revolucionários…”

Susan George: “Ao invés de ‘ensinar à outra metade como viver’ e de dizer-lhe quantos filhos deverá ter, nós, no Ocidente, melhor faríamos se examinássemos a nossa própria motivação. Na verdade temos medo. Medo de que as crescentes populações do Terceiro Mundo venham um dia nos cobrar o que lhes é devido e provocar a baixa do nosso padrão de vida. Medo de que as pressões populacionais possam, finalmente, demonstrar que a única solução é a revolução”.

E agora, José?

E todos aqueles formadores do bando que realiza a colonização interna do Brasil, à custa da Fome ou da subalimentação ou da subnutrição, qualquer que seja o nome?

Mas, uma coisa é certa: cerca de 30 milhões, só de crianças, vão dormir com a “barriga vazia” e milhares delas são embebedadas pelos pais, para não incomodar com o choro (Serviço de Ensino e Informação da Fiocruz e Centro de Pesquisa Josué de Castro, um dos mais importantes do Nordeste —Por Trás da Saúde). Isto resulta da irresponsabilidade daqueles que têm nome certo — sem-vergonhas!

A TV Globo, no Jornal Hoje, em 10-12-2002, informou que a Pastoral da Criança fez uma pesquisa no Nordeste concluindo que as crianças têm R$1,00 (um real) para se alimentar por todo o dia. E mais: 85% da população não têm água encanada, nem esgoto.

E o tal Congresso está discutindo dobrar o seu pequeno salário, que ninguém sabe ao certo de quanto é, devido a inúmeras “vantagens” constitucionais. Fora as negociações com o “lobby” que, desgraçadamente, também, é constitucional. Aliás, nesta Constituição tem de tudo.

“Lobby”: pessoa ou grupo que procura influenciar legisladores; tentar obter a aprovação de um projeto ou de uma lei na câmara mediante pedido de votos; intrigar. (ipsis litteris, do dicionário inglês Novo Michaelis)

Por que será que esta indecência foi oficializada? Os congressistas recebem estas pessoas, só por educação e em nome da “democracia”… Coitados! O que não fazem, para nos representar…

E o “digníssimo” ex-presidente FHC, já está nos EUA, com uma comitiva de 30 pessoas, recebendo da ONU, mais condecorações e aceitando ser assessor do presidente desta “senhora” organização, para assuntos culturais e políticos. A mesma que “condecorou” o ex-ministro Serrinha.

Enquanto isso, o presidente eleito — Luís Inácio da Silva, esteve no dia 10-12-2002 nos EUA, com Bush. Ao voltar, apresentou o presidente do Banco Central Brasileiro: senhor Henrique Meireles (não sei se americano ou brasileiro), deputado federal pelo PSDB, ex-presidente mundial do Banco de Boston, nos Estados Unidos, e presidente do Banco de Boston no Brasil, até a candidatura por Goiás. A televisão informa que almoçaram em Nova York, os três: Bush, Meireles e Lula.

Tudo em família. Sai Armínio Fraga (que veio da direção de bancos norte-americanos), entra o Meireles (idem). Maravilha!…

Ó, Mercadante, onde estás que não respondes? Sem desculpas. Não há lugar melhor para servir ao povo do que na Presidência do Banco Central. Será que ninguém quer se “queimar”?

Na frente da nossa casa, no Rio de Janeiro, quatro meses antes das eleições, coloquei uma faixa de 4 metros: “Lula: A última esperança, se não…” Depois das eleições, acrescentei: “Agora, a Soberania, e logo.” (se não…, continua)

E eu disse durante a campanha que seria o último cartucho! Não pensei que seria queimado tão cedo! E a Fome vai em frente! Desculpem-me, a subalimentação, segundo o sociólogo da ONU.

E para não dizer que eu só critico, aqui vai a racional conduta que depende só de um Tiradentes — patriota e corajoso —: Reforma Agrária Já! Sem molecagem! Dinheiro? Temos até demais. Sem contar com mais nada, bastam os dois bilhões de dólares que transferimos toda sexta-feira para o FMI, e teremos comida, escola, moradia, crianças e adultos (principalmente do Nordeste) gozando da cidadania, tão cinicamente propagada. Não agüento mais ver crianças brasileiras morrendo de fome e servindo de personagem para o populismo.

O jornal O Dia, em 15-12-2002, no setor Cartas, diz, assinado por Heitor Vianna Filho, de Araruama: “… o que pode fazer o povo, senão idealizar uma revolução armada, única forma de acabar com essas afrontas?…”


*Krishnamurti Sarmento é médico clínico, autor de Por trás da saúde, Rio de Janeiro, ed. Terceiro Mundo, 1995, e Não há Saúde sem Soberania, Rio de Janeiro, ed. Livre Expressão, 2002 (nota de AND).
**Ver em A Nova Democracia nº 5, dezembro de 2002, o artigo Sem saúde e soberania o Brasil colônia vive de farsas e aparências, de Krishnamurti Sarmento.
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