No último dia 5 de março o presidente do Banco Central da Inglaterra, Mervyn King, deu um informe geral aos seus comparsas do capital financeiro por meio de uma entrevista a um dos baluartes da imprensa burguesa britânica, o Daily Telegraph: uma nova crise está prestes a explodir na Europa, podendo fazer ruir todo o sistema bancário do Reino Unido.
São os próprios capitalistas admitindo a iminência de um novo período de agudização em todo o continente europeu da crise geral de superprodução, que vai se manifestando de maneira mais forte ao redor do mundo na forma de crises pontuais de crédito ou de insolvência das contas públicas dos Estados mais falidos, ora aqui, ora ali, como um rastilho de pólvora entre paióis.
Agora mesmo essa crise se manifesta de maneira mais notória sobretudo nos elos mais fracos da União Europeia — países como Portugal, Grécia, Irlanda, Espanha, Itália, Hungria, Romênia e República Tcheca — e no risco de bancarrota do seu sistema monetário unificado, o euro, no esteio ainda dos efeitos da mais aguda manifestação da crise geral dos monopólios das últimas décadas, a de 2008 e 2009 no USA e na Europa, a chamada “crise dos subprimes” (empréstimos de alto risco de inadimplência), quando colossais recursos afanados das riquezas geradas pelas massas trabalhadoras foram colocados à disposição da sobrevida de uma dúzia de grandes empresas dos dois lados do Atlântico.
A ironia é que o presidente do Banco Central da Inglaterra agora vai à imprensa burguesa dizer que há o risco de uma agudização da crise semelhante àquela que aconteceu em 2008 e 2009 devido ao “apetite desmesurado por lucros” e a “cultura dos resultados a curto prazo”, justamente as duas prerrogativas que movem os monopólios, inclusive os do setor bancário, particularmente em sua busca espasmódica por expansão em tempos nos quais o capital agoniza com a corda no pescoço, afundando-se irracionalmente — mas irremediavelmente — cada vez mais.
Duzentas mil pessoas nas ruas de Lisboa
200 mil pessoas nas ruas de Lisboa contra a carestia de vida
Nesta sanha espasmódica por lucros e resultados a curto prazo, o debater-se agonizante dos monopólios resulta em graves ataques aos povos trabalhadores. A maioria desses ataques se materializa na forma de políticas anti-povo requeridas pelo poder econômico junto aos Estados gerenciados em sua função.
É por isso que as notícias sobre as dificuldades cada vez maiores enfrentadas pelos grandes capitalistas sempre vêm acompanhadas de notícias sobre cortes e congelamentos de salários, dilapidação de direitos e garantias historicamente conquistados pelo proletariado, privatizações e redução — de qualidade e quantidade — dos serviços públicos à população. É contra toda essa lógica que os povos europeus estão em luta neste exato instante, indo além da noção simplória de que os protestos e greves que ora varrem a Europa são para exigir que os ricos paguem a conta da sua crise, e vida que segue.
Em Portugal, país ora no olho do furacão das pressões por severos arrochos à população, no mesmo dia uma retumbante marcha de 200 mil pessoas fez tremer as ruas da capital Lisboa, 80 mil pessoas reuniram-se em um protesto no Porto e milhares de outras se manifestaram em várias outras cidades do país contra a precarização das condições de trabalho e a queda do padrão de vida das classes populares.
Na Grécia, milhares de trabalhadores e pequenos comerciantes paralisaram o país no dia 23 de fevereiro em mais uma vigorosa greve geral contra as medidas draconianas exigidas pelos bancos alemães e colocadas em prática pela gerência “socialista” local. Altivos manifestantes enfrentaram os cassetetes e até granadas da polícia na capital Atenas.
Na França, milhares de pessoas saíram às ruas de Paris no sábado dia 12 de março para protestar contra o fim de uma série de direitos trabalhistas no esteio da crise. Na Espanha, os trabalhadores do setor aeroportuário voltam agora a organizar uma greve, desta vez para a Páscoa, mostrando que a intimidação do Estado espanhol, que acabou abortando a greve do Natal, quando sindicalistas foram ameaçados de prisão pelo exército, não os amedronta mais.