AND tratou, em suas últimas edições, do tema da farsa eleitoral, desmascarando as manipulações, noticiando protestos e o movimento pelo boicote ativo, e artigos analisando a disputa das frações do partido único pelos postos no gerenciamento do velho Estado. Mas afinal, qual é a importância das eleições e o seu papel para a manutenção do velho Estado?
De dois em dois anos o povo brasileiro é obrigado a votar. Chamam “direito”, mas quem não comparecer ao escrutínio sofre impedimentos para o ingresso em universidades e concursos públicos, para a retirada de passaportes, etc.
A cada ano aumenta a chantagem. Tudo isso porque o velho Estado necessita legitimar sua existência, dando-se ares de democracia. Se tudo vai bem, é a “festa da democracia”, se tudo vai mal, foi “o povo que não soube votar”. Quantas vezes o leitor ouviu isso?
Mas o fato é que, se as coisas não fossem assim, as diversas instâncias do gerenciamento de turno não teriam como se manter. Sem comprometer a população nesse jogo corrupto de cartas marcadas, sem simular ares de “renovação”, seria impossível assegurar qualquer “governabilidade” para as classes reacionárias.
Se nos anos passados ainda havia alguma militância dos partidos eleitoreiros, que fosse apenas nos períodos de campanha, que defendesse bandeiras, programas de governo, ou algo do gênero. Ou se antes havia alguma demarcação de posições entre as legendas, comícios, disputas, o que se vê nos dias atuais é a despolitização, os funcionários pagos para segurar bandeiras e distribuir panfletos, comícios esvaziados, e milhões gastos com marquetagem e televisão.
As disputas de claques, cada qual com seus interesses fisiológicos, só se acirrou no segundo turno porque como só havia dois candidatos, havia uma certa “radicalização” na disputa pelo posto de gerente do velho Estado.
Chantagem e comércio de ilusões
Muito bem disse aquele que afirmou haver duas maneiras de mentir: a primeira, propriamente dizendo uma mentira, e a segunda, manipulando a estatística. E foi exatamente isso o que confirmou o resultado da última farsa eleitoral: manipulações, a maquiagem dos “votos válidos”, etc.
Passado o primeiro turno, o elevado número de abstenções, votos nulos e em branco representaram um grande tormento para a reação. Luiz Inácio precisou descer de seu intocável pedestal e mendigar ao povo que votasse. A chantagem atingiu índices nunca antes alcançados. As frações do partido único fizeram de tudo para incutir entre o povo a ideia de um suposto enfrentamento entre “esquerda” e direita e a crença de que há algo em jogo na disputa eleitoreira.
Todas as legendas acenderam “uma vela para deus e outra para o diabo”, fizeram todo tipo de aliança espúria, e após se refestelarem nos milhões provenientes de transnacionais, caixas dois de todo tipo, grandes burgueses e latifundiários clamaram por “fichas limpas” e “reforma política”: artigos de perfumaria para excrementos.
O elevado índice de abstenções no primeiro turno (mais de 24 milhões) cresceu ainda mais no segundo turno. Apesar da intensa campanha do TSE e dos partidos eleitoreiros para que o povo votasse, mais de 29 milhões de brasileiros cadastrados como eleitores disseram não compareceram para votar, mais de quatro milhões votaram nulo e mais de dois milhões votaram em branco no segundo turno. Ainda assim, a manipulação das estatísticas tentou confundir. Os candidatos tiveram suas percentagens de votos contabilizadas levando-se em conta apenas os chamados “votos válidos”, ou seja, sem levar em conta mais de 34 milhões de pessoas que protestaram se abstendo, votando nulo ou em branco. Somam-se a estes números os jovens entre 16 e 18 anos que protestaram deixando de se cadastrar como eleitores e de votar. Em 2010 houve uma queda de 28% no número de jovens considerados eleitores.
A verdade dos números
Tratando das eleições presidenciais no segundo turno:
Se o total de eleitores cadastrados é 135.803.907 pessoas e Dilma Roussef (PT) recebeu, no segundo turno, 55.752.483 votos, apenas 41% dos eleitores votaram nela e não 56% como foi divulgado (contando apenas os chamados “votos válidos”).
E no caso de José Serra (PSDB), que recebeu 43.711.162 votos, o índice foi de 32,1% dos eleitores, e não 43%, como foi divulgado.
Já no caso das abstenções, votos nulos ou em branco, que somaram no total 36.338.855, o índice representou 26,7%, ou seja, mais de ¼ do eleitorado disse não à farsa eleitoral.
Levando essa hipótese para o primeiro turno, teremos uma surpresa ainda maior:
Dilma Roussef recebeu 47.651.433 votos.
José serra , por sua vez, recebeu 33.132.282.
O total de abstenções, votos nulos e em branco foi de 34.213.777. Esse número significou não só uma derrota para a farsa eleitoral como um todo. O repúdio desbancou o número de votos de José Serra e visivelmente ameaçou todo o farsante processo.