Observem essa relação de obras que estão sendo realizadas em todo o Brasil:
1Pavimentação, em paralelepípedo, de ruas no município de Mascote, Bahia.
2Implantação de adutora localizada entre Planaltina e Sobradinho, Distrito Federal.
3Construção de casas populares em Santa Maria, Sergipe.
4Adequação do sistema de água, na Comunidade de Serra de Joaquim, Campina Grande, Paraíba.
5Construção de galpão em Lagoa de Dentro, Campina Grande, Paraíba.
6Cisterna em Sítio Olho Dáguinha, Juazeirinho, Paraíba.
7Rodovia CE 040, Ceará.
8Canal do Trabalhador em Pirangi-Ererê, Ceará.
9Plano diretor urbano e cadastro técnico em Santo Antônio de Jesus, Bahia.
10Construção de privadas higiênicas no Agreste do Nordeste, em mais de uma cidade. Vejamos o que de comum existe nessas obras além de serem realizadas no Brasil:
Todas têm financiamento do Banco Mundial.
É um absurdo, mas o sistema financeiro já está avançando até para abocanhar o Fundo de Participação dos Municípios — FPM, fundo que sustenta principalmente muncípios do interior sem muita arrecadação. Pela sua própria natureza, esses empréstimos são incoerentes, já que não se pode pedir dinheiro ao estrangeiro para aplicá-los em atividades não produtivas. Porque, de outra forma, como será paga uma dívida?
No entanto, o problema é muito mais grave.
Construir cisternas, calçar com paralelepípedos, fazer privadas higiênicas — todas são obras que têm os seus pagamentos realizados com a moeda brasileira, o real. Nenhum pedreiro ou engenheiro recebe pagamento em dólar — porque trabalhador produtivo não vê dólar. O povo brasileiro, de uma maneira geral, não vê dólar. Mas, exatamente por que o financiamento é feito pelo Banco Mundial?
Por ser essa uma manobra sórdida que tem um único objetivo: roubar e nos intimidar.
Os reais para os pagamentos são liberados. Já os dólares nem chegam a entrar no país, porque — de imediato — ficam retidos como pagamento dos juros da dívida. Os dólares, embora não cheguem, são contabilizados na soma da “nossa” dívida externa, mais uma vez aumentada.
O município, que deveria ter suas obras financiadas exclusivamente por dinheiro brasileiro e organismos financeiros nacionais (BNDES e congêneres), fica com seu orçamento comprometido junto ao avassalador centralismo federativo, agora também em função do pagamento de dívida externa. O município — mesmo lá, no interior, em pleno agreste — entra na ciranda que arrecada, de toda forma, os recursos para constituir o superavit primário — o que significa juntar dinheiro e enviá-lo ao exterior pagando juros da dívida, em detrimento de todas as atividades internas, sociais e de investimento.
Lá se vai o Fundo de Participação dos Municípios atender à voracidade do mercado financeiro. Mais da metade do volume da dívida externa está vinculada à taxa Selic, os juros básicos, altíssima, enquanto não se observa nenhum esforço por parte do governo em diminuí-la. Resultado: a dívida sempre cresce na razão direta do nosso empobrecimento.
Como é estranho: emite-se real à vontade para pagar obras financiadas em dólar, sem que ninguém manifeste que isto poderia trazer inflação. Mas ameaçam com figuras assombrosas qualquer tentativa de uso do direito de senhoreagem, ou seja, o de cunhar moeda — prerrogativa de governo — para investir na melhoria de condições de vida dos brasileiros. É uma ação que, pelo desenvolvimento estimulado, aumenta a base de arrecadação, portanto, inibindo inflação (a monetária). O endividamento no exterior consegue o absurdo de colocar até os menores municípios sujeitos à ingerência externa. Consegue nos levar a uma tal perda da soberania que somos transformados em servos da moeda, além do mais, da moeda sem lastro algum — o dólar. Passamos a trabalhar apenas para pagar financiamentos de juros aos senhores do dinheiro estrangeiro.
Esse é o processo de loteamento de todas as atividades, inclusive as públicas, para as corporações estrangeiras, instalando um esquema de escravidão moderna em que a qualidade de vida neste país existe apenas para os coniventes e traidores da pátria , enquanto produz entre o povo trabalhador grandes contingentes de miseráveis.
Mas essa história não acaba aqui, porque o nível de consciência de um povo de 190 milhões de brasileiros vem se elevando a cada dia, um povo que haverá também de expulsar de nosso país o sistema de exploração que as corporações financeiras mundiais buscam impor em nossa terra.