A gripe da suinocultura industrial-capitalista

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A gripe da suinocultura industrial-capitalista

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Chamava-se Judy Trunnell a primeira pessoa a morrer no USA em razão da chamada gripe suína. Ela faleceu no último dia 5 de maio em uma cidade próxima à fronteira com o México, logo depois de dar à luz, e no dia 11 do mesmo mês seu marido entrou com um processo contra a multinacional ianque Smithfield Foods, a maior produtora de carne suína do mundo. O que uma coisa tem a ver com a outra? Steven Trunnell alega que a morte de sua esposa foi consequencia das condições insalubres sob as quais a filial mexicana desta empresa confina cerca de um milhão de porcos nos arredores da pequena localidade de La Glória, que fica no estado fronteiriço de Veracruz.

O advogado de Steven está reunindo provas de que o vírus H1N1 se originou e ganhou o mundo de maneira pandêmica por causa da precariedade sanitária com que a Smithfield Foods mantém os criadouros no México. Precariedade esta que perpassa e caracteriza as criações que os grandes conglomerados alimentícios instalam nas semicolônias com a convivência das suas gerências lambe-botas, e que agora se quer mascarar chamando a mais nova manifestação de suas consequências nocivas para a saúde pública de "gripe A", "gripe mexicana" e tergiversações do gênero.

O que a imprensa vendida e os porta-vozes do imperialismo fazem circular é que o H1N1 é resultado de uma fatalidade biológica, uma combinação inevitável de genes da gripe humana, aviária e da que acomete os porcos, algo fruto de uma traquinagem da natureza que não poderia mesmo ser evitada. No entanto, sabendo que mais cedo ou mais tarde esta gripe será batizada pelo seu verdeiro nome — talvez "gripe da suinocultura industrial-capitalista" — a administração Obama tentou se antecipar à emergência e disseminação das informações sobre a verdadeira origem da doença com uma medida tão tardia quanto hipócrita.

Em meados de julho, quatro meses depois do aparecimento das primeiras infecções em humanos causadas pelo vírus mutante, a agência ianque FDA, que regula ou finge que regula alimentos e medicamentos no USA, decretou o fim do uso de antibióticos em animais de criação, o que costuma ser feito pelas empresas criadoras com objetivo de acelerar o crescimento de frangos e porcos, a fim de antecipar seu abate e assim agilizar a produção. Claramente, é uma medida tomada para simular esforços em prol da saúde pública e fingir confrontação com o lobby agrícola em meio à evidências cada vez maiores de que o H1N1 surgiu porque as empresas alimentícias fazem o que bem entendem com a finalidade de elevar mais e mais seus lucros. Isso apesar de o uso indiscriminado de antibióticos ter pouco a ver com vírus mutantes, mas sim com bactérias super-resistentes.

Nada foi feito até agora (e nem será no âmbito do Estado burguês, tendo em vista os poderosos interesses da burguesia que seriam contrariados) contra o uso indiscriminado de vacinas, contra o confinamento de um número cada vez maior de animais em espaços apertados e em péssimas condições de manutenção, ou contra a proximidade geográfica das granjas de frangos e dos mega-chiqueiros controlados pelos monopólios da comida industrial, o que facilita a combinação de vírus que acometem diferentes espécies. O que será feito — na verdade, já vem sendo, nos hemisférios norte e sul — é castigar o povo com desinformação, falta de atendimento médico e submissão das providências aos interesses dos grandes laboratórios do farma-cartel.

A gripe e o Estado semifeudal

No começo do século passado a gripe espanhola apareceu como um surto moderado, arrefeceu, e meses depois voltou como uma pandemia arrasadora. As autoridades nada fizeram para ajudar o povo a lidar com o novo mal, tratando de proteger a elas mesmas como fosse possível e negligenciando esforços para conter a doença. Quando a gripe espanhola chegou ao Brasil, em setembro de 1918, grande parte das classes endinheiradas deixaram cidades como Rio de Janeiro, São Paulo, Recife e Salvador, onde a epidemia ganhava corpo, rumando para recessos bucólicos no interior. Às massas, as autoridades do Estado oligarca limitaram-se a recomendar que evitassem aglomerações, ou seja, que ficassem confinadas em casa para morrer no seu canto, sem tratamento ou sequer informações sobre a profilaxia adequada para se evitar o contágio. Só no Rio de Janeiro houve 14.348 mortes.

Agora, com a gripe da suinocultura industrial-capitalista — cujo vírus é a mesma cepa que o da gripe espanhola de 1918 — muito alarmismo vem sendo veiculado para catapultar as cotações das empresas do farma-cartel nas bolsas de valores da Europa e do USA, substituindo um debate científico sério e responsável sobre a real ou potencial gravidade da doença por comunicados oficiais e um noticiário que servem apenas ao campo das especulações. Quando se trata das massas, repete-se a história do descaso observado no desenvolvimento da pandemia de gripe espanhola, com um número cada vez maior de apelos da parte dos burocratas para que o povo se tranque em casa o máximo de tempo que puder. No intervalo de quase um século inteiro, o máximo que o Estado semifeudal consegue se mexer diante de uma inesperada questão de saúde pública continua sendo meramente pedir que se evite aglomerações.

Diante do povo, os chefes dos Estados burgueses e seus ministros da Saúde foleiros insistem em tentar manejar as informações sobre a gripe da suinocultura industrial-capitalista segundo a conveniência eleitoreira. Políticos picaretas e o oligopólio internacional das comunicações semeiam o pânico, conforme deseja o negócio multibilionário de lucrar em cima da saúde humana, e depois acusam o povo de correr aos hospitais movido por pura histeria. Na cidade de Nova Iorque, no USA, o H1N1 perdeu força com a chegada do verão no hemisfério norte, mas a gerência municipal já se esmera no preparo de medidas antipovo visando a chegada do outono, quando a gripe deve voltar com força devido à queda das temperaturas.

A estratégia é, também, lançar mão de uma campanha para convencer as pessoas a padecerem doentes em casa, sem procurarem um hospital. Mas, além disso, a administração novaiorquina está levantando "postos de atendimento" fora dos hospitais. Ao que tudo indica, estes postos funcionarão como verdadeiras barricadas para impedir que as pessoas tenham o atendimento digno que merecem e precisam, onde os doentes serão "tratados" no atacado, com pressa e no improviso.

É isso o que vem se ensaiando também por aqui. A Secretaria de Saúde do Estado do Rio de Janeiro criou um "disque-gripe" para, como nos idos de 1918, impedir as massas populares de buscar tratamento nos hospitais e postos de pronto-atendimento. Aliás, os planos de saúde já avisaram que vão solicitar à administração Luis Inácio a autorização para aumentar as mensalidades cobradas do povo pobre, porque o povo pobre está fazendo demais o que os ricos acham que ele não deve: procurar um médico.

Como nos enlatados cinematográficos ianques, semeadores do pânico, disseminadores do poderio militar do USA, se desenha um quadro nada fictício: primeiro uma pandemia, seguidos do pânico e da repressão desenfreada sobre as massas. A gripe da suinocultura industrial-capitalista é produto do imperialismo, dessa besta devoradora de homens, um sistema parasitário, agonizante e em decomposição.

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