Sob o tema Avançar a solidariedade dos povos e a luta pela libertação e democracia contra a guerra e o saque imperialistas foi realizada, de 11 a 14 de novembro passado, em Eindhoven, Holanda, a II Assembléia da Liga Internacional de Luta dos Povos (ILPS). Participaram deste importante evento 240 delegados de 33 países, que representavam 136 organizações de luta dos povos e também observadores de 39 outras organizações. Esta significativa presença só não foi maior porque o governo holandês e outros governos da Europa negaram o visto de entrada para vários delegados ativistas políticos das Filipinas, Nigéria, Nepal, Paquistão, Índia e Bangladesh – em mais um claro exemplo da fascistização crescente naquele continente.
Na abertura da Assembléia, o então presidente da ILPS, Crispin Beltran, denunciou a prisão do jornalista turco Memik Horoz, vice-presidente da Liga. Memik é um dos sete mil prisioneiros políticos que existem hoje na Turquia e está há mais de 3 anos confinado nas terríveis e desumanas celas tipo “F”, submetido a total isolamento.
— O bravo jornalista lutava pelo povo e se tornou mais uma vítima do fascismo do Estado turco —, ressaltou Beltran ao lembrar também que — Irene Fernandez, nossa auditora, tem sido perseguida pelo governo da Malásia por defender os direitos dos trabalhadores migrantes em seu país. Ela foi sentenciada a um ano de prisão. E não podemos deixar de repudiar a lista feita pelo governo norte-americano, de supostos terroristas, à qual foi relacionado o nome do nosso consultor geral, José Maria Sison.
Sobre o aumento da repressão contra os revolucionários em todo o mundo Beltran afirmou, categórico, que:
— por outro lado, ser atacado pelo inimigo é bom, pois isto mostra que estamos verdadeiramente lutando pelos interesses do povo.
Desde a realização da I Assembléia Internacional, de fundação da ILPS, em 2001, uma nova situação mundial configurou-se, com o imperialismo ianque tomando o caminho da militarização, da guerra e da fascistização, “redesenhando a situação da década anterior”, com a agudização da crise do sistema capitalista mundial, o agravamento da opressão e da exploração imperialistas e com o vigoroso renascimento da resistência popular em todo o mundo.
Diante deste quadro, a realização da II Assembléia teve como objetivo atualizar suas tarefas dentro da luta antiimperialista e democrática feita pelos povos do mundo e convocar a todos os povos a avançar na sua solidariedade e na luta pela libertação e democracia contra a rapina e guerra imperialistas.
O imperialismo agonizante
A análise da situação internacional apresentada na Assembléia aponta o rápido agravamento da crise do sistema capitalista mundial. Os países dominados têm sido devastados pelo saque de matérias primas e por um déficit interno e uma dívida externa crescentes. Por sua vez, os países imperialistas têm sido afetados pela crise causada pela superprodução de produtos agrícolas, produtos industriais básicos e produtos de alta tecnologia, que tem provocado o descenso da produção industrial e o aumento do nível de desemprego, entre outras conseqüências.
Frente à crise, o USA tem se utilizado do mito da “globalização do livre mercado” para promover a rapina de bens e ativos em várias partes do mundo, obtendo superlucros sob a fachada de “investimentos, liberalização comercial, privatização dos ativos e bens públicos e desregulamentação”. Com isso, operários, camponeses, mulheres, estudantes e demais setores populares, particularmente nos países do terceiro mundo, têm sido atingido duramente nos seus direitos e nas suas condições de vida, submetidos à uma espiral de repressão, miséria e fome. As medidas tomadas por Bush depois do ataque ao World Trade Center deram ao imperialismo ianque um caráter ainda mais agressivo, mais fascista. E utilizando o 11 de setembro como pretexto, o governo de Washington aumentou a sua produção militar, com o objetivo de reanimar a economia norte-americana em crise e de levar a cabo uma permanente “guerra ao terror”. Tanto que os setores que mais se beneficiaram com tais medidas foram as indústrias do complexo militar e as grandes empresas petrolíferas.
Após o 11 de setembro, o USA declarou guerra ao Afeganistão e ao Iraque, ocupando aqueles países e estimularam os sionistas de Israel a intensificar seus ataques contra o povo palestino. Ao mesmo tempo, foi adotada a Lei Patriota e outras leis complementares para fomentar a histeria necessária à sustentação da produção para a guerra, assim como a própria guerra de agressão.
Desde então, não é outro senão o Estado ianque que tem cometido os mais colossais atos de terrorismo. Durante a invasão e ocupação do Iraque, mais de 100 mil iraquianos foram assassinados. E milhões de pessoas estão sendo atacadas cruelmente, obrigadas a viver em condições miseráveis, totalmente vulneráveis à morte e enfermidades por causa das covardes ofensivas militares ianques. No Iraque, casas e comunidades inteiras estão sendo destruídas, assim como grande parte da infra-estrutura do país. Todas as barbaridades cometidas atualmente vieram após 12 anos de sanções impostas pelo USA, que provocaram a morte de 1 milhão e meio de iraquianos, entre eles 750 mil crianças.
José Maria Sison, eleito, ao final da II Assembléia, o novo presidente da ILPS, destacou:
— O pior tipo de terrorismo são as guerras de agressão, como as que foram levadas a cabo pelo Estados Unidos desde o fim do século 19 nas Filipinas, Coréia, Vietnã, Iraque e outros lugares. Bush e companhia são criminosos de guerra. Eles atacaram o Iraque usando suas armas de destruição massiva de alta tecnologia, da maneira mais bárbara e covarde. Eles lançaram uma guerra contra este país violando a Carta das Nações Unidas e as leis internacionais. O Iraque não lançou nenhum ataque prévio e tampouco significa uma ameaça para o Estados Unidos e não tem armas de destruição massiva. O macro-terrorista norte-americano tem a ousadia de por a etiqueta de terrorista nos movimentos de libertação nacional, nas organizações antiimperialistas, nos dirigentes progressistas. Eles não pensam em outra coisa que caluniar e atacar as forças antiimperialistas e os movimentos populares do mundo —, afirmou Sison.
Porém, os povos do Iraque e da Palestina estão, heroicamente, deflagrando resistência contra o imperialismo ianque e seus lacaios. A resistência iraquiana se fortalece golpeando vigorosamente as tropas de ocupação e seus colaboradores e impondo a eles fragorosas derrotas. E por isso, Sison destaca:
— Mais do que nunca o proletariado e os povos do mundo devem unir-se contra o imperialismo norte-americano, como o explorador e terrorista número um do mundo, e também contra todos os imperialistas e a reação em cada país.
Para o presidente da ILPS:
— Arevolução armada pela libertação nacional e social, está sendo levada a cabo em grande escala no Iraque, na Palestina, Turquia, Afeganistão, Nepal, Índia, Filipinas, Colômbia e outros países da Ásia, África e América Latina. É a forma de luta mais importante porque responde diretamente à questão do poder político. As revoluções armadas são possíveis nos países onde a crise do sistema governante é crônica; a opressão e a exploração pelo imperialismo e as reações locais são agudas e o terreno físico e social oferece às forças revolucionárias amplo espaço para manobras numa guerra de guerrilha antes da guerra regular.
Por uma direção revolucionária
Neste momento em que as massas exploradas e oprimidas seguem resistindo, nas mais duras condições, à brutal ofensiva imperialista, o surgimento da ILPS é uma iniciativa importante para impulsionar o movimento antiimperialista em todo o mundo.
No entanto, a tarefa principal da Liga – como ficou claro na II Assembléia — é travar a luta para construir uma direção correta, revolucionária, para o movimento antiimperialista. Ou seja, uma direção que estabeleça uma linha política geral e conseqüente para o movimento antiimperialista, que se alastra por todo o mundo. Uma direção construída no combate, sem trégua, ao imperialismo e ao oportunismo.
Sendo o imperialismo o último estágio do capitalismo, desenvolver uma luta antiimperialista conseqüente significa desenvolver uma luta contra o sistema capitalista, em geral. Por isso mesmo, um movimento antiimperialista forte e genuíno não pode desenvolver-se, nem se opor ao inimigo dos povos de forma resoluta se não for dirigido pela ideologia proletária.
Fora disso existem apenas algumas iniciativas que buscam reformar ou abrandar o sistema, como é o caso do Fórum Social Mundial. A sua consigna de “um outro mundo é possível” nada mais é do que uma tentativa de dar “à globalização uma face humana”; de canalizar a disposição de luta das massas para caminhos aceitos pelos Estados dos grandes capitalistas, que são os perpetradores da miséria, da fome, da exploração e opressão.
Este é o desafio que já se apresentou para a ILPS durante a II Assembléia, quando se estabeleceu uma polêmica em torno das contradições existentes no mundo e o que fazer diante dessa situação. De um lado, delegados defendiam a existência de uma nova contradição no mundo, hoje, entre o imperialismo e países classificados por eles de “independentes” (Cuba, Coréia do Norte, Venezuela), que, inclusive, seriam os principais alvos do imperialismo na atualidade, em função dos quais deveria ser, principalmente, direcionada a solidariedade e as ações da Liga.
De outro, o restante dos delgados, que entendem existir apenas três contradições hoje: as que existem entre as potências imperialistas; entre o imperialismo e nações e povos oprimidos; e entre burguesia e proletariado. E que como resultado do saque desenfreado e da agressividade ianque, todos os tipos de lutas e de contradições estão tornando-se mais e mais agudas. Sendo que a contradição principal — entre imperialismo e o proletariado e os povos oprimidos do mundo — está se intensificando de maneira mais intensa, provocando a justa rebelião das massas oprimidas.
O problema que o movimento antiimperialista enfrenta é o de defender a revolução democrática nos países dominados e a luta antiimperialista nos países centrais. E esta discussão reflete as dificuldades existentes em seu seio e que ainda impedem o seu pleno desenvolvimento. A ILPS, hoje, é uma significativa e numerosa combinação de centenas de organizações de massas, organizadas em diferentes regiões do planeta e está lutando para direcionar corretamente sua intervenção.
Outras tarefas
A Liga Internacional de Luta dos Povos, nesta II Assembléia, aprovou um novo programa de ação. As nações e povos que são submetidos às piores formas de opressão e exploração e, com certeza, os povos que estão desenvolvendo as formas mais efetivas de resistência contra o imperialismo norte-americano e seus títeres devem receber a solidariedade e todo o apoio político e moral necessário.
É o caso da resistência iraquiana, que se confronta com a ilegítima e brutal ocupação imperialista e busca, internacionalmente, o apoio político à sua luta legítima. A resistência iraquiana busca, inclusive, defender o direito de recorrer a meios armados para garantir a autodeterminação e a soberania verdadeira do Iraque.
Impulsionar a formação das seções nacionais que poderão, eventualmente, servir para a criação de comitês coordenadores nos continentes é outra tarefa primordial. Para isso, é importante reunir as forças patrióticas e progressistas em cada país.
As ações poderão ser desenvolvidas através de campanhas de informação e educação; seminários, conferências e ações dos milhares de ativistas. E na prática, a ILPS deve ser capaz de arrebatar a iniciativa de muitos “fóruns sociais”, conferências e seminários financiados pelas agências que servem ao imperialismo, como o Fórum Social Mundial, que volta, em 2005, a ser realizado em Porto Alegre. Embora a “Resistência Mumbai 2004”, organizada no ano passado pela ILPS para se contrapor ao FSM, não aconteça este ano.