Sururu significa pequena desordem, fuzuê, bagunça e é também um fruto do mar bem típico no estado das Alagoas. Para um quarteto de músicos e cantores do Rio de Janeiro provenientes da escola de música da UniRio — Universidade do Estado do Rio de Janeiro — essa palavra irrompeu repentinamente. E, quando pintou o nome Sururu na Roda todos tinham a convicção de que traduziria bem o clima que pretendiam adotar em suas rodas de samba.
Com quase 10 anos de carreira e com três discos na bagagem, ninguém mais duvida da originalidade e sucesso de uma banda que enaltece a genuína boa música popular.
— Sururu significa, além do famoso caldinho de Alagoas, uma mistura, uma grande confusão e também significa encontro de estudantes. A palavra sururu então passou a significar para nós toda a mistura de gêneros e ritmos que fazemos e na roda de samba — garante o percussionista Fabiano Salek.
A título de registro, muitos nomes foram cogitados, entre os quais Ziriguidun do Cateretê e Baticundun. O primeiro foi Sururu de Capote. O empecilho era que esse nome já pertencia à banda do músico Djavan.
Tendo como integrantes Nilze Carvalho (cavaquinho/bandolim/voz, já entrevistada por AND), Camila Costa (voz/violão), Silvio Carvalho (voz/cavaquinho/percussão) e Fabiano Salek (voz/percussão), o grupo, com característica eminentemente vocal e instrumental, vem desenvolvendo atualmente um trabalho mais autoral, amadurecido em seu terceiro CD, Que samba bom. O disco foi gravado ao vivo em 2008 no Centro Cultural Carioca, na Praça Tiradentes, com a participação ilustre de Zeca Pagodinho, na faixa A volta (Candeia) e Não sou mais disso (Zeca Pagodinho e Jorge Aragão).
A idéia de formar um conjunto surgiu nos jardins da UNIRIO, no ano 2000 onde as integrantes Camila Costa e Nilze Carvalho estudavam uma disciplina chamada Prática de Conjunto do curso de Licenciatura em Música. Diante da aproximação das duas, surgem depois o irmão de Nilze, Sílvio Carvalho e Fábiano Salek para compor o Sururu.
O Samba foi a primeira e principal influência do grupo — impelidos pela pesquisa e o resgate cultural. Com isso surgiu o jongo, as marchinhas de carnaval e juninas, o xote, o frevo, o maracatu, o choro, a marcha rancho, o ijexá, o sambalanço, o maxixe, o forró e vários outros gêneros representativos da música brasileira, que estão incluídos no repertório do Sururu na roda em qualquer lugar que estiverem.
— Ao longo desses 9 anos já tivemos o privilégio de tocar junto com diversos artistas como Nei Lopes, Wilson Moreira, Monarco, Tia Surica da Portela, Zeca Pagodinho, Chico Buarque etc… Além também dos novos talentos, como Edu Krieger, Roberta Sá, Rodrigo Maranhão, Simone Lial, Ana Costa etc… — afirma o músico.
— Temos três discos gravados. O primeiro, Arco da velha, consiste numa reprodução fiel ao que fazemos nas rodas. O segundo, intitulado Sururu na roda, tem uma proposta parecida mas com arranjos mais elaborados e conta ainda com a participação luxuosa de Chico Buarque. Agora estamos trabalhando o terceiro disco, gravado ao vivo no Centro Cultural Carioca e lançado no final do ano passado. Neste trabalho priorizamos um repertório de canções inéditas nossas e de outros compositores e contamos com a participação de Zeca Pagodinho — conta Fabiano, que afirma quepara 2010 o Sururu na roda já vislumbra um DVD comemorativo dos dez anos de carreira.
Além de compositores e músicos, os membros também são cantores. Dessa forma, em Que Samba Bom há uma preocupação na divisão de duetos e solos. Em algumas canções como Correnteza e Samba Meu, os quatro cantam juntos. Em Morena de angola, por exemplo, Nilze e Camila cantam juntas.
Como os músicos já vinham experimentando as próprias composições na roda de samba, a vontade de gravá-las foi ainda mais atiçada.
— Para o Sururu, tocar e, mais ainda, gravar no Centro Cultural Ccarioca é como estar em casa, afinal a gente toca lá há quase seis anos. É importante para a carreira de um grupo tocar num lugar por tanto tempo, é o nosso ponto de referência. Logo, a música do Sururu na Roda expressa alegria antes de tudo. E juntando a jovialidade e as particularidades de cada componente, o som sai muito espontâneo — diz Nilze Carvalho, que toca cavaquinho desde criança (ver AND nº 56).
De acordo com os músicos, quem vive de música na maioria dos casos faz o que ama. Porém, as dificuldades são incessantes:
— É assim sempre na vida em todas as profissões e em todos os ramos. A dificuldade maior para todo artista é conseguir os espaços para divulgar sua arte e cada vez mais o Sururu tem conquistado o seu.
Apesar da notória imposição cultural capitaneada pelo monopólio dos meios de comunicação, o crescimento da internet, para desespero da indústria fonográfica, tem conseguido divulgar o trabalho do samba de alguma maneira:
— As TVs tem se interessado mais pela música popular e tem mostrado isso em inúmeros programas interessantes nos canais a cabo. Não podemos deixar de citar rádios como a Roquete Pinto, MEC, Nacional que abrem suas portas com frequência para a nova MPB e principalmente para o samba — conclui Nilze.
O registro do bom samba
Que samba bom tem 14 faixas, sendo Errei e Balançada assinada pelos quatro integrantes; Momento de agradecer, de Nilze, Fabiano e Zeca Leal; e Boca a boca, de Nilze e seu pai Cristiano Ricardo, um curioso xote em meio ao repertório sambista.
— Errei é a história daquela pessoa que pisou na bola e vem pedir perdão. Foi trazida pelo Sílvio e os outros componentes contribuíram para a finalização. Já Balançada surgiu dentro de uma van numa de nossas muitas viagens — comenta Nilze.
O disco tem as também inéditas De maré (Tuninho/Roque Ferreira), Correnteza (Edu Krieger), Sou gamado por mim (Moadir) e Se eu ganhar na loteria (PC Castilho). O repertório se completa com Mercado das flores (Rodrigo Maranhão), Morena de Angola (Chico Buarque), Samba bom (Geraldo Pereira) e Onde o Brasil aprendeu a liberdade (Martinho da Vila), encerrando de forma apoteótica, tal qual os shows do Sururu na Roda.