A nova velha submissão ao FMI

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A nova velha submissão ao FMI

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Como já era esperado por quem não quis bancar o avestruz, a gerente Dilma Rousseff, logo após contados os votos com sua minguada diferença sobre o segundo colocado, acusado de ser o candidato dos banqueiros, logo se apressou em apaziguar o mercado convidando um representante dos banqueiros para a pasta da Fazenda. O convite foi feito ao presidente do Bradesco, que não aceitou, preferindo indicar um preposto, e provocou chiliques entre petistas e dilmistas de 2º turno.

A desilusão de Janio de Freitas

Articulista da Folha de São Paulo, Janio de Freitas, com várias décadas na estrada do jornalismo, durante a campanha eleitoral não só bancou o avestruz como foi mais além, assumindo a candidatura de Dilma Rousseff como um radical petista de carteirinha. Basta consultar seus artigos nas edições anteriores da Folha para ver, inclusive, o velho escriba corroborando as acusações de que tanto Aécio quanto Marina seriam os candidatos da banqueirada.

Pois bem, em artigo publicado na edição de 23 de novembro, Janio manifesta sua decepção com os convites feito por Dilma Rousseff a Joaquim Levy e a Kátia Abreu. A princípio, embarcando nas teorias conspiratórias pós pleito, sugeriu que Dilma apenas estava dando sangue aos leões: “A escolha de Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda, vista de fora, é uma decisão política, não econômica. Faz supor uma escolha de Dilma Rousseff por temor da voracidade com que os conservadores ambicionam a retomada do Poder perdido. Presenteia-os, parece, na suposição de aplacá-los”. Vislumbrando traços de incoerência, arremata: “Seja como for, coerente com o sentido da campanha de Dilma, não é”. E, após traçar o perfil conservador do “patriota”, conclui que “se não fosse adepto de concepções do conservadorismo neoliberal, Joaquim Levy não seria diretor do Bradesco”. Ora, inocente, sem este perfil ele não seria convidado pela petista para comandar a economia segundo os cânones do FMI e do Banco Mundial, aos quais Luiz Inácio jurou fidelidade.

Também a surpresa de Janio, assim como a de petistas e da “esquerda” eleitoreira, com o convite a Kátia Abreu não deveria ser a reação de um escolado militante do jornalismo, principalmente em se tratando de um empregado do monopólio de imprensa brasileiro. Estava escrito nas estrelas e só não viu quem não quis ver que na montagem da chapa de Tocantins para o Senado, Kátia Abreu colocou o petista Donizeti Nogueira como seu primeiro suplente. Assim, a pedra já estava cantada antes mesmo da eleição: Kátia no Ministério da Agricultura e Donizeti reforçando a diminuída bancada petista no Senado. Janio parece ainda não acreditar que o convite a Kátia Abreu significa fortalecer o compromisso com o latifúndio, travestido de agronegócio, portanto, inimigo do campesinato, principalmente sem terra e da causa indígena. Desolado, ele conclui: “O primeiro movimento para o novo governo parece feito em marcha a ré”.

É subjugação nacional mesmo

Quando nas páginas do AND levantávamos a questão da farsa eleitoral e indicávamos que, na verdade, a grande variedade de siglas nada significava no quadro eleitoral, uma vez que, elas apenas representavam frações do Partido Único e que as principais candidaturas eram farinha do mesmo saco, muitas pessoas, principalmente aquelas acometidas da doença do “menos pior”, nos acusavam de sectarismo e até de contribuir para afastar o povo da política ao defendermos a abstenção do voto. Pois bem, antes mesmo de ser empossada em seu segundo mandato, a senhora Dilma Rousseff coloca em prática suas novas velhas ideias.

Diante da crise, cuja profundidade ela tentou esconder da nação por conveniências eleitorais, não lhe resta outra saída, para cumprir seus compromissos com o imperialismo, do que negar todo o seu discurso de pseudo-esquerda utilizado durante a campanha, principalmente no segundo turno, quando, cinicamente, acusou seus adversários daquilo que ela mesma já vinha aplicando e agora se dispõe a aplicar com mais severidade.

Mais uma vez repetimos que numa semicolônia nos moldes do Brasil, onde o capitalismo burocrático vigente se caracteriza pela sangria da nação, através das leoninas transferências de renda para os bancos e transacionais, além de ter que consolar a grande burguesia lacaia e o latifúndio, quem quer que seja o gerente de turno do velho Estado terá que se submeter à política de subjugação nacional imposta pelo imperialismo através de seus organismos econômicos como FMI, Banco Mundial e OMC.

Farinha pouca meu pirão primeiro

A sinuca de bico em que o gerenciamento petista se meteu neste ano de 2014 tem tudo a ver com o peso do imperialismo na dominação de nosso país. Pelos compromissos assumidos por Luiz Inácio e confirmados por Dilma Rousseff deveriam ser assegurados recursos da ordem de mais de 100 bilhões de dólares como superávit fiscal para o pagamento dos juros dos títulos da dívida nas mãos dos banqueiros e especuladores (o que dá no mesmo), vulgarmente chamados de mercado.

Ocorre que o gerenciamento petista resolveu fazer um agrado aos patrões de Luiz Inácio da indústria automobilística e às empreiteiras executoras das obras do PAC, responsáveis por milhões de reais em doação para sua campanha eleitoral. Assim, entre a renúncia fiscal com a redução do IPI dos automóveis e o dinheiro para as obras do PAC, o dinheiro do superávit minguou, sobrando apenas 10 bilhões de dólares para o pagamento dos juros. O “mercado” já vinha acompanhando os gastos e ameaçando trocar de gerente a permanecer tal desfeita, seus recados mandados através da queda do preço das ações na bolsa e aumento do preço do dólar foram complementados com a forcinha na campanha de Aécio.

Para se livrar das penalidades da famigerada lei de responsabilidade fiscal, Dilma Rousseff mandou para o Congresso, em caráter de urgência, um projeto modificando a referida lei e, assim, livrando-se de um possível impeachement. Ai é que entra o convite a Joaquim Levy e Nelson Barbosa que, na verdade, deve ser encarado como uma intervenção do mercado para tentar recuperar a farinha que ele reclama ter sido retirada de seu pirão.

O trem da desilusão começa a marchar

Na estação ‘Primeira’ embarcarão Janio de Freitas e mais alguns colegas blogueiros e articulistas.

Na estação ‘Menos pior’ embarcarão os partidos da “esquerda” eleitoreira tipo PCO e PSOL e mais uma récua de artistas, intelectuais e personalidades (dúbias) que se consideram traídos por haverem caído no conto do vigário petista.

Na estação ‘Não me avisaram’ embarcarão alguns ingênuos ou desavisados petistas que achavam que era verdade o discurso de campanha adotado por Dilma Rousseff.

Na estação ‘Arrocho Fiscal’ o trem será superlotado com os eleitores que também se consideram traídos diante da inflação provocada pelo aumento dos juros, da gasolina, da energia elétrica, dos alimentos e da retirada de direitos dos desempregados e das pensionistas entre outros.

Para a última estação, a ‘É Dando Que se Recebe’, ficará reservado o último carro que deve recolher Eduardo Cunha e toda a sua tropa de parlamentares revoltados por não haverem sido reconhecidos pelo esforço de haverem apoiado Dona Dilma.

Como avisamos em edições anteriores, portanto, o que apresenta no panorama econômico e político do país como reflexo da crise mundial e suas repercussões internas é um cenário de mais crise na sociedade como um todo, desencadeando novo desenvolvimento da situação revolucionária. Preparemo-nos, pois, para grandes batalhas!

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