No fim de novembro, na sequência imediata da fase mais sangrenta de mais um violento capítulo do genocídio palestino em curso e levado a cabo pelo Estado facínora de Israel, armou-se uma das maiores patuscadas envolvendo a assim chamada “questão palestina”. Diante das imagens que correram o mundo – não pela mídia burguesa, mas sim por iniciativa de militantes, organizações e povos inteiros indignados com as atrocidades cometidas por Israel – de palestinos monstruosamente assassinados e mutilados pelas bombas sionistas, a ONU aprovou uma distração conveniente, na forma de resolução, “reconhecendo” a Palestina – na verdade, a Autoridade Palestina – como “Estado observador”.
A aprovação da resolução é fruto de um arranjo acordado entre os cúmplices de Israel e os maiores traidores do povo palestino, todos compactuados com o inimigo sionista.
De um lado, as Nações Unidas, unidas pela perpetuação do imperialismo e do neocolonialismo, ainda que sob a mentira cultivada da “neutralidade”, tentando mostrar que faz algo pelo povo palestino, ao mesmo tempo em que se cala ante o genocídio em curso, como se o drama dos palestinos pudesse ser resolvido, ou sequer minimizado, pela vontade das potências cúmplices com os crimes de Israel. Em dezembro, curiosamente, completaram-se 30 anos de uma outra resolução demagógica da ONU sobre a “Questão Palestina”, declarando “genocídio” o massacre, chancelado pelo sionismo, de milhares de palestinos nos campos de refugiados de Sabra e Chatila, no Líbano, ocorrido em setembro de 1982, ao mesmo tempo que chancelava – e ainda chancela – o prolongado genocídio na Palestina ao longo das décadas.
Do outro lado, a traidora Autoridade Palestina do “presidente” traidor Mahmoud Abbas, tentando dar a impressão de que enfrenta Israel, de que está trabalhando em prol do povo palestino, quando na verdade circula com desenvoltura pelos corredores das organizações internacionais do imperialismo e senta-se à mesa para negociar com o sionismo, para selar acordos e apertar a mão dos assassinos da sua gente, enquanto as bombas israelenses caem sobre a Faixa de Gaza e as ocupações judaicas proliferam no território da Cisjordânia.
Palestina desarmada e submissa
E assim os cúmplices de Israel e os traidores da Palestina invadida, saqueada e arrasada incensam a fumaça do “caminho diplomático”, a fim de tentar enfraquecer o caminho das armas e da destruição do Estado sionista, do direito de se defender, de reaver a terra roubada, de fazer o sionismo pagar por décadas de crimes monstruosos, como defendem as lideranças autênticas do povo palestino – as lideranças da heroica resistência – e como acredita quem é verdadeiramente solidário àquela gente que há décadas vem sendo roubada, humilhada e exterminada por Israel.
O “caminho diplomático” que a Autoridade Palestina abraça é o caminho de um eventual Estado palestino, reduzido, desarmado, explorado por Israel e submisso a Tel-Aviv, que é o único tipo de Estado palestino que as potências e o sionismo admitem.
No dia seguinte à aprovação na ONU do status de “Estado observador” para a Autoridade Palestina, Israel anunciou o início do processo para a construção de novas casas para colonos em terras perto de Jerusalém. No mesmo dia o ministro sionista da Economia, Yuval Steinitz, anunciou que não pagará um total de 92,7 milhões de euros em salários a trabalhadores palestinos para saudar a dívida que Autoridade Palestina tem com a empresa estatal de energia israelense, a Israel Electric Corporation. E o que a AP, com seu diploma de “Estado observador” da ONU, poderá fazer a respeito?
A patranha do “Estado observador” é tão imensa que mesmo os senhores da guerra sionistas já começam a declarar publicamente simpatia pela concessão pela ONU do status à AP. Foi o caso do ex-primeiro-ministro israelense Ehud Olmert, que disse sem constrangimento às agências de notícias internacionais: “Para ser honesto com vocês, não tenho certeza de que existe uma razão para opor-se ao pedido da Autoridade Palestina”.
Chega de ilusão: só a heroica resistência palestina tem a autoridade de fato – e não apenas de nome – para traçar o destino de um povo inquebrantável, valente, que não se dobra ante inimigos poderosos, inimigos de todos os povos trabalhadores da Terra.