A quem a cúpula petista pretende enganar agora

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A quem a cúpula petista pretende enganar agora

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 O PT lançou em dezembro último a convocatória para a realização de seu 5º Congresso que deverá acontecer em fevereiro de 2014. A proposta apresentada pela cúpula petista é um combinado de mistificação e demagogia. Além de querer falsificar a história, mais uma vez colocará no papel coisas que nem de longe seus gerenciamentos, comprometidos até os cabelos com o imperialismo, a grande burguesia e o latifúndio, pretendem, minimamente, por em prática.

O último parágrafo do documento é a perfeita demonstração de que será um congresso “para inglês ver” ao propor “Dar, pelo menos, alguns passos para reinstaurar o socialismo como horizonte político, ajudar a reconstruir uma cultura política de esquerda”. Ora, vejam só! A quem a cúpula petista pretende enganar? O seu eleitorado, encabrestado nos programas de bolsa esmola? Sua militância, cada vez mais burocratizada e movida por interesses pessoais, como é reconhecido no próprio documento?

Na verdade, não há mistificação ou demagogia e nem todas as alianças com as demais frações do partido único que impeçam o PT de degringolar. Seu auge já aconteceu.

Um esforço para falsificar a história

A convocatória defende a necessidade de construir uma narrativa histórica própria sobre os dez anos em que comanda o gerenciamento do Estado brasileiro. E, se colocando como vítima de perseguição, o PT chega a comparar Luiz Inácio a Getúlio Vargas e João Goulart.  Na edição 97 do AND refutávamos tal comparação emitida em nota do PT. Na oportunidade, assinalávamos como uma desmedida pretensão: “Por mais que tenhamos restrição quanto à postura dos dois políticos burgueses de inegável estatura de estadistas, não podemos admitir tal comparação, até porque Luiz Inácio, em seus oito anos de gerenciamento de turno, cumpriu rigorosamente seus acordos com o imperialismo e não apenas concluiu seu primeiro mandato como ganhou o direito a disputar e conquistar um segundo sem que houvesse nenhuma oposição a sua pessoa por parte do sistema financeiro ou das multinacionais aqui instaladas”.

Interessante é notar como o PT que, pelo menos em seus dez primeiros anos de existência, tinha um discurso contra o que considerava o populismo de Getúlio e Jango, vem agora querer se colocar à sombra histórica dos dois. Isso faz parte da cultura petista de mistificação e falsificação da história, pois, para sua cúpula, a história começava a partir da fundação da CUT e do PT. Para trás tudo era “stalinismo”, populismo, peleguismo e outros adjetivos lançados aos que vieram antes deles. Sempre esconderam o fato de que a sua existência era desejada por parte de Golbery do Couto e Silva, considerado o bruxo do regime militar, e dos conservadores em geral liderados por Roberto Marinho, para os quais o grande inimigo a ser neutralizado era Leonel Brizola.

O que fez o PT para sofrer perseguição?

A alegada perseguição é na verdade uma manifestação maníaco-depressiva. Ora, as críticas e campanhas que o PT enfrenta não chegam a 1 % do que foram as campanhas armadas pelo imperialismo e as classes dominantes locais contra governos do tipo Getúlio, Jango, Allende, Arbenz, Mossadegh e tantos outros derrubados pelas articulações do USA através da intervenção direta da CIA. E isso não acontece porque o PT e seus gerenciamentos cumprem à risca seus compromissos de submissão aos interesses do imperialismo e das classes dominantes locais.

Como afirmou neste AND o Professor Adriano Benayon, nenhum governante que contrariou os interesses imperialistas e das classes dominantes lacaias chegou ao fim de seu mandato. O PT, portanto, chora de barriga cheia, pois, durante esses dez anos teve a oposição que todo partido burguês “pediu a deus”.

Salvo mudanças cosméticas, envoltas em uma massiva carga de propaganda, nada de mais efetivo o povo pode esperar do oportunismo, cujo projeto já dá sinais de esgotamento. As greves nos setores operários, na educação, na saúde, os protestos anticorrupção e as manifestações populares por melhores condições de vida, afora a luta pela terra que segue de forma decidida apesar de toda a capitulação da direção do MST, são evidências do esgotamento do capital empulhador petista no gerenciamento do capitalismo burocrático asfixiado pela crise mundial do imperialismo. A ampliação e radicalização destes movimentos farão, cada vez mais, afirmar esta tendência.

Desfaçatez com a questão agrária

Apesar de não citar a exploração colonial e imperialista a convocatória faz uma constatação correta ao afirmar que “A desigualdade não era apenas uma perversão de nosso sistema social, mas um mecanismo de dominação política que se revelou “eficaz” para as classes dominantes por séculos. Por isso, é tão importante a plena realização da reforma agrária, capaz de atingir um dos pilares da desigualdade”. 

Esta constatação, entretanto, serve como peça de acusação aos gerenciamentos petistas e é prova cabal do que afirmamos acima, de que o PT coloca no papel coisas que nem de longe seus gerenciamentos põem em prática, senão vejamos: o Jornal Folha de São Paulo do dia 6/01/13 apresenta um levantamento da diretoria técnica da Câmara e pesquisa da Folha no “Diário Oficial da União” que mostram que Dilma desapropriou 58 imóveis em 2011 e 28 em 2012. Segundo o mesmo levantamento o gerenciamento Cardoso desapropriou 3535 imóveis enquanto o de Luiz Inácio desapropriou 1990. É neste tipo de coisa que reside a desfaçatez petista que já não encontra apoio nem em aliados de todas as horas, como João Pedro Stédile, que em artigo na primeira edição do ano da revista Carta Capital afirmou que “Infelizmente, não há motivação no governo para tratar seriamente esses temas”.

A mistificação da classe média

O documento defende que “A expansão da economia combinou-se, pela primeira vez em nossa história, com a criação de 18 milhões de empregos formais, com o aumento da renda dos trabalhadores, com um forte processo de inclusão social, que atacou a pobreza e as desigualdades”. Mas a realidade é bem diferente desta engabelação petista, segundo Ruy Braga, professor da USP que lançou recentemente o livro “A Política do Precariado” pela Boitempo.

Em declaração à Folha de São Paulo o sociólogo disse: “o trabalho precário tem absorvido o impacto da forte desaceleração da economia no mercado de trabalho. Mas a manutenção do anêmico crescimento deve provocar desemprego no próximo ano”. E acrescenta: “Por um lado, há uma certa satisfação com o consumo, em especial, de bens duráveis. Os salários continuam baixos, as condições de trabalho, muito duras, e o endividamento segue aumentando”. E conclui:“O precariado está inquieto, percebe que o atual modelo trouxe certo progresso, mas conclui que esse progresso é transitório. Até o momento, o precariado não identificou alternativas à hegemonia lulista. Mas está à procura”.

Uma prova disto é a grande quantidade de votos brancos, nulos e da abstenção nas últimas eleições. São trabalhadores que concluem que o quadro de miséria na educação, na saúde, na segurança, nas condições de habitação, no transporte etc, permanecem após dez anos de gerenciamento petista.

Esta é a verdadeira política que o PT tem desenvolvido: a política da conciliação de classes e, mais que isso, a política de total submissão aos interesses do imperialismo, da grande burguesia e do latifúndio.

Ao longo das últimas duas décadas, o jornal A Nova Democracia tem se sustentado nos leitores operários, camponeses, estudantes e na intelectualidade progressista. Assim tem mantido inalterada sua linha editorial radicalmente antagônica à imprensa reacionária e vendida aos interesses das classes dominantes e do imperialismo.
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