Em novembro de 2006 as duas maiores centrais sindicais do planeta, ambas ligadas ao imperialismo, uniram-se para se contrapor à intensificação das lutas trabalhistas autênticas em todo o mundo, iniciando assim mais um capítulo da história do sindicalismo antiproletário e oportunista. Que resultados vêm trazendo essa fusão?
Membros da orit-csi e clat — Central Latinoamericana de trabalhadores —
falam sobre sua unificação, mais uma fusão prevista.
Em Congresso realizado na Áustria, a chamada Confederação Internacional das Organizações Sindicais Livres — Ciosl, e a Confederação Mundial do Trabalho — CMT, abraçaram-se e criaram a aparentemente novíssima Confederação Sindical Internacional. Mas a CSI já nasceu velha e fruto da fusão de esforços anticomunistas, do divisionismo e da farsa do “entendimento” entre exploradores e explorados.
Como se previa, a colaboração de classes foi a tônica dos estatutos aprovados no Congresso que marcou a (re)fundação dos maiores representantes do sindicalismo traidor da classe operária, inclusive do sindicalismo amarelo.
Reformulando o lema inicial do maior sindicato anticomunista do USA, o AFL-CIO, que nasceu pregando a “paz entre as classes” — e que depois se desdobrou na própria Ciosl (ver box) — a CSI adotou palavras mais palatáveis para serem reverberadas pelo oligopólio internacional dos meios de comunicação. Assim, a nova/velha associação pelega “nasceu” repetindo a também velha panacéia sobre “humanizar o capitalismo”.
Funcionais ao imperialismo
Para sustentar essa mentira as falsas lideranças da classe operária propõem priorizar o entendimento com os chamados “organismos multilaterais”, justamente as instâncias internacionais onde são elaboradas e avaliadas as estratégias de exploração dos povos, nomeadamente o Banco Mundial, a Organização Internacional do Comércio, o Fundo Monetário Internacional e a Organização Internacional do Trabalho.
Na prática, a recém-criada Confederação Sindical Internacional representa mais uma instância de conspirações e sabotagens contra-revolucionárias ligadas ao imperialismo.
É significativo que as brasileiras CUT, Força Sindical e CGT — que já eram mancomunadas com a Ciosl — tenham aderido prontamente a essa “nova” Confederação.
Central Única da Traição
No Brasil, a Força Sindical e a CUT se esforçam desde seus primórdios para inviabilizar a ascensão de qualquer corrente sindical verdadeiramente enraizada nas massas trabalhadoras.
A Força Sindical foi fundada em 1991 com apoio do governo Collor, do patronato e do oligopólio nacional dos meios de comunicação, sob o lema pelego do “sindicalismo de resultados”.
No mesmo ano, a CUT — que existe desde 1983 — realizou seu IV Congresso, em São Paulo. Ali, a corrente Articulação Sindical empurrou goela abaixo dos trabalhadores a filiação a Ciosl, sob o discurso do seu então presidente, Jair Meneguelli, de que era preciso “deixar de dizer apenas não e começar a dizer sim”.
Mas desde sempre a CUT se pauta por temas colocados na ordem do dia pelos governos e pelos patrões, substituindo as grandes greves e os enfrentamentos com o capital monopolista pela política do participacionismo.
Seu currículo recente ostenta a colaboração com os algozes do povo. Ela insistiu na colaboração de classes nos fóruns tripartites e nas câmaras setoriais, fez acordo com o governo Fernando Henrique Cardoso para saquear a previdência dos trabalhadores, e firmou aliança com o governo Luiz Inácio para levar a cabo a rapina sobre direitos trabalhistas.
A CUT se mexe também contra as conquistas do próprio movimento sindical brasileiro. A unicidade sindical, estabelecida na Constituição Federal de 1988, assegura a representação dos trabalhadores de uma determinada categoria profissional por um único sindicato, empenhado em lutas comuns.
A unicidade é uma conquista do povo, proporcionando aos trabalhadores a mínima segurança contra as manobras divisionistas oriundas do patronato e possibilitando a formação e manutenção de sindicatos fortes. Significa uma garantia contra o poder do capital, interessado no divisionismo e nos sindicatos fracos e subservientes.
Pois é justamente contra unicidade sindical que a CUT e a Força Sindical vêm mexendo seus pauzinhos, no âmbito da contra-reforma trabalhista arquitetada pela gerência FMI-Ciosl-PT.
Uma que se inspira nos esforços divisionistas do imperialismo no pós-guerra, quando a CIA e o Vaticano patrocinaram o fortalecimento de centrais como a Ciosl para esvaziar o movimento sindical combativo, na época encarnado na Federação Sindical Mundial. Tudo isso sob o slogan do “pluralismo sindical”, lançado pelo USA no vento oportunista que soprava com a Convenção 87 da OIT — exatamente sobre “Liberdade Sindical e Proteção do Direito à Sindicalização”, que na prática significava divisionismo e cooptação.
Sindicato da Nova Ordem
Junto com as centrais sindicais brasileiras, outras organizações internacionais subordinadas ao capital também aderiram à nova/velha CSI.
Um exemplo é a Confederação Européia de Sindicatos, a CES, que sob as últimas direções passou a adotar uma vergonhosa subordinação aos objetivos anti-populares da Comissão Européia. A CES está inclusive implicada na agressão imperialista ao Kosovo e na campanha a favor de um documento constitucional europeu — elaborado segundo os interesses dos potentados da Europa — a “Constituição Européia”, que foi devidamente rechaçada pelos povos da França e da Holanda.
A concentração das centrais e confederações pelegas vinha sendo articulada já há algum tempo, sempre com o intuito de minimizar os perigos que o acirramento da luta de classes representa para o sistema capitalista, boicotando as perspectivas revolucionárias do proletariado e batendo na tecla do reformismo, postura tão cara à falsa esquerda e tão conveniente para o poder econômico.
Essa atualização do anti-sindicalismo ocorreu no fim do ano passado, simultaneamente ao ápice do empenho dos governos e do patronato europeus em uma nova ofensiva anticomunista, com direito a ilegalização dos partidos comunistas do Leste da Europa. Esses partidos foram intimados a abdicar de seus programas revolucionários e substituí-los por plataformas reformistas, sob pena de serem declarados organizações clandestinas.
O silêncio e a complacência da nova/velha Confederação Sindical Internacional com o anticomunismo da Nova Ordem imperialista é muito coerente com a linha de atuação adotada por sua precursora, a CIOSL, que desde sua fundação tem como principal mote o ataque à influência de lideranças comunistas entre a classe trabalhadora, a fim de minar o desenvolvimento de um programa político comprometido com os interesses dos povos.
Durante a preparação para a fusão com a CMT, A Ciosl insistia permanentemente que a unificação só poderia ter lugar com base nos chavões do “sindicalismo democrático e independente”, forma de dissimular a exclusão do sindicalismo autêntico na utilização oportunista dos conceitos de democracia e independência.
Aqueles que a Ciosl não considera “democráticos e independentes” são os mesmos que os porta-vozes do imperialismo e da propaganda contra-revolucionária criminalizam.
A Ciosl sempre foi presença confirmada nas reuniões do capital monopolista, além de receber, em determinada ocasião e em seu próprio congresso pretensamente soberano, o então diretor geral do FMI, Michel Camdessus. Isso, para ela, é ser “democrático e independente”.
AFL-CIA
E o imperialismo sindical vem de longe, de muito longe. A ligação da nova/velha Confederação Sindical Internacional com o imperialismo é a atualização de uma dobradinha que vem desde sua “tataravó”.
A CSI nasceu da Ciosl, que nasceu da AFL-CIO, que nasceu da AFL, que depois da Primeira Guerra Mundial tentou, sem sucesso, criar uma Federação Pan-Americana de Sindicatos para cooptar as organizações de trabalhadores das Américas do Norte, Central e do Sul.
Como acontece nos dias de hoje, essa tentativa — frustrada pelos povos de todo o continente — de disseminar a cooptação e o divisionismo foi obviamente apoiada pelos patrões. Na época, o então presidente do USA, Edmund Wilson, financiou a natimorta iniciativa anti-trabalhista com uma doação de 50 mil dólares.
Seria ilusão pensar que essas artimanhas do patronato e dos governos são coisas que ficaram no passado.
Agora mesmo, no próprio USA, movimentos legítimos de trabalhadores tentam tornar públicos os arquivos secretos da AFL-CIO, precursora direta da Ciosl, através de uma campanha chamada “limpeza do ar”, cujo objetivo é trazer à tona os detalhes da colaboração entre a AFL-CIO e a CIA em operações internacionais de sabotagem a sindicatos, governos democráticos e interesses nacionais contrários aos interesses do imperialismo ianque — o que rendeu a AFL-CIO a alcunha de AFL-CIA.
A direção da AFL-CIO resiste a abrir os arquivos da podridão, mas os trabalhadores voltam à carga, na luta, na independência e na liberdade.
A nata do colaboracionismo
Financiada pelos USA, a Confederação Internacional das Organizações Sindicais Livres — Ciosl surge em 1949 como uma dissidência da gloriosa Federação Sindical Mundial FSM. Antes de cair nas mãos do social-imperialismo russo que comandava o retorno ao capitalismo, não apenas na URSS como em todo o campo socialista, a FSM chegou a ser a mais combativa central sindical do mundo, contando com 190 milhões de membros,.
A FSM foi criada em Paris, em 1945, no I Congresso Mundial dos Sindicatos. Seus objetivos, constantes nos estatutos eram:
A luta contra a guerra e suas causas; defesa dos mais prementes interesses dos trabalhadores de todo o mundo; estabelecimento de uma frente comum dos sindicatos de todos os países em defesa dos direitos econômicos e sociais dos trabalhadores e de suas liberdades econômicas, organização das informações entre sindicatos referentes à unidade internacional.
O último Congresso da Federação Sindical Mundial ocorreu em Pequim, em 1960. O conluio entre o social imperialismo russo e o imperialismo ianque permitiu a sobrevivência da Ciosl somente quando destruiu inteiramente a FSM.
A Ciosl é uma junção da Trades Union Congress TUC, a federação inglesa, e com a AFL-CIO, a maior central sindical do USA — fundada sob uma plataforma reformista, anticomunista e anti-grevista, sob o lema oportunista da “paz entre as classes” — que, por sua vez, é resultado da fusão entre a Federação Americana de Trabalhadores e o Congresso das Organizações Industriais dos Estados Unidos.
O conluio oficializado em novembro de 2006 entre a própria Ciosl e a Confederação Mundial do Trabalho, que resultou na formação da Central Sindical Internacional, é o desdobramento, ao longo dos anos, de outras fusões entre organizações de cunho colaboracionista e ligadas ao imperialismo, realizadas sob a mesma lógica daquelas fusões através das quais o capital monopolista se organiza melhor para aumentar os lucros e acirrar a exploração dos trabalhadores.
A CMT é obra do Vaticano e congrega os sindicatos amarelos ou confessionais. É a política dirigida pela burguesia mais reacionária que cria instrumentos aparentemente destinados à luta para confundir os setores mais atrasados do movimento operário. Com a queda do fascismo tradicional na Segunda Guerra, a parte não derrotada do imperialismo encampou os sindicatos amarelos e generalizou o controle dos sindicatos e suas organizações superiores, organizações juvenis, ONGs e até partidos políticos, após terem eliminado fisicamente os dirigentes sindicais que mais se destacavam no mundo.
Originalmente a expressão sindicalismo amarelo proveniente do uso da bandeira do Vaticano, amarela, enquanto que os proletários conscientes preferem a cor tradicional da revolução: a bandeira vermelha.
Foi o grupo de Luiz Inácio, Articulação, quem filiou a CUT à Ciosl.
O braço da Ciosl na América Latina, conhecido como Organização Regional Interamericana dos Trabalhadores ORIT, continua seu trabalho de cooptação e divisionismo, mesmo depois da fusão que transformou a Ciosl na nova/velha CSI.