A retomada do movimento estudantil

A retomada do movimento estudantil

Nos dias 10, 11, 12 e 13 de junho, Belo-Horizonte foi palco da IV Assembléia Nacional dos Estudantes do Povo. Com o chamado de “Defender a educação pública e gratuita com unhas e dentes”, as discussões centraram-se na luta contra a implementação da reforma contra-revolucionária na universidade, na propaganda da Revolução Agrária e na luta anti-imperialista.

Também participaram do encontro, contribuindo com as discussões e observando-o, diversas organizações: Liga Operária, Liga dos Camponeses Pobres do Norte de Minas e do Centro-oeste, Sindicato dos Rodoviários e o da Construção Civil de Belo Horizonte, Movimento Feminino Popular, Movimento de Educação Popular, Juventude índigena da tribo Tapeba (CE), Centro brasileiro de solidariedade aos povos, Federação das entidades árabes do Brasil, Frente de defesa dos direitos do povo, Juventude Nova Democracia, da Turquia e a Frente Revolucionária do Povo (MLM), da Bolívia.

No início do encontro foram organizadas as comissões que garantiriam o funcionamento do evento: disciplina, organização, agitação, cultura, alimentação, alojamento, saúde e limpeza. As comissões envolveram todos os presentes, uma mostra de que o evento foi construído pelos próprios estudantes e apoiadores, sem contar com o financiamento de políticos. O dinheiro para a realização do evento veio dos próprios estudantes, que anteriormente à assembléia lavaram carros, venderam água nos sinais, fizeram rifas e bingos.

Os quatro dias de assembléia foram marcados por uma alegria contagiante. Cada região fez o relato sintético das lutas, mostrando, de fato, a que vieram e a que estão dispostos. Os aplausos e palavras de ordem interrompiam por diversas vezes as intervenções, revelando a satisfação da plenária.

No 1º dia houve uma discussão sobre educação brasileira com uma palestra proferida pela professora Rose Mary Crosso Schuttenberg, da UFMG, representando a Associação Nacional dos Docentes em Ensino Superior — Sindicato Nacional (ANDES-SN). Neste ponto a discussão foi calorosa, com relatos dos bárbaros ataques que a educação vem sofrendo, como a proposta de resolução do Conselho Nacional de Educação para o curso de Pedagogia, restringindo o curso à área de licenciatura, ou seja, eliminando a pesquisa e a ciência.

A noite do 2º dia comportou um debate onde as inscrições para fala esgotaram-se em pouquíssimos minutos: o caminho da emancipação da mulher. Uma companheira do MFP fez uma exposição breve, abrindo em seguida para perguntas e intervenções. As falas dos estudantes ressaltaram a importância da participação da mulher na luta popular, caminho de sua emancipação. Uma estudante do Paraná relatou que em seu estado, o MEPR é organizado, em sua quase totalidade, por companheiras firmes e decididas. Também foi marcante a intervenção de uma camponesa, que em meio a lágrimas de emoção convocou todos a “Despertar a fúria revolucionária da mulher”.

Os dois últimos dias reafirmaram a posição que o MEPR tem tomado até agora, em apoiar todas as lutas dos povos contra o imperialismo e, em especial, a luta dos camponeses brasileiros pela terra e pela destruição do latifúndio. A 4º ANEP foi fechada numa tarde de segunda-feira com uma combativa manifestação pelas ruas do centro de Belo Horizonte em apoio à revolução agrária. Iniciou-se em frente ao INCRA, com a entrega de uma carta de exigências ao superintendente do órgão. A manifestação parou o trânsito de Belo Horizonte no horário de pico, sendo aplaudida e recebendo o apoio de transeuntes e motoristas. Entoando músicas e palavras de ordem os estudantes demonstraram seu apoio irrestrito à luta dos camponeses pobres do país, que vêm destruindo o latifúndio e caminhando rumo à construção da Nova Democracia.

A retomada do caminho

O movimento estudantil brasileiro atingiu seu auge na década de 60, na luta contra a gerência militar e o acordo MEC-USAID1. Neste momento o movimento estudantil radicalizou-se, participando ativamente, não só das demandas estudantis, mas de todas as lutas do nosso povo. Um movimento estudantil combativo e rebelde, que tinha como princípio servir ao povo e à transformação do sistema. Estudantes que não se furtaram de enfrentar a repressão genocida perpetrada pela gerência militar, que não abandonaram a luta revolucionária e verteram seu sangue na defesa dos interesses do povo.

Com o fim da gerência militar e a transição à gerência civil, denominada “redemocratização”, o movimento estudantil reaparece na sua forma mais despolitizada e oportunista, expresso pelas direções de UNE e UBES (PCdoB e PT). É esta direção que hoje defende a “Reforma universitária” — outrora rechaçada pela UNE combativa de 68 — e a gerência FMI-PT.

O MEPR busca resgatar justamente o caráter combativo que predominou no movimento estudantil durante as décadas de 60 e 70. Atuando nas lutas concretas de cada universidade, na defesa da educação pública e gratuita, na luta contra a implementação da reforma contra-revolucionária da universidade.

Para esta corrente do movimento estudantil, lutar exige ações concretas, por isso há tarefas urgentes a cumprir. Eles vêm organizando lutas como o “boicote às taxas”, que consiste numa ação judicial contra a cobrança inconstitucional de taxas nas universidades públicas. Por exemplo, a Universidade Federal de Goiás cobra R$ 95 pela matrícula e a Universidade Federal de Minas Gerais, R$ 163 (semestral). A vitória nas ações judiciais contra as taxas tem mostrado aos estudantes que é possível lutar e vencer, tem provocado o levantar de outras bandeiras de luta como a criação e melhoria das “casas de estudantes,” manutenção pública dos restaurantes universitários, ampliação das bolsas de pesquisa, mais concursos públicos para professores, voto universal na escolha de reitores e diretores, a luta por um currículo científico e redução das mensalidades nas instituições privadas.

Cada uma destas reivindicações confronta-se com a reforma contra-revolucionária que a atual gerência começa a implementar, o que faz com que cada vitória seja um golpe na tentativa do governo de desmantelar o ensino público. Sempre firmes na posição de defesa da universidade, não aceitam negociar nos moldes do oportunismo, no “toma lá dá cá”. Denunciando os agentes do oportunismo no meio estudantil, mostram que os estudantes querem lutar — ao contrário do que esbravejam os oportunistas de UNE/UBES — e que organizados podem, não apenas evitar perder direitos, mas conquistar as reivindicações históricas do movimento estudantil.

Estudantes do Povo

O dever da juventude, sua obrigação principal, é defender o povo, dar prosseguimento ao melhor das tradições de todos os povos, que é a edificação de uma sociedade livre da exploração do homem pelo homem. Nessas condições, é natural que a vanguarda estudantil escolha o caminho de servir ao povo de todo o coração.

A denominação Estudantes do Povo acompanha as tradições do socialismo proletário, a compreensão de que a fonte de todas as atividades e expressões humanas (das mais complexas às relações imediatas) é o trabalho e quem o produz é o povo, constituído por classes e setores de classes que, por sua situação objetiva, historicamente estão em condições de resolver as contradições sociais referentes ao desenvolvimento revolucionário. Daí a Assembléia Nacional dos Estudantes do Povo — ANEP.

Foi assim que essa corrente do movimento estudantil decidiu envergar as tarefas de apoiar os movimentos comprovadamente populares e democráticos. Como estudantes, assumem a condição de estudantes do povo, tanto na luta pela produção científica nas universidades, quanto no apoio direto aos movimentos de massas.

Partindo desta concepção — e pelo fato de considerar como contradição principal no nosso país aquela que opõe o campesinato pobre ao latifúndio — os estudantes do povo tem apoiado irrestritamente a luta pela terra. Organizam visitas às tomadas de terra das ligas de camponeses pobres, debates com camponeses nas universidades, arrecadação de roupas e alimentos, denunciam os ataques policiais e as prisões políticas dos camponeses pobres. A consigna de servir ao povo de todo o coração, entoada por estes estudantes, se torna clara com a presença, na ANEP, de um ex-militante do MEPR, que se tornou professor em uma escola popular do movimento camponês revolucionário no Pará.

Os Estudantes do Povo têm apoiado todas as lutas e formas de luta do povo pobre e oprimido. Assim foi na histórica luta dos sem-casa em Betim (MG), em 1999; no Sonho Real, em Goiânia, neste ano — quando seis de seus militantes foram presos durante o despejo; nas manifestações pela redução das tarifas de ônibus em Uberlândia (MG) e Florianopólis (SC); na luta dos índios Tapeba do Ceará pela dermarcação de suas terras, por uma escola diferenciada e no apoio político à resistência iraquiana e palestina.


1- O Acordo MEC-USAID foi realizado entre o Brasil e uma agência do governo ianque, a United States Agency for International Development, em 1968. Com este acordo representantes do MEC receberam treinamento em universidades do USA e depois disseminaram a filosofia pedagógica útil ao imperialismo. A reforma do ensino superior, gerada pelo acordo, baseou-se em três pontos: transformar as universidades em fundações privadas, definir os currículos e restringir a autonomia das universidades.

A construção da corrente democrática dos estudantes

1995

  • Rompimento com o nacional reformismo do MR-8 e a Ubes no congresso de 1995 em Goiânia. Decidimos não mais participar de Une e Ubes.

1997

  • Marco da posição antiimperialista: manifestação contra a ALCA e o Mercosul, durante o “Encontro das Américas”, em Belo Horizonte.

1999

  • Apoio à luta da ocupação de sem casas na Vila Bandeira Vermelha em Betim-MG. O movimento sofre sucessivos cercos da reação desde então.

2000

  • I Encontro Nacional dos Estudantes do Povo – decisão de conformar o Movimento Estudantil Popular Revolucionário.

2001

  • Realização da I Assembléia Nacional dos Estudantes do Povo.

2002

  • II Assembléia Nacional dos Estudantes do Povo.

2003

  • Manifestação no consulado do USA, no Rio de Janeiro, contra a agressão ianque no Iraque.
  • III Assembléia Nacional dos Estudantes do Povo.
  • Intervenção no congresso da Une, convocando os estudantes a romper com esta entidade oficial, pelega e governista.

2005

  • Apoio à luta dos sem-casa no Sonho Real, em Goiânia (GO).
  • IV Assembléia Nacional dos Estudantes do Povo.

(fonte: www.mepr.org.br)

O MEPR tem como um de seus princípios fundamentais servir ao povo de todo o coração. Esta corrente se autodenomina como a corrente democrática do movimento estudantil, de caráter anti-feudal e anti-imperialista, lutando por cumprir três tarefas no meio estudantil: agitar e propagandear a revolução, organizar a luta das massas e combater o oportunismo.

Ao longo das últimas duas décadas, o jornal A Nova Democracia tem se sustentado nos leitores operários, camponeses, estudantes e na intelectualidade progressista. Assim tem mantido inalterada sua linha editorial radicalmente antagônica à imprensa reacionária e vendida aos interesses das classes dominantes e do imperialismo.
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