Congresso do Partido Comunista — Maoísta — da Índia
Nota da Redação – Um ataque de guerrilheiros comunistas no dia 12 de abril, no distrito de Koraput, estado de Orissa, no leste da Índia, foi amplamente noticiado pelo monopólio dos meios de comunicação. Na ação, 15 militares das forças de repressão do Estado indiano foram mortos em confronto com 100 guerrilheiros maoístas, que perderam 4 combatentes. De acordo com as informações veiculadas pelas agências internacionais de notícias, os guerrilheiros realizaram a ação em uma mina de bauxita com a finalidade de conquistar explosivos para a Guerra Popular.
A Índia está vivendo o auge da insurreição naxalita dirigida pelo Partido Comunista da Índia (maoísta) e seu braço armado, o Exército Popular Guerrilheiro do Povo. Existe ainda outra organização guerrilheira impulsionada pelo Partido Comunista Marxista-Leninista Guerra Popular. Estas duas organizações fizeram um chamamento a boicotar as eleições realizadas em abril. No primeiro dia de votações a guerrilha maoísta realizou uma série de ações de sabotagem e boicote que contou com ampla participação das massas populares. Urnas foram incendiadas. 19 soldados da polícia e das forças de repressão do Estado indiano foram mortos durante os enfrentamentos.
Os naxalitas estão se convertendo em um movimento político de alcance nacional. Atuam em 14 dos 28 estados da Índia (Chhattisgarh, Jharkhand, Uttar Pradesh, Asma, Uttaranchal, Kerala, Tamil Nadu, Bengala Occidental, Gujarat, Andhra Pradesh, Madhya Pradesh, Orissa, Maharashtra e Bihar – ver mapa), o que, em números, significa que os maoístas controlam 182 dos 602 distritos do país. Sua progressão acelerada indica que começa a se estender para as cidades, especialmente as zonas operárias de Delhi, Mumbai, Raipur, Pune e Jammu, onde alternam as ações propagandísticas com as militares. O próprio governo indiano calculava em 2007 que de 30% a 35% do território estavam sob controle maoísta, porcentagem que deve ter crescido acentuadamente.
Os êxitos revolucionários no campo são inquestionáveis: nem a polícia nem os funcionários estatais se atrevem a entrar em Bastar, uma extensa zona do estado de Chhattisgarh, de uns 100 mil km², e suas ações contra os paramilitares da Salwa Judum (“Caçadores da Paz”, armados pelos latifundiários e o próprio Estado que ainda lhes oferece um soldo) estão provocando a desmoralização e deserção destes mercenários nos combates.
O movimento naxalita é a fração vermelha e maoísta dos comunistas indianos. O movimento liderado por Charu Mazumdar representou o caminho revolucionário na luta de duas linhas destampada no seio do Partido Comunista da Índia nos anos de 1960 contra o revisionismo moderno encabeçado por Krushev na URSS. Charu Mazumdar, defendendo o maoísmo, ou pensamento Mao Tsetung, como era denominado o maoísmo àquela época, formulou o caminho para a Revolução de Nova Democracia organizando a juventude da classe operária, os camponeses e as massas populares indianas para desencadear a Guerra Popular Prolongada.
Nesta ocasião, AND publica um documento de autoria de Charu Mazumdar que esclarece a luta de linhas no movimento comunista indiano e representa os primeiros passos do movimento naxalita na Índia.
Charu Mazumdar |
A vitória da Revolução Democrática Popular neste país de 500 milhões** de habitantes resultará num inevitável colapso do capitalismo e revisionismo mundial. Esta Revolução acabará com todos os poderes imperialistas do mundo, a começar pelo do USA, que lidera o imperialismo mundial. O imperialismo ianque não adotou apenas todos os instrumentos agressivos da Alemanha, Itália e Japão no pré-guerra, mas desenvolveu-os ao máximo após o conflito. Estendeu seus tentáculos a todos os cantos do planeta e impôs à Índia sua fantasia neocolonialista. O povo vietnamita colocou-se na dianteira desta batalha contra este imperialismo agressivo que dissemina ódio nos países da Ásia, África e América Latina. A vitória da Revolução aniquilará o monstro imperialista.
A Revolução Democrática Popular neste país será levada à vitória contra todas as formas de poder imperialista existentes no mundo, particularmente o do USA, que lidera o imperialismo mundial. O imperialismo ianque não só adotou todos os instrumentos de agressão de que se valeram a Alemanha, a Itália e o Japão, no pré-guerra, como posteriormente, levando suas atividades agressivas a todos os pontos do mundo, e envolvendo a Índia na mais completa submissão. O povo vietnamita está na frente desta batalha contra o imperialismo que revolta os países da Ásia, África e América Latina. A Revolução Indiana haverá de destruir o monstro imperialista.
A Revolução Democrática Popular será levada à vitoria neste país através da separação da Grande Revolução Socialista de Outubro do lixo oportunista da URSS. Isto porque os atuais líderes do Estado, do Partido e do Exército soviético adotaram uma linha revisionista e estabeleceram no país uma ditadura burguesa. Em conluio com os imperialistas ianques, expandiram a exploração e passaram a dominar vários países da Ásia, África e América Latina.
Na Índia, os líderes soviéticos converteram-se no principal mascate do imperialismo do USA, apesar de sua ostentatação em nome do grande Lenin. Com a ajuda de uns patetas, os líderes soviéticos estão fazendo da Índia terreno de exploração irrestrita e frustração das massas rebeldes, convertendo-as deste modo em cães de fila do imperialismo ianque e aliados dos reacionários indianos. A vitória da Revolução Indiana servirá não só para sepultar o revisionismo soviético e de seus lacaios indianos, como também assegurar a sua morte no mundo inteiro.
A Revolução Democrática Popular em nosso país será conquistada à base do pensamento do Mestre Mao. O que deterninará o comprometimento com a Revolução será o engajamento às ideías do Mestre. Ou, mais ainda, a asssimilação das idéias é que indicará o quanto se é revolucionário ou não. Mais ainda, a força do movimento dependerá de quanto possamos espalhar e propagar o pensamento do Mestre entre camponeses e operários. Isto porque o pensamento do Mestre não é simplesmente o marxismo-leninismo da era presente. Ele levou essas idéias muito mais adiante, para um estágio inteiramente novo. Esta é a razão de estarmos na era do pensamento de Mao.
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As marcas vermelhas e laranjas
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A Revolução Democrática Popular na Índia tem de ser direcionada contra a burguesia burocrática e compradora, assim como contra a exploração feudal nas grandes áreas rurais. Como 400 milhões, em uma população de 500 milhões, vivem no campo e porque mesmo nos dias atuais todos estão submetidos à exploração, o feudalismo persiste em sua pior forma, e a rivalidade entre patrões e empregados se agrava. Esta situação só pode ser resolvida no campo através do estabelecimento de áreas liberadas pelas forças armadas populares, sob a liderança da classe operária.
Esta é a tarefa mais importate que temos pela frente nos dias atuais, já que a Índia atravessa um período revolucionário e este caminho indicado pelo Mestre tem sido cada vez mais aceito pelas massas.
Nossa Revolução tem de voltar-se contra o Congresso [Partido do Congresso Indiano], que representa a burguesia burocrática e compradora, a qual, temerosa dos levantes das massas no pós-guerra, acertou-se com os imperialistas, apoiada pelos senhores feudais. Os líderes do dito Partido Comunista da Índia cooperam ativamente com essas forças reacionárias, tanto assumindo compromissos, quanto perpetrando traições. Eles aviltaram a bandeira vermelha erguida pelos heróis de Kayyur, Punnapra, Vayullur e Telengana e as centenas de mártires de Bengala e outras partes do país.
Hoje, todos os partidos da Índia se acumpliciaram do imperialismo ianque. O revisionismo soviético e os reacionários da Índia são inimigos da Revolução. Esta é a razão pela qual a nossa Revolução na Índia só pode ser vitoriosa se for liderada pela classse operária entusiasmada pelo pensamento de Mao.
Para organizar esta nova Revolução, precisamos de um partido da classe operária, um Partido Comunista, cuja ideologia política seja o marxismo-leninismo, seguindo o pensamento de Mao Tsetung.
Porém, como organizar este partido? Será juntando os vários grupos que professsam o pensamento de Mao Tsetung, promover uma revolta contra os líderes desses partidos, e declarar que formou-se um novo partido maoista? Certamente que não. Agitar a bandeira da revolta não basta para fundar um partido maoísta. Esses camaradas rebeldes precisam por em prática os mandamentos de Mao e preparar quadros operários e camponeses. Só depois disto é que poderão dar a tarefa por terminada.
Os velhos quadros políticos estão, indubitavelmene, entre esses quadros. Porém, basicamene, esse partido será formado pela juventude e a classe operária, o campesinato e parte da classse média que não só aceita os mandamentos do Mestre como os aplicam no próprio modo de vida.
Esse partido não será apenas revolucionário, mas ao mesmo tempo as forças armadas do povo e o Poder do Estado.
Todo membro do partido deve participar das lutas nas esferas política, militar, econômica e cultural. Precisamos cuidar logo da organização desse partido. Não podemos fazê-lo em bases nacionais, mas isto não nos deve desencorajar. Vamos atuar onde pudermos, desafiando o medo de ser minoria e avançar conforme nos ensina o Mestre. Nossa tarefa não é fácil, ao contrário, é muito difícil. Nossa luta precisa gerar entusiasmo pelo mundo inteiro. Só assim poderemos ser úteis aos bravos do Vietnã. Somente um partido revolucionário pode levar à vitória.
Aqueles que imaginam que nosso propósito principal seja atrair a grande maioria dos partidos ditos marxistas e que um partido revolucionário pode ser organizado deste modo, estão consciente ou inconscientemente pensando em formar um partido para disputar eleições. Esquecem que os membros dos partidos ditos marxistas se acostumaram à prática do revisionismo e, como resultado disto, perderam muitas de suas qualidades revolucionárias. Precisam passar novamente por treinamento para voltarem a ser revolucionáios. É por isso que um partido revolucionário não pode ser levantado a partir do que é velho. O novo partido deve ser montado com a juventude da classe operária, do campesinato e da classe média através da educação e do doutrinamento com as lições do Mestre.
A primeira condição para construir um partido revolucionário é organizar a luta armada no próprio terrtório. Enquanto isto acontece, difunde-se a idéia da Revolução. E assim teremos, como o Mestre ensina, revolucionários não só de palavras. Porém nosso partido será organizado por aqueles que são efetivamente revolucionários. Do contrário, o partido será reduzido a uma sociedade de debates, como o plenário Burdwan.
O que aconteceu em Burdwan? O comando soviético converteu-se no inimigo número 1 dos movimentos de libertação nacional de vários países e trabalha abertamente contra as revoluções nacionais. Ainda assim, há quem se engaje em controvérsias acerca de Burdwan e a restauração do capitalismo em um país onde a ditadura do proletariado já foi eliminada, dando lugar à ditadura burguesa.
Assim, o que ocorreu em Burdwan alegrou os corações dos revisionistas do mundo e remarcou o êxito da conspiração revisionista. Ninguém, em Burdwan, rompeu com os traidores.
Assim que, basear a força revolucionária dentro desses partidos, nunca poderemos ter um partido revolucionário. Precisamos centrar nas centenas de milhares de pesssoas jovens que estão fora do partido. Só com eles podemos construir um partido genuinamente revolucionário e estabelecer a luta armada.
Camaradas! Pesa sobre nossos ombros uma grande responsabilidade. Todos os reacionários do mundo estabeleceram base em nossa terra e a estão usando como centro de combate às lutas de libertação no Sudeste Asiático. Estão tentando usar a Índia como base de suprimento para a agressão ao bravo povo chinês. Foi exatamente isto que os renegados Kosygin, Tito e Chester Bowles conspiraram com Indira Gandhi em Nova Delhi. Assim que, fazer a Revolução em nosso país é uma grande responsabilidade internacional. Esta é exatamente a razão pela qual a pequena centelha de Naxalbari espalha alegria e entusiasmo por toda a Ásia Ocidental, aos líderes do grande Partido Comunista da China, aos revolucionarios do mundo inteiro.
Há sobre nossos ombros uma responsabilidade sagrada, e temos de assumí-la. Não há dúvida de que isto requer muito sacrifício de nossa parte. Mas qual foi o revolucionáro que até hoje intimidou-se com sacrifícios?
O Mestre Mao ensinou: Precisamos ousar lutar e ousar vencer. Ele permanece com a gente. A vitória será nossa!
Viva o Mestre Mao Tsetung!
Vida longa para o Mestre Mao!
Viva a Revolução de Nova Democracia da Índia!
*A Revolução Democrática do Povo Indiano foi publicado originalmente na série “Selected Works of Charu Mazumdar” (Liberation). O trabalho, que está incluído no Marxists Internet Archive, é da autoria de Charu Mazumdar, e saiu em junho de 1969, após os acordos para deflagrar o levante Naxalbari e poucos anos antes de sua morte sob tortura pela polícia indiana. Agradecemos à Revolution in South Asia pelas informações.
**Em 2008 a Índia possuía 1.132.446,000 habitantes.