A síntese musical pernambucana do SaGRAMA

73/12b.jpg

A síntese musical pernambucana do SaGRAMA

Executando as músicas da cultura popular pernambucana numa linguagem mais elaborada, o SaGRAMA trabalha com os diversos gêneros do folclore e folguedos, a exemplo de frevo, maracatu, cirandas, baião, coco, xaxado, boi de carnaval, caboclinhos, sem perder o tempero popular. Autores da trilha sonora do filme O auto da compadecida, o grupo tem 7 discos gravados, nos quais aparecem composições próprias, enriquecendo o que chamam de ‘a música erudita brasileira’.

http://jornalzo.com.br/and/wp-content/uploads/73/12b-035.jpg

— Somos um grupo de música instrumental que surgiu em 1995 no Conservatório Pernambucano de Música. Eu e alguns outros professores nos juntamos aos alunos mais adiantados, para realizar um trabalho de música de câmara, trabalhando a música erudita brasileira — fala Sérgio Campelo, diretor artístico, compositor e arranjador do grupo.

— Com o passar do tempo, fomos incluindo as canções da cultura popular daqui e neste momento criamos o que é o grupo hoje: pessoas que tocam uma música instrumental, elaborada e baseada nos ritmos e gêneros dos nossos folguedos. Fomos criados para interpretar, mostrar e elevar a música da cultura pernambucana, fortalecendo ainda mais os folguedos populares, a raiz da nossa música, e através disso mostrar a nossa cultura para o mundo — explica.

— O Brasil é um país riquíssimo em música, temos diversas manifestações folclóricas em todas as nossas regiões. Para mim, a música erudita é exatamente a releitura delas, numa situação mais elaborada. Os grandes compositores já faziam isso em seus países. Por exemplo, Tchaikovsky construiu toda a sua obra a partir de elementos do folclore da Rússia — continua.

No Brasil, Sérgio destaca o compositor Villa-Lobos, que considera um dos mais importantes de todos os tempos.

— Ele usou elementos das cirandas, das modinhas, do choro, dos maxixes, do lundu, e outros, em sua obra, levando essas músicas para uma leitura através de uma orquestra sinfônica, de grupos de câmara, pianistas, solistas, com a linguagem mais elaborada — comenta, acrescentando que música de câmara é uma forma de música erudita composta para um pequeno grupo de instrumentos ou vozes.

— Também o choro é um gênero essencialmente popular, de rodas, de regionais, mas, muito bem elaborada enquanto música. É uma música erudita brasileira. Ernesto Nazaret, Chiquinha Gonzaga, Radamés Gnatalli e muitos outros desenvolveram um trabalho excelente com esse tipo de música contemplada — fala.

O SaGRAMA é formado por Sérgio Campelo, flauta tradicional, flauta baixo, flauta em sol, flautim, pífano e fole de 8 baixos; Frederica Bourgeois, que também faz algumas flautas, como o pífano, flautim e flauta clássica; Crisóstomo Santos, clarinete e clarone; Cláudio Moura, violão, viola nordestina; Alex Sobreira, violão de 7 cordas; João Pimenta, contrabaixo acústico; Antônio Barreto, marimba, vibrafone, xilofone e percussão; Hugo Medeiros, percussão rítmica e bateria; e Tarcísio Resende, percussão rítmica e percussão de efeito.

— Desde a nossa formação já mudaram alguns músicos, mas os instrumentos utilizados permaneceram os mesmos. Nos consideramos um grupo de câmara que mistura instrumentos da cultura popular como pífanos, viola nordestina, entre outros, com instrumentos eruditos, como flauta, clarinete — declara.

Releituras do muito bom esquecido

— Eu e o Cláudio Moura dividimos a direção artística, composições e arranjos do grupo. Temos sempre a preocupação de trabalhar com coisas inéditas e gêneros adormecidos. Por exemplo, pegamos obras do Capiba, um compositor de frevo, mas que não tem só frevo, descobrimos um maracatu que ele fez e nunca gravou, e fazemos uma releitura dessa obra — explica Sérgio.

— Existe uma diversidade muito grande de gêneros musicais, folguedos, dentro do folclore de Pernambuco, e entre isso tudo, muitas coisas que ainda não foram exploradas. Então, vamos atrás dos cantos de lavadeiras na beira do São Francisco, ou das influências árabes, africanas, europeias que a música nordestina teve, buscando um repertório com música autêntica, sendo que não há linguagem num trabalho transcrito para a nossa formação, que é bastante inusitada — acrescenta.

— Para deixar tudo bem registrado, gravamos nosso primeiro disco, SaGRAMA, em 1998. No ano seguinte fizemos Engenho, procurando retratar gêneros que entraram no primeiro CD. Os dois primeiros são mistos, contendo diversos gêneros da nossa cultura popular. Em 2000 gravamos a trilha sonora do filme O auto da compadecida, de Guel Arraes, baseado na obra de Ariano Suassuna — conta.

Segundo Sérgio, esse é um dos trabalhos mais pedidos pelo público durante suas apresentações.

— Em 2002 fizemos O Brasil império na TV, que não foi comercializado, apenas distribuído em escolas públicas, bibliotecas e outros ligados a educação e cultura em todo o país. Em 2005, gravamos Tábua de pirulito, retratando a festividade, a alegria do povo nordestino. Em 2007, lançamos Tenha modos, só com gêneros do carnaval de Pernambuco, como frevo, maracatu, caboclinho, samba caboclo e mais — diz.

— Nosso disco mais recente, gravado em 2008 e relançado em 2010, pela Biscoito Fino, gravadora do Rio de Janeiro, é Chão batido, palco e picadeiro. São três momentos da cultura nordestina: ‘chão batido’, referindo-se a música crua de raiz, os folguedos autênticos que acontecem na zona rural de Pernambuco; ‘picadeiro’, a música intermediária de alegria, circense, itinerante; e ‘palco’, que é a música levada ao palco, mais trabalhada, com caráter erudito — finaliza Sérgio.

O grupo faz apresentações em teatros e nas ruas, em eventos populares pelo nordeste e outras regiões do país, passando por São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Paraná. Também já participou de espetáculos teatrais, interagindo com os atores, dentro do contexto da peça. E Sérgio Campelo se apresenta também, há 26 anos, na Orquestra Sinfônica do Recife.

Para contatar o SaGRAMA: www.myspace.com/sagrama

Ao longo das últimas duas décadas, o jornal A Nova Democracia tem se sustentado nos leitores operários, camponeses, estudantes e na intelectualidade progressista. Assim tem mantido inalterada sua linha editorial radicalmente antagônica à imprensa reacionária e vendida aos interesses das classes dominantes e do imperialismo.
Agora, mais do que nunca, AND precisa do seu apoio. Assine o nosso Catarse, de acordo com sua possibilidade, e receba em troca recompensas e vantagens exclusivas.

Quero apoiar mensalmente!

Temas relacionados:

Matérias recentes: