As classes trabalhadoras do USA vivem dias de provação, com uma grave ofensiva contra seus direitos e uma nova rodada de cortes orçamentários nos serviços públicos nos estados da costa leste aos estados da costa oeste, sobretudo na educação. Mas os trabalhadores do USA têm protagonizado, em resposta, retumbantes jornadas de lutas contra os arquitetos da precarização das condições de vida e trabalho do povo, sobretudo no estado de Wisconsin, que vem sendo palco de vigorosos protestos contra a fascistização generalizada.
Manifestantes ocupam o capitólio de Wisconsin para impedir a votação de lei anti-povo
Os levantes dos trabalhadores estadunidenses, que já se espalharam por mais de 20 estados e estão sendo considerados os maiores dos últimos 30 anos, tiveram como estopim o ataque desencadeado pelo governador de Wisconsin, Scott Walker, em conluio com o Senado estadual, mero avalizador das políticas antipovo do executivo ao que ainda resta dos direitos trabalhistas historicamente e arduamente conquistados. Em meio à ofensiva antipovo, o maior descalabro é a revogação dos direitos de negociação coletiva.
Milhares de trabalhadores saíram às ruas da capital do estado, Madison, por três semanas consecutivas em repúdio à ofensiva contra seus direitos, em marchas que reuniram dezenas de milhares de manifestantes e constituíram os maiores protestos populares da história da cidade.
De 80 a cem mil pessoas chegaram a cercar o capitólio estadual, que já estava ocupado por centenas de populares a fim de impedir a votação da lei.
Ataques semelhantes aos direitos do povo foram desferidos nos estados de Ohio e da Flórida. O governador do estado de Ohio, John Kasich, do partido Republicano, assinou uma lei revogando os direitos de negociação coletiva de cerca de 300 mil trabalhadores do estado e proibindo-os de fazer greve. Os democratas, na oposição estadual, logo se demarcaram da fração rival, dizendo-se contra a lei e anunciando que seus filiados sairiam em busca de 230 mil subscrições a um abaixo-assinado não para derrubá-la imediatamente, mas sim para submetê-la a um referendo popular junto com as eleições ianques marcadas para novembro.
Veja como a lógica que rege a concorrência entre os partidos eleitoreiros é a mesma tanto lá como cá: a oposição, com tanto pavor da mobilização das massas quanto quem está na situação, recorre a estratagemas picaretas, como recolher assinaturas, para fingir que de fato respondem aos ataques ao povo desferidos pelo gerenciamento de turno. Estas manobras costumam contar a participação da centrais sindicais do peleguismo, como a mãe de todas elas, a ianque AFL-CIO.
Solidariedade de classe
As verdadeiras lutas e a verdadeira autoridade estão nas ruas, com as massas. O povo de Ohio, por exemplo, não se deixou ludibriar pela ladainha eleitoreira dos correligionários de Obama e dos sindicalistas fechados com esta ou aquela facção partidária eleitoreira. No último dia 1º de março nada menos do que 20 mil pessoas saíram às ruas da cidade de Columbus para protestar contra a lei fascista promovida pela gerência de Kasich.
Atos de apoio e solidariedade aos trabalhadores de Ohio foram registrados em toda a extensão do território do USA. O sábado, dia 26 de março, foi aclamado como o “sábado da solidariedade” de todos os trabalhadores do USA aos irmãos mais ferozmente atacados em seus direitos. Naquele dia, milhares de pessoas ocuparam o centro de Los Angeles para denunciar as políticas antipovo ditadas pelas grandes corporações.
Acossado, o governador John Kasich saiu-se com uma baita patuscada: no dia 15 de abril, anunciou, como quem corneteia a redenção das massas precarizadas, que sua administração fechara um acordo com um famoso site da internet de procura de empregos para que os usuários de Ohio pudessem acessar o serviço sem pagar. Um verdadeiro escárnio dirigido ao povo trabalhador, ora em plena luta contra a exploração sem limites!
Em Wisconsin, a reação veio forte: o governo de Scott Walker passou a perseguir os professores que participaram das marchas em Madison contra a legislação fascista que os capitalistas exigem que se aplique no estado. Alguns professores foram suspensos por 15 dias.
Os ataques aos direitos têm sido draconianos e a reação do Estado à mobilização das massas tem sido feroz. A luta de classes acirra-se no USA, assim como nos quatro cantos do mundo, vide os gloriosos levantes proletários que vêm sendo levados a cabo no Brasil. Os tempos são decisivos para os proletários de todo o mundo em sua luta contra o capital opressor e seu sistema de exploração do homem pelo homem, seja nas semicolônias, seja na matriz.
Ecos da crise geral de superprodução
Trenton, Nova Jersey: milhares contra os cortes nas verbas da saúde e educação
Apenas na semana de 17 a 23 de abril, 429 mil estadunidenses entraram com o pedido do seguro desemprego, numa nova subida do número de demitidos no país. Aproximadamente 10 % dos americanos estão desempregados, segundo estimativas oficiais (e otimistas).
Mergulhado até o pescoço na maior crise geral de superprodução relativa do capitalismo em várias décadas, o Estado ianque se vê envolto em várias guerras de agressão para garantir para si a parte do leão na repartilha do mundo em curso.
Como tem cada vez mais necessidade de ampliar seu orçamento militar e cada vez menos capacidade de lastrear esse incremento com produção real de bens, lançou uma grande ofensiva contra os direitos trabalhistas dos trabalhadores do próprio USA, bem como um corte no orçamento do Estado da ordem de 40 bilhões de dólares até o fim do ano.
A redução do orçamento, claro, atingirá os programas de educação, saúde e trabalhistas e repercutiu nos orçamentos estaduais. Os governadores não tardaram a atacar os trabalhadores com medidas como demissão de professores, redução a assistência à saúde (que no USA já mínima) e concedendo privilégios aos milionários.
Em Nova Iorque, por exemplo, o governo cortou 2 bilhões do orçamento da saúde e educação, ao passo que reduziu os impostos das pessoas que ganham mais de 200 mil dólares por ano.
Em Trenton, Nova Jersey, 35 mil professores, policiais e funcionários públicos se concentraram no capitólio estadual mara protestar contra o corte quase 30 bilhões no orçamento proposto pelo governador Chis Christie.
Com cerca de 4,4 milhões de habitantes, o estado de Michigan, desde o início do século XX, abrigou as maiores indústrias automobilísticas do mundo, como a Ford, GM e a Chrysler. A cidade de Detroit — a maior de Michigan — que costumava ter a maior população operária do USA, hoje tem a menor população em 100 anos, com uma redução de 2,3 milhões de habitantes.
Somente para esse ano, a previsão é de 35 mil demissões. Nos últimos 5 anos, 740 mil empregos desapareceram em Michigan, 460 mil em Detroit. Calcula-se que, hoje, 70% da população do estado não tem dinheiro para suprir suas necessidades básicas e 1,3 milhões dependem de projetos assistencialistas dos gerenciamentos de turno. E não para por aí. Durante a crise das hipotecas em 2009 e início de 2010, uma em cada 33 pessoas perdeu sua casas em Michigan.
Recentemente, os professores de Detroit receberam a notícia de que 818 deles serão demitidos, o que gerou revolta e muitos professores se negaram a deixar as salas de aula. Em uma atitude discricionária, o governador de Michigan, Rick Snyder, ordenou a polícia que retirasse os professores das salas. A ação revoltou os estudantes, que organizaram protestos durante uma semana em várias escolas de Detroit.