João, no cavaquinho e bandolim, Rodrigo Moura, no surdo, Cléber Almeida, no pandeiro, Marcelo Cândido, no violão de 7 cordas, e Beto Corrêa, no acordeon, formam o Bola 7. Preocupados em manter viva a obra de grandes compositores, executam e se inspiram em seus trabalhos para compor seu próprio repertório, mesclando estilos de samba de todo o Brasil, dos clássicos à nova geração.
Tendo em comum o amor pelo gênero, os músicos se conheceram e formaram o grupo em 2003, dentro do tradicional conservatório de Tatuí, interior de São Paulo, onde parte deles cursava e outra lecionava música.
– Nos reunimos com a proposta de montar um grupo para pesquisar, tocar e compor o samba puro. Escolhemos esse caminho pelo prazer de tocar Cartola, João Nogueira, Paulinho da Viola e muitos outros. Juntamos esse desejo comum, a nossa amizade e a afinidade musical e nasceu um grupo de samba dentro de um ambiente tradicional para a música erudita – fala João, um dos componentes.
– Essa nossa união foi um primeiro passo em direção ao popular no conservatório. O próprio curso de choro, que a escola oferece, é bem recente. Trouxemos a ideia do samba até mesmo para a linguagem da escola e passamos a influenciar quem transitava por ali. Temos o prazer de dizer que fazemos parte de uma geração de admiradores do samba, que querem contagiar todos a sua volta – diz.
– Surgimos, primeiramente, com o nome de Bola Preta mas, depois, descobrimos que, em São Paulo, já existia um grupo de choro com esse nome e no Rio um bloco de carnaval. Então para não chocar com esses, que eram anteriores a nós, mudamos para Bola 7, porque na sinuca oficial a bola 7 é a bola preta. Mantemos de certa forma o nome original, já que o povo já tinha se acostumado com ele – explica.
João diz que a sonoridade do Bola 7 é bem interessante, entre outras, por conta da presença do acordeon, uma marca diferencial do grupo.
– O acordeon é um instrumento solista, mas bem pouco usado em grupos de samba. Contudo, o encontramos em algumas gravações de grandes mestres, como as do Cartola, por exemplo. Beto Corrêa, que leciona piano no conservatório, já tocava acordeon em um trio de forró, com muita habilidade. Então, resolvemos inseri-lo no grupo e deu muito certo – conta.
– O Beto e o Cléber têm uma veia forte ligada ao forró. Na verdade, somos um grupo com influências individuais bem distintas. Em comum temos o amor pelo samba autêntico. Tanto que costumo dizer que o Bola 7 não é um grupo que toca o samba paulista e sim um grupo paulista que toca o puro samba brasileiro – deixa claro.
– Nossa principal influência ao escolher repertório e compor é o samba carioca de Cartola, João Nogueira, Noel Rosa e muitos outros. Contudo, também nos inspiramos no baiano Dorival Caymmi ou o alagoano Jackson do Pandeiro. E é claro que também temos fortes influências da tradição caipira daqui do interior paulista. Tudo isso misturado, resultou no que somos – continua.
As rodas na casa do Cléber
Segundo João, o grupo se reúne tradicionalmente na casa do Cléber, um dos componentes, para conversar, tocar e cantar.
– Ele é um baterista com um currículo muito interessante. Já tocou com Hermeto Pascoal e Jane Duboc, entre outros. Tem uma chácara em Salto de Pirapora, cidade próxima a Sorocaba, e lá nos reunimos com músicos da localidade e outras cidades. As rodas são abertas. Quem quiser pode chegar para tocar, cantar ou simplesmente ouvir e curtir – conta com alegria.
– A chácara do Cléber tem uma varanda bem grande. Por exemplo, na última vez que nos reunimos, tinham mais de cinquenta pessoas. Mas cabe muito mais gente. Agora, estamos tentando definir uma data para que ela aconteça oficialmente uma vez por mês e passe, assim, a ser oficialmente uma tradicional festa de samba – acrescenta.
No repertório aparece desde partido alto até samba canção. Músicas de sambistas tradicionais ou pouco conhecidos e também alguns choros de Jocob do Bandolim e Waldir Azevedo, entre outros.
– Tanto nas rodas, como nos shows e apresentações em geral, tocamos de tudo. Temos uma vasta pesquisa que nos proporciona isso. Gostamos de mesclar clássicos antigos com a nova geração do samba, o que resulta em um repertório bem seleto, com arranjos caprichados – define João.
– É muito importante tocar o nosso samba, os grandes clássicos, os novos talentos, porque em geral não tocam nas rádios e televisões, ficando inacessível ao povo. Mas, felizmente, existe alguns espaços para a música brasileira de qualidade, ainda que paralelo. Diria até que o espaço por aqui é bom, mas poderia ser maior devido ao potencial cultural do lugar – afirma.
O Bola 7 atua na região de Sorocaba, nos Sesis (Serviços Sociais da Indústria), Sescs (Serviços Sociais do Comércio) e outros espaços, além de tocar fixo no Depois Bar e Arte, próximo a rodoviária da cidade.
– Estamos há quatro anos no local, que é um bar temático onde, todos os dias da semana, pode-se encontrar diversos tipos de músicas. Sexta-feira é dia do samba, ficando para o Bola 7 a tarefa de animar toda última sexta-feira do mês, a partir das 22 horas – avisa.
Também participamos de outros projetos, entre eles, a homenagem ao centenário do mestre Cartola, ‘A vida e a música de Cartola’, junto a Universidade Federal de São Carlos. Estamos felizes com a consciência de fazermos um trabalho em favor desse gênero tão importante para o país, nascido no meio do povo, expressão da sua própria vida – declara.
O grupo planeja o lançamento do primeiro disco para o próximo ano.
– Já temos um repertório montado, incluindo nossas composições. Boa parte do disco já está pronta, só faltando encontrar apoio para viabilizar sua construção, transformando tudo na ‘bolachinha’ (risos). E estamos trabalhando firme para isso – finaliza João.