Os chefes de turno da Grã-Bretanha, David Cameron, e da França, Nícolas Sarkozy, assinaram no último dia 2 de outubro um novo acordo militar bilateral, que constituiu a concretização de um processo iniciado há 12 anos pelos então chefes Jacques Chirac e Tony Blair. São duas das três maiores potências capitalistas da Europa adiantando-se nas conformações preparatórias para mais uma guerra imperialista — desaguadouro inevitável e previsível da infindável crise dos monopólios — quase que ao mesmo tempo em que Obama foi à Ásia, mais especificamente à Índia (país que tem ogivas nucleares) pelo mesmo motivo, ou seja, jogar o jogo dos blocos de poder em rota de colisão e que mais cedo ou mais tarde se entenderão com seus arsenais bélicos nos campos de batalha.
Não por acaso o novo acordo de armas assinado entre a Grã-Bretanha e a França vem sendo denominado por muitos como a “Entente Cordiale do século XXI”. A Entente Cordiale original, a do século XX, foi um arranjo colonial assinado em 1904 que garantiu o domínio do Egito aos britânicos e o do Marrocos à França, entre outras definições de pendengas franco-britânicas sobre a partilha do mundo.
A Entente Cordiale acabou emprestando o nome ao bloco de poder da primeira grande guerra imperialista — deflagrada dez anos depois, em 1914 — encabeçado justamente pela França e pelo império britânico, em oposição ao bloco de poder rival, formado pelos impérios centrais (Alemanha e Áustria-Hungria).
A história se repete. Entre os termos da Entente Cordiale do século XXI está a criação de uma “força de expedição conjunta”, nome farsesco, quase lúdico, com que os arquitetos do novo acordo franco-britânico se referem à possibilidade de atuações em dobradinha dos exércitos dos dois lados do canal da Mancha nos territórios que se desenham como palcos dos conflitos da guerra que se avizinha (palcos que os chefes da Europa querem levar para longe do seu quintal, evitando a devastação “em casa” que se deu nas duas primeiras grandes guerras imperialistas).
Acordo para explodir bombas atômicas
A tal “força de expedição conjunta” para atuação além das fronteiras da Europa já começa a ser treinada em 2011, com um efetivo inicial de 3.500 soldados. Os termos do acordo preveem ainda o compartilhamento de porta-aviões, desenvolvimento conjunto do projeto do mega-avião de transporte militar e abastecimento A-400M, a cooperação em programas de comunicação via satélite, segurança cibernética e desenvolvimento de novos sistemas de mísseis.
Além disso, a nova Entente Cordiale prevê a realização de testes conjuntos dos arsenais nucleares da França e da Grã-Bretanha, com a construção de um centro de simulação para este fim nas proximidades da cidade de Dijon, em território francês, e outro em Aldermaston, em território britânico.
O acordo segue assim a lógica da demagogia nuclear adotada pelo conjunto de potências que atende pelo nome de “comunidade internacional”, segundo a qual só os países imperialistas podem ter, testar e explodir bombas atômicas, negando-se às demais nações o direito de ter a tecnologia nuclear para se defender.
Pouco antes da assinatura da “Entente Cordiale do século XXI”, chamou a atenção um outro movimento, não menos significativo, das conformações dos blocos de poder para uma nova guerra imperialista: a assinatura do maior contrato militar da história, no valor de US$ 60 bilhões e válido pelos próximos 20 anos, por meio do qual o USA abastecerá seu protetorado na península arábica, a Arábia Saudita, com 84 aviões de combate F-15, 70 atualizações dos atuais caças F-15 sauditas, 70 helicópteros de ataque Apache, 72 helicópteros Black Hawk e 36 AH-6M Little Birds.
O objetivo do USA — além de engordar os cofres da Boeing, fabricante da maior parte das aeronaves vendidas aos príncipes sauditas — é reforçar uma região onde o imperialismo ianque tem como inimigo o Irã, nação que tende a integrar o bloco de poder da Rússia e contra a qual as potências capitalistas ora dirigem a maior parte das suas provocações de guerra.