Agronegócio compra desfile de Carnaval

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Agronegócio compra desfile de Carnaval

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A Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), famigerada associação de grandes latifundiários e monocultores, o chamado “agronegócio”, pagou R$ 2,6 milhões para que o latifúndio de novo tipo, um dos pilares do velho Estado corrupto e anti-povo, seja reverenciado no desfile das escolas de samba do Grupo Especial do carnaval carioca. Em poucas palavras, o latifúndio comprou junto aos dirigentes da agremiação Mocidade Independente de Padre Miguel a homenagem que lhe será rendida na Marquês de Sapucaí.

Além dos R$ 2,6 milhões saídos diretamente dos ricos cofres da confederação do “agronegócio”, a escola de samba contará com mais R$ 1 milhão provenientes da venda de fantasias para “empresários do setor agrícola”. Quem cuidou pessoalmente da compra do enredo da Mocidade para o Carnaval 2011 — ainda que tudo tenha sido acertado a título de “patrocínio” — foi a senadora Kátia Abreu, velha latifundiária do Tocantins, apelidada de “Miss Desmatamento”, acusada de expulsar famílias de camponeses de suas terras para fazer ocupações ilegais, eleita por uma dessas revistas semanais do monopólio da imprensa como uma das 100 pessoas mais influentes do Brasil (leia-se: para o funcionamento das vis engrenagens desta semicolônia miserável) e, por todas essas credenciais, presidente da CNA.

A direção da Mocidade diz que o enredo foi “sugerido” por Kátia Abreu antes mesmo que a escola de samba começasse a pensar no tema do seu desfile deste ano. É prática comum nas grandes escolas de samba a escolha de enredos que possam render gordos patrocínios. Também no carnaval carioca deste ano a escola de samba Vila Isabel tem seu enredo “Mitos e Histórias Entrelaçadas Pelos Fios de Cabelo” bancado pela marca de shampoos e condicionadores Pantene, propriedade de uma das maiores transnacionais do mundo, a Procter & Gamble, maior produtora de bens de consumo do planeta. A própria Kátia Abreu, que vai participar do desfile, disse esperar que a homenagem ao agronegócio comprada junto à Mocidade seja vista por nada menos do que um bilhão e meio de pessoas nos cinco continentes. Em 2006, a própria Vila Isabel foi campeão do desfile com o enredo “Soy loco por ti, América: A Vila canta a latinidade”, patrocinado pelo oportunismo de Hugo Chávez através da PDVSA (Petróleo de Venezuela SA) com cerca de US$ 1 milhão.

Justificando o negócio com o “agronegócio”

Este é o carnaval profissional do Rio de Janeiro, tão saudado pelas autoridades de turno e pelo monopólio da imprensa como “a maior festa popular do Brasil”. Nessa festa regada a muito dinheiro, entretanto, o povo participa cada vez menos com suas histórias, tradições e manifestações culturais, e cada vez mais com o trabalho braçal e mal remunerado nos barracões para produzir desfiles previamente vendidos para o poder econômico.

Neste ano, por exemplo, os dirigentes carnavalescos, resumidos a agenciadores de enredos e alas comerciais, até agora só lembraram dos trabalhadores das “comunidades”, como gostam de dizer, quando precisaram convocá-los às pressas para confeccionar novas fantasias para substituir as que queimaram no incêndio da Cidade do Samba.

Se a Mocidade for tão criativa em seu desfile quanto é para explicar o inexplicável, ou seja, o que o agronegócio pode ter a ver com o carnaval, já pode começar a preparar a festa de campeã.

“O couro de animais é usado até hoje na fabricação de instrumentos clássicos de uma bateria de escola de samba, como é o caso da cuíca e até do atabaque. A madeira está nos revestimentos e estruturas dos instrumentos, baquetas e carros alegóricos. E o que seriam das fantasias sem as penas e plumas de aves? E o que falar então do algodão, imprescindível na confecção de vestimentas que facilitem a transpiração do passista? Enquanto isso, nos camarotes da Marques de Sapucaí, o deleite gastronômico dos mais afortunados inclui, dentre outras coisas, carnes, queijos, saladas, frios e cereais”, diz um comunicado da escola tentando justificar seu negócio com o “agronegócio”.

Faltou dizer que tudo isso, do couro do atabaque às saladinhas dos camarotes dos endinheirados, é fruto do trabalho duro dos homens e mulheres do campo, produzido mesmo a custa deles, uma vez que a matéria prima da prosperidade do “agronegócio” é o martírio camponês. Riscado do qual a Kátia Abreu, que não semeia uma alface sequer, entende muito bem.

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