O Brasil, como todos sabem – e para comprovar basta ligar o rádio ou a televisão – é hoje um país cul-turalmente ocupado pelos sons e imagens produzidos pela indústria de bens de lazer internacional, a música é a do rock e do rap hip-hop (novidades sempre reabastecidas pelos videoclips importados, divul-gadas até por emissoras de TV edu-cativas) as formas de comporta-mento e o vestuário sugeridos pelo cinema e pelos enlatados da tele-visão, e o próprio conhecimento do que acontece no mundo é oferecido pelos órgãos de divulgação – jor-nais, revistas e noticiários da TV – com base apenas em informações de agências internacionais de jor-nalismo, tipo Associated Press (AP), ANSA, Reuters, France Press (AFP) e CNN.
Tudo isso somado conduz, é claro, a uma visão do mundo e da vida que acabe por transformar grande parte dos brasileiros em es-trangeiros dentro do seu próprio país. Assim, quando, em meio a esse panorama geral de falsifi-cação da realidade, alguém re-solve abrir uma janela para ver-dadeira cultura brasileira, esse pe-queno fato deve ser saudado como um grande acontecimento. Pois é exatamente isso o que acontece, em São Paulo, com a manutenção no ar, duas horas por semana, aos sábados, há quase dois anos e meio, de programa da Rádio Capital AM-1040; São Paulo Capital Nordeste, produzido e a-presentado pelo jornalista e pesquisador de cultura popular Assis Ângelo. É que no São Paulo Capital Nordeste podem fazer ouvir sua voz todos os artistas do povo normalmente ausentes da mídia comandada pelos interesses da in-dústria cultural. Os mesmos, aliás, que na televisão só têm para mostrar sua arte, nos vinte e dois últimos anos, o programa Viola, Minha Viola, dirigido pela cantora e estudiosa de folclore Inezita Barroso, na TV-Cultura de São Paulo.
É claro que, para uma visão da vasta paisagem da cultura popu-lar brasileira uma janela só no rá-dio e outra na televisão é pouco. De qualquer forma, porém, serve para mostrar que não é bem ver-dade a tese conformada do funk do Bonde do Tigrão: “Tá domina-do, tá tudo dominado…” J.R.Tinhorão