Ameaça de intervenção militar no Nepal não pára luta do povo

Ameaça de intervenção militar no Nepal não pára luta do povo

Milhões em armas na Frente Única do Nepal empurram para fora do país o governo fantoche

A situação turbulenta na qual se encontra o Nepal já chamou a atenção das autoridades dos Estados Unidos. Tempos atrás foi roteiro de viagem do secretário de Estado norte-americano, Colin Powell, que foi oferecer ajuda ianque ao combalido e reacionário governo nepalês.

Esta ação soma-se a um conjunto de ingerências que o Estado expansionista da Índia vem realizando no país, que há mais de seis anos vive um levantamento armado de camponeses dirigido pelo Partido Comunista do Nepal (maoísta).

Segundo o Fórum Antiimperialista Revolucionário do Nepal, o país está economicamente falido e “o orçamento anual de defesa baixou para 10,25%, e a isto se acrescentam os 5% do orçamento anual. No domínio das fontes de renda para a exportação, como vestimentas e tapetes, as vendas diminuíram em 48%. A indústria do turismo caiu em 90%. Muitas indústrias e sociedades fecharam. As colheitas caíram 50% em relação ao ano anterior. O Estado não consegue pagar a totalidade dos salários de seus funcionários; conseqüentemente retém uma parcela do pagamento normal. As instituições de ensino e os centros de saúde fecham suas portas; a dívida externa representa 200% do orçamento anual”.

A crise do regime reacionário do Nepal se agrava em função da fragilidade de sua base material e do desenvolvimento da luta revolucionária no país. E, perante tal situação, as dificuldades do velho Estado nepalês no enfrentamento da guerrilha no país, aumentam a cada dia.

Por isso, o imperialismo norte-americano e o expansionismo indiano consolidaram uma “quádrupla aliança”, entre eles, a linha dura dos feudalistas nepaleses e o grupo governamental de Koirala (do partido no poder) para garantir seus interesses na região sul-asiática, hoje conflagrada.

Foi esta aliança que permitiu conduzir, de modo satisfatório – às classes dominantes do Nepal e ao imperialismo – o escândalo do massacre da família real, no dia 1º de junho de 2001. Para o Fórum, “esse massacre real, naturalmente, foi um incidente orquestrado e constituiu uma conseqüência negativa das contradições nascidas no seio da classe reacionária, assim como da necessidade de se dar um passo atrás com o objetivo de se resolver a crise de poder do antigo regime”.

O rei Gyanendra, designado para o posto logo após o massacre da família real, imediatamente pôs em prática o plano de ataque à guerrilha maoísta. Seu primeiro ato foi decretar a nova “Lei sobre a Segurança Pública”, uma medida repressiva contra a qual o povo nepalês se levantou em greve geral por todo o país. E, a partir de meados do ano passado, a guerrilha realizou centenas de ações por todo o país. “Nesta época, a ocupação dos postos avançados da polícia em Lamjung, Bichaur, Rolpa e Holeri foram atos notáveis. Dia após dia, a polícia e os paramilitares tiveram que suportar derrotas irremediáveis”, continuou o Fórum Antiimperialista, ao explicar que as ações guerrilheiras foram se expandindo até que se deu uma grande ofensiva do Exército Popular de Libertação, no final do ano passado, já que o governo, por sua vez, preparava uma grande operação militar destinada a reprimir os maoístas. “Desde o início, o novo governo reacionário havia mobilizado o exército em nome da ‘segurança e desenvolvimento nacionais’, de sorte que, em 26 de novembro de 2001, o Estado fascista decretou ‘estado de urgência’ com o apoio dos lacaios do partido de oposição. O regime fascista começou a reprimir os rebeldes da melhor maneira que pôde durante os três primeiros meses do ‘estado de urgência’, aplicando uma linha imperialista de guerra, com a pretensão de que, matando um terço dos rebeldes a revolução estaria completamente derrotada”, disse o representante do Fórum Antiimperialista do Nepal.

A informação é de que, ainda nesta campanha militar do exército real, milhares de inocentes foram mortos, “pessoas presas desapareceram; atiraram nos habitantes das vilas; cometeram estupros e, atualmente, a polícia, os paramilitares e o exército real nepalês multiplicaram essas atrocidades. Milhares de advogados, jornalistas, intelectuais e pessoas inocentes e honestas enchem as prisões e suportam torturas terríveis. A cada dia, dezenas de civis são mortos por bombas lançadas por helicópteros de acordo com o plano militar ‘Search and destroy’ (Procurar e liquidar), como é o caso dos 70 civis mortos em Dorambha, durante uma festa, em dezembro de 2001”.

O governo nepalês, segundo o Fórum, utiliza duas táticas ao mesmo tempo: o massacre e a desinformação. O exército real se encarrega de aumentar o número de cadáveres e de mostrá-los a seus mestres estrangeiros, enquanto esconde os números referentes às suas perdas, que nunca são mencionadas. Os que temem o êxito do levantamento armado no Nepal divulgam notícias falsas sobre a guerrilha ou omitem dados.

Intervenção ianque

Em janeiro passado, durante sua visita ao Nepal, o Secretário de Estado dos Estados Unidos, Colin Powell, afirmou que existe no Nepal “uma insurgência maoísta que está tratando de derrotar o governo e isto realmente é um assunto contra o qual estamos combatendo em todo o mundo”. Nesta oportunidade, Powell agradeceu ao rei Gyanendra e ao primeiro-ministro Deuba por estarem combatendo o “terrorismo internacional” e ofereceu ajuda militar norte-americana para que a repressão aos revolucionários tivesse continuidade.

Ajuda prometida também pelo presidente Bush diretamente ao primeiro-ministro Deuba, quando este esteve em Washington, em maio último. As informações da imprensa norte-americana davam conta de que milhões de dólares em ajuda militar seriam dados ao governo nepalês para o combate à guerrilha. Para justificar estas “partidas da morte”, o porta-voz da casa Branca, Ari Fleisher, que tem sido acusado por diferentes setores da mídia internacional de mentir em diferentes ocasiões, declarou que o “Nepal é um país que faz frente à uma rebelião maoísta e é um exemplo de democracia; por isso os Estados Unidos se comprometeram em ajudar”.

A ameaça de intervenção militar paira sobre o Nepal enquanto o povo explorado e oprimido segue lutando. A situação não é simples, pois ao mesmo tempo em que se eterniza o “estado de urgência”, decretado pelo Estado fascista nepalês, uma corda se enrola inexoravelmente no pescoço dos reacionários. As contradições entre o novo rei Gyanendra e os partidos parlamentares; entre a claque pró-indiana e a claque pró-americana se intensifica cada vez mais no Nepal.

“O país, atualmente, conhece ao mesmo tempo dois regimes: um é o velho Estado reacionário, e o outro é o novo Estado popular. O velho Estado se limita às cidades e aos centros de certos distritos enquanto que o regime do Estado popular se reparte através de todos os partidos, – ou quase – do país. Hoje a política do país se desloca como um enorme furacão entre os regimes do velho Estado e do novo Estado popular, de sorte que a economia e a política do país chegaram a uma situação de extrema vulnerabilidade. Desta forma o regime reacionário da quádrupla e sinistra aliança entre os feudais, os burocratas, os capitalistas compradores e os revisionistas os coloca entre a cruz e a caldeirinha. Eles estão muito inquietos e nervosos quanto a sua existência final, a ponto de prolongar o estado de urgência que é sua última arma. Mas é absolutamente certo que nenhum poder reacionário poderá preservar de seus últimos suspiros esses miseráveis farrapos do velho regime reacionário que estão próximos de seu destino final, o cemitério”, concluiu o Fórum Antiimperialista do Nepal.

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