A Rede Globo iniciou em agosto deste ano uma campanha de propaganda intitulada “Agro é Tech, Agro é Pop, Agro é tudo”, com a divulgação de vídeos a cada 15 dias, que serão exibidos na sua programação até junho de 2018, onde se aborda em cada vídeo um produto do agronegócio na agricultura e na pecuária. Até o presente momento já foram abordados: algodão, arroz, café, carne de frango, dendê, flores, laranja e milho.
Cabe abrir um parêntese aqui para registrar que, esse órgão do monopólio dos meios de comunicação é um dos principais divulgadores de campanhas publicitárias do grupo JBS – uma das principais empresas do agronegócio no Brasil –, que diga-se de passagem, foi uma das principais financiadoras das campanhas presidenciais do PT, PSDB e PMDB em 2014. Como diz o ditado popular: quem paga a banda, escolhe a música. Fecha-se aqui o parêntese.
Os vídeos, com duração de 50 segundos, visam embelezar o latifúndio de novo tipo, o agronegócio, buscando demonstrar a importância desse setor econômico para toda a sociedade brasileira. Eles enfatizam o faturamento anual de cada produto, o faturamento com as exportações e a quantidade de empregos gerados.
A campanha publicitária faz um elogio à condição semicolonial do país ao abordar a quantidade de produtos agropecuários em que o Brasil é “campeão” de exportação. Tal campanha apenas escancara o caráter vende-pátria e serviçal do imperialismo desse grupo empresarial e a sua indiferença com os interesses do povo brasileiro.
O agro é pop? Não, ele é export!
A partir dos próprios dados divulgados nos vídeos podemos verificar que o “agro” não tem nada de “pop”, mas sim de export, pois grande parte das mercadorias selecionadas pela campanha publicitária são voltadas para o mercado externo. Vejam-se alguns exemplos.
No caso do algodão, apenas nos dizem que obteve um faturamento de R$ 13 bilhões em 2015. Mas segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), na safra 2015/2016, quase 40% da produção de algodão foi exportado (ver Tabela 1).
Podemos inferir que a receita gerada com essas exportações está concentrada em um punhado de latifundiários, tendo em vista dois aspectos: (I) a extrema concentração de terras que caracteriza a estrutura fundiária brasileira; (II) o fato da cultura do algodão necessitar de grandes extensões de terra, tanto que o Censo Agropecuário de 2006 contabilizou apenas 6.794 estabelecimentos que cultivavam o algodão – não existem dados atualizados.
No vídeo sobre o café, tradicional produto do sistema agroexportador do Brasil, fala-se em “três milhões de pessoas empregadas” em sua cadeia produtiva, mas a fonte não é citada.
Conforme dados do ministério do trabalho, todo o setor agropecuário gerou 1.479.633 empregos formais em 2014 e 1.500.561 em 2015. Nos últimos doze meses, também de acordo com dados do ministério do trabalho, a agropecuária gerou 993.451 empregos formais e demitiu 1.021.152 pessoas. Nesse cenário, por mais ampla que seja a cadeia produtiva do café, o número de empregos gerados nos parece superestimado.
“O Brasil é o maior produtor e o maior exportador de suco de laranja do mundo. Em 2015 faturou 1,8 bilhão de dólares […] A laranja dá emprego a 200 mil trabalhadores no campo e na indústria”, ressalta-se no vídeo.
O que eles não dizem é que mais de 70% da produção citricultora concentra-se no estado de São Paulo e que considerável parte da produção é de responsabilidade dos pequenos produtores. Dados da Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos de 2009 demonstravam que no “cinturão citrícola”, que abrange os pomares de São Paulo e do triângulo mineiro, 87% dos produtores eram de pequeno porte e detinham apenas 21% das árvores do cinturão citrícola, enquanto 1% eram de grande porte e possuíam 47% das árvores.
Sobre a soja, que ainda não foi abordada pela campanha, pode-se registrar que esse produto permanece sendo a principal matéria-prima exportada pelo Brasil. Os dados evidenciam que metade da produção em grãos é exportada, isso sem contabilizar as exportações em farelo e óleo de sojas.
O arroz é tratado como se fosse uma típica cultura do agronegócio, que gerou um faturamento de R$ 11 bilhões e 200 mil empregos. Entretanto, é importante ressaltar que historicamente a produção do arroz concentra-se na agricultura camponesa, sendo realizada em pequenas extensões de terra. Aqui podemos constatar uma diferença fundamental entre o sistema do latifúndio e a agricultura camponesa: a primeira é voltada para a exportação de matérias-primas e a segunda para o abastecimento do mercado interno.
Latifúndio e a subjugação nacional
O sistema do latifúndio semifeudal constitui uma das bases da exploração e opressão do Brasil pelo imperialismo, principalmente o ianque, contribuindo para graves deformações na economia nacional e trazendo resultados funestos para o povo. A semifeudalidade e a semicolonialidade vinculam o latifúndio com o imperialismo. Existe um conjunto de relações econômicas que atuam, quer na produção, quer na distribuição dos produtos destinados ao exterior. Essas relações econômicas tem base em uma rede de empresas e de agentes cuja função, em última instância, é extrair por processos extorsivos, de coerção econômica ou extra-econômica, a maior parte possível da produção dos camponeses e/ou a mais-valia dos trabalhadores. Nessa rede, incluem-se os monopólios, nativos e estrangeiros, além de empresas formalmente nacionais, que atuam por conta dos monopólios estrangeiros.
Cabe relembrar que, no âmbito da “Divisão Internacional do Trabalho”, as colônias e semicolônias “especializam-se” na produção de matérias-primas para a exportação, no geral, de baixo valor agregado, enquanto os países imperialistas se “especializam” na produção de mercadorias manufaturadas, no geral, de maior valor agregado. Segundo dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, 47% das exportações brasileiras em 2015 eram provenientes da agropecuária, o que evidencia a grande participação deste setor na balança comercial do país, o que reflete o processo de desindustrialização em curso há décadas e que se traduz na primarização da pauta de exportações brasileiras, reforçando a nossa condição semicolonial e semifeudal.
Diante disso, constata-se que enquanto não se liquidar com o latifúndio no país, como base econômica, e os latifundiários como classe, sua base política, não se consegue golpear e derrubar o domínio do imperialismo, principalmente o ianque, no Brasil.