No dia 20 de novembro, em todo o país, milhares de pessoas tomaram as ruas em revolta contra o assassinato do homem preto João Alberto, morto de forma brutal num hipermercado da rede francesa Carrefour, em Porto Alegre, na noite do dia 19/11, véspera do Dia do Povo Preto.
Em Porto Alegre, nesse dia, centenas de pessoas marcharam até o local onde João Alberto havia sido assassinado, por volta das 18 horas. Obstinados em impor alguma justiça ao crime odioso, os manifestantes forçaram a entrada no estacionamento do hipermercado, confrontando-se com as tropas da Polícia Militar (PM), que protegia o local. Nem as balas de borracha ou gás lacrimogêneo puderam deter a fúria popular, que respondeu com fogos de artifício e pedras.
Manifestantes ateiam fogo às instalações do Carrefour em Porto Alegre. Foto: Mauro Schaefer.
Os manifestantes ergueram grandes barricadas para defender-se da PM, como numa batalha campal, em frente ao hipermercado. A filial onde João foi friamente executado não passou impune: focos de incêndio foram provocados, assim como placas e vidraças destruídas. Uma viatura também foi destroçada.
No mesmo dia, em São Paulo, cerca de 600 pessoas protestaram em frente a uma loja Carrefour, na rua Pamplona, uma das áreas mais ricas da cidade. O povo expressou seu ódio com a execução de João atirando objetos contra a fachada da loja. Depois de invadirem a unidade, os manifestantes provocaram incêndios entre as prateleiras, destruindo milhares de reais em mercadorias como forma de fazer alguma justiça.
No Rio de Janeiro, Brasília e Belo Horizonte também ocorreram manifestações contra o assassinato covarde de João Alberto, reunindo, em cada uma, centenas de pessoas rapidamente mobilizadas por tal crime insano. Em Fortaleza, a manifestação foi dispersada pela polícia com balas de borracha e spray de pimenta.
Manifestantes incendiaram uma viatura em Porto Alegre. Foto: Diego Varas/ Reuters.
Fúria popular não se detém
No quarto dia de protesto consecutivo em Porto Alegre, em 23/11, centenas de pessoas se reuniram no Carrefour no bairro Partenon, na zona leste da cidade. Mesmo com forte presença da PM, a juventude e trabalhadores não se intimidaram e marcharam com a palavra de ordem: Acabou o amor, isso aqui vai virar Palmares!. Os partidos oportunistas e eleitoreiros, com seu discurso e prática conciliatória, foram rechaçados diversas vezes pelas massas.
Próximo das 20h daquele dia, a PM começou a reprimir o ato para evitar a justa revolta dos manifestantes que entravam na unidade do Carrefour. Em resposta aos agentes do velho Estado, que faziam uso de gás lacrimogêneo e balas de borracha, os manifestantes começaram a quebrar as grades do hipermercado, fazendo barricadas improvisadas, para impedir o avanço da cavalaria. Pedras e fogos de artifício foram usados contra os agentes da repressão. Além das grades, postes foram quebrados e alguns incêndios foram provocados pelos manifestantes em fúria. O confronto entre os manifestantes e os agentes da repressão nesse dia durou cerca de 20 minutos, com o ato tendo fim próximo ao bairro popular Aparício Borges.
Quem era João Alberto?
De acordo com sua esposa, Milena Borges Alves, de 43 anos, cuidadora de idosos, João Alberto era “apaixonado por futebol, brincalhão e família”. Ele foi aposentado por invalidez após fraturar o fêmur e dois dedos, trabalhando no Aeroporto Salgado Filho, há dez anos. Ele não tinha filhos, mas tratava a enteada como tal, relata Milena. Sua companheira conta que, durante a agressão tentou ajudar seu marido, mas que o segurança a empurrou. “A última coisa que ele falou pra mim foi: ‘Milena, me ajuda”.
Manifestante chuta porta onde está escrito “bem-vindo” em São Paulo. Foto: Edilson Dantas.