Minerador morre esmagado por rocha a mil metros de profundidade no Chile
O gerente Sebastián Piñera ainda fazia piada ao lado dos 33 trabalhadores resgatados da mina de San José, no Chile – desafiando-os para uma partida de futebol e dizendo que, se perdessem, voltariam para debaixo da terra – e o ministro chileno da Mineração, Laurence Golborne, ainda se esmerava na demagogia ao gosto do monopólio das comunicações, quando surgiu a notícia de que na região de Valparaíso, no litoral do país, uma pedra de uma tonelada havia rolado por cima de um outro mineiro.
Roberto Benítez Fernández, de 26 anos de idade, foi esmagado enquanto trabalhava em uma jazida a mil metros de profundidade. Morreu na quinta-feira, dia 14 de outubro, menos de 24 horas depois de o último operário soterrado no deserto na mina de San José emergir do túnel de resgate entre os holofotes e com transmissão ao vivo para todo o mundo. Quanto a Fernández, só se viu as imagens do seu corpo sendo colocado no rabecão.
Esse, mais um entre tantos, sem possibilidade de um novo resgate fanfarronesco e instrumentalizado pelo gerenciamento de turno, cúmplice e comparsa das grandes mineradoras quanto às condições de trabalho precárias dos trabalhadores do setor.
A morte brutal do jovem Roberto Benítez Fernández ficou ofuscada pelo grande circo em torno do resgate dos “33 de San José”. Um circo cheio de números de ilusionismo, como quem ergue uma fachada para esconder as centenas de vítimas dos quase 40 acidentes fatais que acontecem por ano nas minas de cobre privatizadas do Chile.
Estes nunca serão resgatados. São as vítimas da exploração sem limites no Chile dos trabalhadores em geral, e dos trabalhadores da atividade mineira em particular. É a isto que os países imperialistas se referem quando parabenizam as sucessivas administrações chilenas vende-pátria pelo “excelente desempenho econômico” do país, o que na prática significa excelente terreno para os patrões e excelentes condições para a atuação dos monopólios. Para as massas, sobra a miséria, a precariedade e a morte.
‘Estou com muita raiva’
Um após o outro, do genocida Pinochet ao gerentão Piñera, passando pelos oportunistas Eduardo Frei, Ricardo Lagos e Michele Bachelet, os lambe-botas recrutados pelo imperialismo para gerenciar o velho Estado chileno nas últimas décadas foram repartindo o subsolo do país entre as companhias mineradoras locais e transnacionais e destruindo os sindicatos dos mineiros, criando as condições para que as riquezas minerais pertencentes ao povo do Chile fiquem concentradas cada vez mais nas mãos de poucos, a custa do trabalho pesado e mal pago da gente chilena – trabalho cujo alto risco os patrões dizem ser “inerente” à atividade de mineração, e não fruto da política da falta de segurança.
Um dos maiores vendedores de minas e destruidor de direitos trabalhistas no Chile foi o irmão do gerente Sebastián Piñera, o economista José Piñera, ministro do Trabalho do gerenciamento militar encabeçado por Pinochet e velho lacaio do imperialismo.
“Isso tinha que acontecer como lição. Tudo podia ter sido evitado. A empresa quer ganhar dinheiro. E o que acontece com o trabalhador? A montanha está fazendo barulho, mas te dizem que está tudo bem, pode entrar. Estou com muita raiva”, disse Edison Peña, um dos mineiros mais politizados entre os que ficaram mais de dois meses presos a 700 metros de profundidade no deserto do Atacama.
Nos dias subsequentes ao resgate dos 33 mineiros da mina de San José, outros “acidentes” mataram pelo menos 30 mineiros na China, no Equador e Colômbia. Na China, 26 mortos, cinco desaparecidos e 11 presos embaixo da terra. No Equador, quatro mineiros morreram a 150 metros de profundidade em uma mina de ouro. Na Colômbia, dois trabalhadores foram soterrados em uma mina de carvão.
Sem conhecer limites para sua própria demagogia, Piñera ofereceu ajuda ao Equador e à China após as notícias sobre os “acidentes” com mineiros nestes dois países se espalhar. É o algoz dos mineiros chilenos tentando posar de salvador dos mineiros de todo o mundo.