Argentina: Presença de O’Neil no país provoca protestos da população

Argentina: Presença de O’Neil no país provoca protestos da população


Buenos Aires
– Três diretores de uma pequena indústria metalúrgica argentina, a Impa, entraram com uma ação na justiça pedindo a prisão do secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Paul O'Neill, tão logo ele desembarcasse no país, na primeira semana de agosto. Acusação: extorsão. Eduardo Murúa, Guillermo Robledo e Oracio Campos disseram que a medida se justificava pela "oportunidade única" criada com a rápida visita de O'Neill à Argentina.

E não é a primeira vez que a Impa toma tal iniciativa. A empresa havia denunciado, em abril deste ano, também por extorsão, o diretor-gerente do FMI, Horst Kohler; a vice-diretora Anne Krueger e o diretor do Departamento do Hemisfério Ocidental do FMI, Anoop Singh. Na época, os empresários se referiam ao projeto, negociado pelo governo com o FMI, de modificação da lei de Falências (que foi aprovado) e à proposta, de mais cortes nos orçamentos das províncias, rejeitada pelos governadores, bastante pressionados pelo povo faminto.

"Não escapa ao entendimento geral que as condições impostas não favorecerão mais do que o FMI, e de maneira nenhuma ao povo argentino, que os governantes juraram defender, sobre a Constituição Nacional", afirmaram, na ocasião, os empresários da Impa.

Enquanto os pequenos e médios empresários argentinos denunciam a espoliação imperialista, os desempregados lutam em defesa do direito ao trabalho e à vida. A taxa de desemprego urbana, na Argentina, admitida oficialmente, é de 22% da população economicamente ativa, quadro que se agravou rapidamente, levando 25 mil argentinos a perderem o emprego em dezembro passado, e outros 250 mil, entre janeiro a março deste ano. La Nación publicou recentemente informe do Instituto Nacional de Estadistica y Censos (Indec) revelando que 4 milhões de crianças argentinas vivem abaixo da linha da pobreza, o que "representa 70.3% do total de crianças do país".

Um grupo de desempregados da província de Santa Cruz, na Patagônia, extremo sul da Argentina, ocupou, na manhã do dia 5 de agosto, uma refinaria da petroleira Repsol-YPF. Eles ameaçavam explodir um depósito de petróleo caso não fossem recebidos pelo governador Nestor Kirchner, ao qual pretendiam exigir a criação de postos de trabalho na região. A ocupação obrigou as autoridades argentinas a suspenderem o bombeamento de combustível da refinaria para usinas termoelétricas, pois isto poderia causar pane no fornecimento de energia elétrica para toda a região da Patagônia.

Mas, nem mesmo o covarde atropelamento de 11 entre muitos desempregados que bloqueavam uma estrada próxima à refinaria foi capaz de arrefecer a disposição de luta do povo argentino. Moradores da cidade de Las Heras reuniram-se na praça principal da cidade e seguiram, em marcha, até a usina para prestar solidariedade aos desempregados em luta por seus direitos.

Da mesma maneira, cerca de 100 manifestantes vaiaram e jogaram ovos no carro que transportou o Secretário Paul O'Neill em sua visita à Argentina. Ainda que a equipe de segurança de O'Neill tenha tentado evitar a justa hostilidade do povo argentino, divulgando um roteiro falso, os manifestantes, portando cartazes onde se podia ler "Fora O'Neill e o FMI" arremessaram ovos contra ele. No mesmo dia, cerca de 12 mil pessoas se reuniram na praça de Maio, para protestar contra a presença do Secretário norte-americano que insistiu em exigir novas medidas de arrocho ao governo Duhalde.

Arquivo revela que ianques dirigiam matança

Buenos Aires – O acesso a 4.677 documentos confidenciais relativos às atrocidades cometidas no período do gerenciamento militar na Argentina, liberados em agosto pelo Departamento de Estado ianque, trás inúmeras revelações que confirmam o apoio do imperialismo ianque, desde 1976, à repressão feroz aos insurgentes.

Um telegrama, datado de 20 de setembro de 1976, o embaixador Hill escreveu que "quando se encontrou com Kissinger (secretário de Estado dos Estados Unidos), em Santiago, este disse que esperava que o governo argentino conseguisse controlar o problema da insurgência o mais rápido possível. Segundo Guzzetti, Videla e seu gabinete tinham a impressão de que a maior preocupação dos ianques era a de que o governo argentino resolvesse a questão rapidamente", ou seja, que fosse eliminado o maior número possível de opositores ativos, principalmente os revolucionários mais consequentes.

Durante o longo terror de Estado, promovido pelo imperialismo ianque e seus colaboradores argentinos, as vítimas de sequestros (entre adultos, anciãos e crianças), totalizaram mais de 30 mil pessoas.

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