As bandeiras continuam erguidas

As bandeiras continuam erguidas

Transformado pelo imperialismo em “Dia Internacional do Trabalho”, o 1º de maio – data em que a classe operária celebra o Internacionalismo Proletário – vem sendo desvirtuado pelas classes dominantes e pelo oportunismo, que fazem deste dia de luta uma festa demagógica, com shows e sorteio de prêmios. No entanto, organizações classistas no Brasil e em muitos outros países vêm levando à frente a combativa tradição do proletariado, erguendo alto as bandeiras vermelhas da classe operária.

O 1º de maio, celebrado em todo o mundo pelo proletariado, é uma data marcada na história com sangue e luta operária. Nesse dia, no ano de 1886 (ver texto abaixo), milhares de trabalhadores estadunidenses exigiram seus direitos nas ruas, sendo duramente reprimidos pela polícia, o que resultou na morte e encarceramento de inúmeras pessoas. A partir de então, nos anos seguintes, em todos os países, a classe operária passou a celebrar o 1º de Maio como um dia de luta contra exploração capitalista.

Dos ventos de rebeldia que sopraram em Chicago até os nossos dias, o desejo dos trabalhadores de transformar o mundo só cresceu. Incontáveis lutas e enfrentamentos foram protagonizados pelo proletariado que, em sua primeira grande onda revolucionária, logrou desfechar poderosos golpes na dominação imperialista. Três momentos podem ser destacados nessa heróica trajetória, pela amplitude histórica que tiveram e pelo lastro que deixaram: a Comuna de Paris, de 1871, primeira tentativa de tomada do poder pela classe operária; a revolução de Outubro, na Rússia, de 1917, dirigida pelo grande Vladimir Lênin, e a revolução Chinesa, de 1949, chefiada pelo Presidente Mao Tsetung.

Nesse mais de 100 anos passados das lutas do 1º de Maio no USA, e em meio a todas as revoluções que se processaram nesse período, surgiu e se desenvolveu também uma corrente inimiga da classe operária: o oportunismo. Este, gerado e alimentado pelo capital financeiro internacional, tentou dividir e espalhar a confusão nas fileiras proletárias, alcançando relativo êxito em alguns países por um determinado tempo. Porém, tais vitórias não têm caráter definitivo: as lutas atualmente empreendidas pelas organizações classistas mundo afora vêm revelando — ainda que não totalmente — a amplitude das forças operárias.

1º de Maio no mundo

Neste ano, o 1º de maio teve, em vários lugares, o seu real significado recuperado. Enquanto no Brasil as centrais sindicais oportunistas ligadas ao novo governo, CUT e Força Sindical, reuniam trabalhadores para participar de “comemorações oficiais” — onde havia desde de sorteios de apartamentos e automóveis a shows musicais, somado à propaganda governamental sobre a necessidade das chamadas “reformas” — trabalhadores dos quatro cantos do planeta celebravam o dia do Internacionalismo Proletário com manifestações e protestos.

Na Alemanha, cerca de 10 mil pessoas, entre operários e desempregados, ocuparam as ruas centrais da capital do país, Berlim. Após atirarem paus, pedras e garrafas em prédios do governo e lojas, os manifestantes enfrentaram a polícia, que efetuou prisões. Cerca de 13 pessoas, entre trabalhadores e policiais, ficaram feridos.

Na Turquia, país onde se desenvolve há anos intensa luta antiimperialista e antilatifundiária, milhares de manifestantes saíram às ruas de Istambul para protestar contra o governo e lembrar a morte de 40 trabalhadores, ocorrida anos antes, num ataque feito pela polícia a manifestantes que celebravam o 1º de maio. Após breves choques com os guardas, a manifestação se dispersou.

Na Espanha, cidade de Madri (capital), manifestação operária atacou comício oficial do maior sindicato do país, reunido no centro da cidade, e atingiu com uma pedra a cabeça de José Maria Fidalgo, presidente do referido sindicato.

Na Suíça, no centro financeiro do país, Zurique, manifestantes revidaram ataques da polícia, atirando pedras e bombas incendiárias (coquetéis molotov) na guarda local, que os havia atacado usando balas de borracha, sprays de pimenta e cassetetes. O confronto ocorreu porque uma concentração, prevista para acontecer nas ruas centrais da cidade, desviou seu rumo e tomou outras vias — fato que levou a polícia a vigiar ostensivamente os manifestantes, acusando-os de querer invadir depósito de armas governamental.

Em Seul, Coréia do Sul, cerca de 20 mil pessoas (estimativas oficiais) participaram de um ato de protesto nas celebrações do 1º de maio. Os principais objetivos da passeata eram exigir do governo a redução das jornadas de trabalho, melhores condições nos empregos e denunciar a falta de segurança no trabalho.

Na França, centenas de milhares de pessoas ocuparam as ruas da capital Paris e das principais cidades do país, como Lyon e Marselha. Nos cartazes, estandartes e faixas ostentados pelos manifestantes, podia-se ler dizeres contra a reforma da previdência social, o desemprego (que atinge 9,1% da população) e a guerra imperialista no Iraque.

Na Venezuela, manifestantes pró-Chávez e grupos contrários ao presidente venezuelano voltaram a se enfrentar nas ruas de Caracas, no dia internacional da classe operária. Os dois grupos, organizados em duas passeatas distintas, percorreram setores da cidade e se encontraram nas proximidades de uma das principais praças do centro de Caracas. Ali, disparos à queima-roupa feitos por um desconhecido acabaram resultando na morte de um manifestante, de 46 anos de idade.

Estas foram, segundo dados extra-oficiais, as maiores concentrações populares do país desde fevereiro, mês em que o país ficou paralisado por uma greve geral convocada pelos empresários e tecno-burocratas locais. Como se sabe, a Venezuela — desde o último ano — enfrenta graves distúrbios provocados por forças de oposição ligadas ao imperialismo ianque, que exigem a renúncia do presidente Hugo Chávez.

Em Manila, capital das Filipinas, 10 mil pessoas, segundo cálculos oficiais, estiveram presentes às celebrações do dia 1º de maio, gritando palavras de ordem antiimperialistas e em protesto contra o genocídio cometido contra o povo iraquiano pelo USA.

Na Áustria milhares de pessoas estiveram às antigas ruas da capital Viena para protestar contra a perda de direitos históricos dos trabalhadores daquele país, que dia a dia vêm sendo solapados por legislações antiproletárias.

No Iraque, membros e simpatizantes do Partido Comunista — uma das muitas forças que combatem agora na resistência à agressão da coligação anglo-americana — realizaram ato de protesto em frente ao hotel Bagdá, um dos mais conhecidos da capital iraquiana, para marcar o dia do Internacionalismo Proletário e protestar contra a ocupação ianque do território de seu país. Há mais de 20 anos os comunistas não realizavam manifestações independentes.

Além de todos estes protestos, milhares de outras ações marcaram o dia 1º de maio pelo mundo. Diversos deles expressaram o vivo conteúdo de classe que, historicamente, a celebração deste dia tem. Apesar da hegemonia de partidos, sindicatos e organizações oportunistas no seio do movimento operário em muitos locais, as massas que estiveram presentes às comemorações deram mostras de que estão dispostas à luta e ao combate ao imperialismo e todos os reacionários.

Enganam-se os que acham que as bandeiras vermelhas operárias estão arriadas.

A história de um dia de lutas

Em fins do século XIX, no USA e em todos os países capitalistas, eram duríssimas as condições de trabalho e vida da classe operária. Salários extremamente baixos, longas jornadas de trabalho, utilização indiscriminada da mão-de-obra feminina e infantil. Enfim, superexploração: tal era o quadro da época, ao qual os trabalhadores impunham feroz resistência.

Assim, em 1885, no USA, surge a Federação dos Grêmios e Sindicatos Operários, organização para a luta econômica dos trabalhadores estadunidenses, fundada por militantes socialistas e anarquistas. O primeiro grande ato da nova Federação estará diretamente relacionado com os acontecimentos do 1º de maio.

Greve geral

Para este dia, no ano seguinte após sua fundação, a Federação resolveu chamar uma greve geral no país, a iniciar-se a 1º de maio. As reivindicações centrais do movimento giram em torno da limitação da jornada de trabalho em 8 horas diárias (de segunda a sábado). Nesse dia, várias passeatas e comícios ocorrem no país, e a paralisação é considerada um sucesso. Porém, os cerca de 350 mil operários da cidade de Chicago, na costa oeste norte-americana, participam do movimento e enfrentam a reação da polícia que, num ataque aos grevistas, faz nove vítimas. No dia seguinte, mais quatro operários são assassinados em choques com a polícia. No dia 4, os líderes do movimento convocam um comício monstro em Chicago contra esta vaga repressiva do Estado norte-americano.

Neste ato, dando continuidade a série de crimes cometidos contra os trabalhadores, a polícia do USA abre fogo contra os participantes do comício, que se reuniam no Mercado do Feno — centro da cidade. O resultado é terrível: 80 operários perdem a vida sob as balas da tropa, e os líderes locais da greve são ferozmente perseguidos. Quinze organizadores são presos e indiciados.

Prisão e morte

August Spies, Albert Patsons, Adolph Fisher, George Engel, Luis Lingg, Miguel Schwab, Oscar Neebe e Samuel Fielden são detidos e ficam na prisão até novembro de 1887. A condenação judicial é impiedosa contra eles, apesar da intensa pressão dos operários do USA e demais países, que pugnavam pela liberdade dos chamados mártires de Chicago. Cinco são condenados a morte na forca, e a maior parte dos outros é condenada a prisão perpétua. Quatro morrem no patíbulo e um na cadeia, assassinado pela repressão.

Antes de ser executado, um dos líderes da greve de Chicago, August Spies, destruiu moralmente seus carrascos com palavras que ficariam gravadas para sempre na memória de milhões de trabalhadores: “Com o nosso enforcamento, vocês pensam que destroem o movimento operário. Porém, com nossa morte, vocês apenas apagam uma faísca; mas, aqui e acolá, o fogo se espalhará, em todos os lados. E será uma chama subterrânea que vocês nunca poderão apagar.”

Dia do Internacionalismo Proletário

Em 1889, ao fundar-se a II Internacional — sob a direção do companheiro de armas de Karl Marx, Friedrich Engels — a data 1º de maio é lembrada e, após votação, tomada como dia do Internacionalismo Proletário, passando a ser celebrado em todos os países como dia de lutas, greves e enfrentamentos contra o capitalismo.

No Brasil, especula-se que o 1º de maio foi celebrado pela primeira vez na cidade de Santos — SP, em 1895. Em 1900, operários da construção civil de São Paulo fundam a “Sociedade Primeiro de Maio”. Em 1906 a COB (Confederação Operária Brasileira), primeira experiência de organização operária de porte nacional, em manifestação no Rio de Janeiro combatia aqueles que viam a data como feriado: a COB chamava a classe operária ao combate pelas “8 horas de jornada, melhores condições de trabalho e autonomia sindical”. Após a Revolução Russa de 1917 se intensificam as comemorações do 1º de maio, onde era saudada a primeira revolução proletária da história.

Tingida com sangue, marcada com o suor e o desejo de transformação dos trabalhadores, o 1º de maio é uma inesquecível data para a classe operária mundial. Sob quaisquer condições, em qualquer lugar do mundo onde haja a exploração do homem pelo homem, sempre haverá quem celebre este dia, lembrando os mártires de Chicago e todos os lutadores proletários, homens e mulheres que constroem com mãos simples um mundo melhor.

Ao longo das últimas duas décadas, o jornal A Nova Democracia tem se sustentado nos leitores operários, camponeses, estudantes e na intelectualidade progressista. Assim tem mantido inalterada sua linha editorial radicalmente antagônica à imprensa reacionária e vendida aos interesses das classes dominantes e do imperialismo.
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