- Recordei faz pouco: Em 17.04.2016, a Câmara, com 25 votos além dos requeridos 2/3, aprovou encaminhar ao Senado o processo de impedimento. O que mais impressiona, nos representantes da prostituição política, é o cinismo: enrolados na bandeira nacional, gritando “Viva o Brasil!”, enquanto tratam de demolir o pouco que falta para completar a alienação da soberania nacional… O império angloamericano vale-se de irrecuperável regime político, formado e controlado por ele, e colhe mais frutos dos investimentos em ignorância e corrupção que realiza no País, há mais de 70 anos.
- Que isso não seja entendido como defesa de Dilma, Lula e seus aliados. Pela enésima vez: qualquer das falsas opções oferecidas pelo regime apodrecido, não pode produzir outro resultado que o de deteriorar ainda mais as inviáveis estruturas econômica e social implantadas nestes 62 anos.
- Em março, publiquei artigo intitulado “O Poder”. Recordei lições de política, principalmente de Maquiavel. A propósito da facilidade com os golpes comandados de fora do País atingiram seus objetivos, há que acrescentar mais conceitos básicos.
- Entre esses: O poder não aceita o vácuo: quem o detém, trata de ocupar todos os espaços dele, com esta implicação: todos os que contam com alguma parcela dele, disputam com os demais detentores a preponderância em cada um dos espaços.
- Geralmente os acordos, escritos ou não, de divisão do poder são transitórios: duram até que um dos detentores tenha prevalecido sobre os demais, e acabado o equilíbrio, não hesita em dar por terminados tais acordos.
- A divisão e o equilíbrio entre os detentores de poder, amiúde fictícios, não se restringem aos poderes do Estado definidos nas Constituições.
- Essas regras estão presentes na realidade interna dos países e Estados, e também nas relações ditas internacionais. Implicação: estão fadados a perder a soberania, por inteiro, os Estados que cedem espaços próprios dela às potências estrangeiras — quer Estados, quer oligarquias políticas, quer grupos financeiros e econômicos “privados”.
- Exemplos da indivisibilidade do poder encontram-se desde a Antiguidade. Roma já era imperialista, no Século III A.C, e conquistou a hegemonia mundial nas três Guerras contra Cartago (264 a 146 A.C.).
- Foi, até 27 A.C., oligarquia aristocrática de base rural, que controlava os poderes do Estado (Senado e os cônsules), ligados às famílias nobres. No Século I, intensificaram-se os conflitos armados internos, quando líderes político-militares enfrentaram o Senado.
- Alguns desses líderes entenderam-se para dividir o poder. O primeiro triunvirato durou de 59 a 53 A.C., e o segundo, de 43 a 33 A.C. No final do primeiro, prevaleceu Júlio César. No do segundo, Otávio, que se tornou imperador.
- Após a Revolução francesa, Napoleão Bonaparte dividiu o poder no Diretório, e pouco depois, emergiu como 1º Cônsul, no golpe de Estado de 1799, e em seguida imperador.
- No Brasil, até 1930, oligarquias estaduais de chefes rurais eram a classe principal no plano interno, mas subordinada à City de Londres, em função das relações comerciais e financeiras externas.
- A História deu ao País oportunidade de alterar esse quadro, mercê de duas guerras mundiais e da crise econômico-financeira dos anos 30. O presidente Vargas, percebia o absurdo — que ainda perdura — de um país importar a preços elevadíssimos as matérias-primas que exporta a preço vil, depois de industrializadas.
- A indústria e a tecnologia são espaços de poder sem o controle dos quais não há como exercer a soberania nacional.
- Em 1945, não obstante seus acordos com o presidente dos EUA e a cooperação brasileira na 2ª Guerra Mundial — claro que a gratidão é irrelevante para o império —, o País foi logo punido sob a política da Guerra Fria, com a deposição do presidente Vargas, em outubro de 1945.
- Por que? Os estrategistas imperiais viam que, com o potencial de desenvolvimento do Brasil, a permanência de governos inclinados a fomentá-lo e capazes disso, o poder nacional crescia. Ora, a geopolítica dos EUA não admite que isso ocorra em qualquer país do “Western Hemisphere” (América Latina).
- Daí que o Mal. Dutra, obcecado pela aliança com os EUA para reprimir o comunismo, praticou políticas econômicas grandemente prejudiciais ao País.
- A popularidade granjeada por Vargas nos tumultuados 15 anos de governo (1930-1945), fê-lo vencer as eleições diretas de 1950.
- Isso colocou Vargas, pela primeira vez, na desgastante situação de chefiar o Executivo, sob regime “democrático”, com o Legislativo majoritariamente hostil, num país desprovido de serviços secretos bem-estruturados, aberto à penetração corrompedora de instituições estrangeiras, além do fogo incessante de mídias que abusavam da “liberdade de imprensa”, em favor do golpe, consumado em 1954.
- O espírito conciliador do presidente Vargas, o levou a aumentar o conjunto de enormes trunfos de que já dispunham os patrocinadores de sua destituição.
- Aí está mais uma ilustração disto: quem divide o poder de fato com forças hostis e poderosas — no caso potências imperiais (EUA e Reino Unido à frente) se condena à ruina, se permitir que ampliem e aprofundem seus espaços de poder no País.
- Dentro da mesma lógica, imediatamente após o golpe de 1954, aquelas forças ocuparam, de forma ainda mais radical, os espaços de poder. Para isso, deram grande impulso à desnacionalização e desindustrialização da economia, elevando a vulnerabilidade do País, entre outras coisas com a galopante dívida externa e maior influência, na política interna, da finança e da economia concentradas sob controle estrangeiro.
- Assim, um poder que, nos anos 50, ainda não era total, se torna absoluto.