Quando aconteceu a tragédia da explosão e afundamento da plataforma da British Petroleum, inundando de óleo quase a totalidade do Golfo do México em menos de quatro meses, o presidente Barack Obama alardeou aos quatro ventos que estava disposto a “dar um pontapé no traseiro” dos responsáveis pela empresa anglo-ianque caso os mesmos não tomassem mais a sério a contenção do derramamento.
Seria uma maneira dura e incisiva, até digna de elogios — por aqueles que são informados pela imprensa imperialista — apontando uma atitude enérgica do presidente ianque, nunca vista nos governos anteriores, que sempre assistiram impassíveis aos monopólios inundarem de óleo as águas oceânicas do mundo inteiro, por causa de erros técnicos, negligência, e total desrespeito pela vida humana e o meio ambiente, características peculiares do sistema capitalista, cuja preocupação se concentra unicamente na obtenção do lucro máximo.
A BP garante ter contido o vazamento, depois de deixar na superfície e no fundo do Golfo do México mais de 400 milhões de litros de óleo. Fato que não é comemorado por técnicos e entendidos no assunto, que desconfiam seriamente da eficiência no processo de contenção aplicado no poço. As atenções de todo o mundo se voltam agora a outros milhares de vazamentos que vem ocorrendo em águas internacionais há cerca de 50 anos, cuja maioria não é noticiada pelo monopólio da imprensa, que esconde os fatos para não prejudicar a imagem dos grandes monopólios petroleiros mundiais, grandes (talvez os maiores) financiadores de publicidade.
Estes vazamentos submarinos, cuja gravidade vem sendo sistematicamente escondida, já contaminaram irreversivelmente uma boa parte do meio ambiente do fundo dos mares.
Para se ter uma ideia da quantidade de derramamentos no fundo dos mares, basta dizer que somente no delta do rio Niger, na costa atlântica da África, foram constatados 2.400 vazamentos na região, grande parte causada pela incompetência e negligência das empresas que, a exemplo do Golfo do México, há cerca de 50 anos vêm espalhando a lama negra numa das regiões mais ricas de petróleo do mundo.
A ONU, sempre fiel na defesa dos interesses do imperialismo, exonerou a Shell de 90% de culpa nos derramamentos do delta do Niger, aos quais atribui tão somente como ações de sabotagem e roubo de petróleo por parte de grupos locais. Apesar da comprovada incompetência técnica e negligência nestes anos todos, a Shell acabou penalizada em tão somente 10%, escapando quase incólume de um crime ambiental irreparável.
Por sua vez, a Anistia Internacional corre em socorro da British Petroleum dizendo que a quantidade do derramamento provocado por ela no Golfo do México foi mais ou menos metade do provocado pela Shell no delta do Niger, esquecendo de dizer que este já está tendo uma duração de 50 anos, enquanto o da BP durou apenas 4 meses.
O noticiado pelos jornais e TVs do mundo inteiro depois do acontecido no Golfo do México, na Nigéria não foi novidade nenhuma e não assustou ninguém, segundo os observadores da região. Até porque o fenômeno vem se repetindo nos últimos 50 anos através dos 2.400 vazamentos espalhados pelos encanamentos que expulsam o óleo das profundezas, contaminando indiscriminadamente a populosa região que já não tem mais nem água para beber, cozinhar e menos ainda, fazer a higiene pessoal. Comem peixes e mariscos contaminados com petróleo e outras toxinas, isto quando ainda conseguem encontrar pescados. A terra de cultivo está se degradando irremediavelmente, o ar que respiram fede a óleo crú, gás e outros agentes contaminantes. As pessoas se queixam de problemas respiratórios e lesões na pele. Entretanto, as petroleiras que são os agentes causadores de todos esses problemas, nem o Estado nigeriano se preocupam em prover de cuidados médicos a toda essa gente que está sendo cruelmente dizimada.
Agora fala-se em novos investimentos na área de mais de mil quilômetros quadrados, congestionada por 606 campos de extração, o que vai tornar as coisas piores ainda para uma região que é atravessada por milhares de quilômetros de encanamentos velhos e enferrujados, com furos que permitem poluir de forma irreparável o meio ambiente do delta do rio Niger.
Este novo investimento pode levar no futuro a uma devastação maior ainda, que vai desertificar o fundo dos mares, matando toda espécie de vida existente.
A qualidade do petróleo nigeriano é a melhor do mundo e cobiçada pelas companhias petroleiras por ser um óleo fácil de ser transformado em produtos combustíveis, mas é uma maldição para a saúde, provocando uma série de doenças, inclusive o câncer.
A expectativa de vida na região vem diminuindo assustadoramente nos últimos anos, estando agora em um pouco mais de 40 anos.
Fica a pergunta: Por quê Obama não repete publicamente a bravata de ameaçar dar um pontapé no traseiro dos donos do monopólio ianque do petróleo, como afirmou que faria com os diretores da British Petroleum?