As “brigas” entre o velho Estado e a velha imprensa

As “brigas” entre o velho Estado e a velha imprensa


Abertura da assembléia geral da Sociedade Interamericana de imprensa

No sábado dia 7 de novembro, um protesto do sindicato de caminhoneiros da Argentina impediu por várias horas a circulação e a distribuição dos dois maiores veículos impressos do braço argentino do monopólio dos meios de comunicação, o Clarín e La Nación. O bloqueio aconteceu em meio à assembleia geral da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP, na sigla em espanhol), realizada na capital argentina, Buenos Aires, que aparentemente é mais uma organização patronal de cunho reacionário e uma “fonte de ações encobertas” da CIA, conforme confessou um alto funcionário da agência ianque de contra-inteligência e sabotagem ao jornal New York Times em 1977.

Naquele ano a assembléia geral da SIP aconteceu no Brasil, no Hotel Hilton, na capital paulista, tendo sido o evento organizado pelo Estado de S. Paulo, órgão da burguesia quatrocentista. Segundo a fonte ouvida na ocasião pelo maior dos jornalões do USA, a estratégia da CIA ao se valer da SIP era promover a membro diretivo da entidade os donos dos jornais escolhidos pelos agentes ianques para se transformarem em órgãos de desestabilização de fato e, num segundo momento, fazer mexer a boca da própria SIP para declarar o país-alvo “inimigo da liberdade de imprensa”.

Para quem supõe que o estratagema ficou para trás com a chamada Guerra Fria, talvez valha a pena constatar que o jornal La Hora, do Equador, e o El Nacional, da Venezuela, estão devidamente representados na junta de diretores da SIP/CIA. Ambos fazem de suas páginas diárias verdadeiras trombetas de agressiva oposição a governos cujo populismo e palavrório antiianque é inconveniente para o USA – nomeadamente as administrações Rafael Correa e Hugo Chávez – ainda que estejam longe, muito longe de comandarem Estados populares. Obviamente, a crítica impiedosa feita pela máquina da imprensa imperialista a Correa e Chávez tampouco refletem os anseios das massas equatorianas e venezuelanas; reproduzem, isto sim, a ladainha que interessa ao imperialismo ianque, aquela recheada de loas às maravilhas na Terra que, dizem, só as transnacionais podem proporcionar.

São as velhas frações da grande burguesia da América Latina se batendo pelo controle do Estado e se servindo da mais ou menos nova claque político-eleitoreira da região, aquela marcada pelo oportunismo mais hipócrita, e que ficou conhecida como “nova esquerda latino-americana”. Os embates deste tipo se repetem em vários países da América Central e da América do Sul, mas somente enquanto manifestações públicas de digladiações particulares entre grupos de poder em disputa pelo gordo butim reservado a quem se apresenta como servo mais fiel dos monopólios. Quando se trata das políticas de repressão das massas e precarização do trabalho, o velho Estado e a velha imprensa dão-se as mãos com entusiasmo, como bem demonstra Luiz Inácio e o   monopólio da comunicação que opera no Brasil.

Portanto, que o leitor não se engane: a ação na Argentina contra os jornais Clarín e La Nación pode ter contado com a disposição para a luta e a indignação dos caminhoneiros com a presença em Buenos Aires dos 500 editores e diretores dos órgãos de comunicação reacionários reunidos na Sociedade Interamericana de Imprensa, velho instrumento da CIA. Mas o sindicato que organizou o bloqueio é aliado do casal Néstor e Cristina Kirchner, que se insere na estirpe de demagogos que no fim das contas não passam de serviçais dos monopólios, disfarçados de amigos do povo. Serve-nos de lição para não nos deixarmos iludir com a similar peleja entre as classes reacionárias que ocorre em nosso país e que por vezes emerge como falsos antagonismos nas capas dos jornalões nacionais e nas escaladas dos nauseabundos telejornais.

Ao longo das últimas duas décadas, o jornal A Nova Democracia tem se sustentado nos leitores operários, camponeses, estudantes e na intelectualidade progressista. Assim tem mantido inalterada sua linha editorial radicalmente antagônica à imprensa reacionária e vendida aos interesses das classes dominantes e do imperialismo.
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