O incêndio do alojamento foi resposta às agressões sofridas por trabalhadores no refeitório
A manchete da última edição de AND anunciava o novo ciclo de revoltas nas obras do PAC. Noticiamos a rebelião operária que incendiou o canteiro de obras da Usina Hidrelétrica de Colíder, localizada no Norte do Mato Grosso, nos dias 11 e 12 de fevereiro. Mas essa não foi a primeira. Uma semana antes, em 3 de fevereiro, os operários da Usina Hidrelétrica de Ferreira Gomes, localizada no Amapá, se levantaram em um grande protesto desencadeado pela agressão de seguranças contra trabalhadores no horário do jantar.
A obra dessa usina, localizada no município de Ferreira Gomes, a cerca de 130 km de distância da capital Macapá, é responsabilidade do governo federal e é tocada pela Ferreira Gomes Energia, que por sua vez é propriedade do Grupo Alupar Investimento S/A e esse por sua vez é de um gigantesco conglomerado chamado Grupo Alusa, que atua nas áreas de engenharia, construção, manutenção e operação de sistemas de transmissão de energia.
Os operários da Usina Ferreira Gomes já haviam realizado, nos últimos dois anos, pelo menos duas paralisações gerais denunciando péssimas condições de trabalho e alimentação, os baixos salários, a precariedade dos alojamentos, a falta de transporte adequado para o local de trabalho, etc.
“A revolta dos trabalhadores teve início após a empresa se recusar a atender uma longa pauta de reivindicações, incluindo melhores condições de trabalho” [fonte: cspconlutas.org.br]. Relatos e denúncias publicadas em páginas na internet dão conta de que a agressão dos trabalhadores pelos seguranças da empresa no refeitório do canteiro de obras foi a gota d’água para a deflagração de um grande protesto que incendiou pelo menos 12 alojamentos.
A polícia militar reprimiu o protesto com violência prendendo 20 operários. Dezesseis deles permaneceram presos e, no dia 4 de fevereiro, um ônibus da Secretaria de Segurança Pública transferiu 13 operários para o Instituto de Administração Penitenciária do Amapá – Iapen.
No dia 18 de fevereiro, diretores da Companhia Paranaense de Energia – Copel, que efetua os trabalhos na Usina de Colíder se reuniram em Cuiabá com o secretário-chefe da Casa Civil do Mato Grosso, Pedro Nadaf. Após essa reunião, o diretor de engenharia da Copel, Jorge Andriguetto, declarou:
“Houve ataques similares nas usinas Jirau, Santo Antônio e Ferreira Gomes. Parece haver uma ação orquestrada. Trouxemos esta informação ao governo e destacamos que as investigações policiais em Colíder são importantes para coibir novos ataques“[fonte: Reuters, em 18 de fevereiro de 2013].
De fato, há uma “ação orquestrada”, isso não se pode negar. Mas os “ataques” que registramos nas obras do PAC partem do governo, das empreiteiras, das forças de repressão, do monopólio das comunicações. A cada nova revolta operária, é desencadeada a mesma e brutal repressão, os mesmos ataques e discursos virulentos de integrantes do governo como o do ministro Gilberto Carvalho contra os operários, criminalizando e buscando desqualificar a sua luta por direitos elementares. Inclusive, o mesmo modus operandi, com prisões, maus tratos, processos, ataques ao direito de greve, ocupação dos canteiros de obras pelas forças de repressão, etc.
Um conjunto de entidades sindicais e populares está mobilizado e em luta pela libertação dos operários da usina Ferreira Gomes, que eram mantidos encarcerados até o fechamento desta edição de AND.
UHE Jirau – RO: consórcio equipa forças de repressão
No dia 18 de fevereiro, o Consórcio Energia Sustentável do Brasil – ESBR, que agrupa as empresas GDF-Suez, Camargo Corrêa, Eletrosul e Chesf, e que detém a concessão para as obras da Usina Hidrelétrica Jirau, em Rondônia, doou diversos equipamentos como gravadores, aparelhos de TV, câmeras fotográficas, impressoras, computadores portáteis, etc., para o Centro de Inteligência da Polícia Militar de Rondônia.
Na ocasião, o diretor da UHE Jirau, José Lucio de Arruda Gomes, declarou que “esta doação foi em atendimento a um pedido feito pelo Comandante da PM e prontamente atendido” [fonte: rondoniavip.com.br].
Queda de torres condenadas mata operários
Cleberson, 28 anos, e Roneilson, 19
Dois jovens operários contratados da multinacional Toshiba: Cleberson Pantoja Viana, 28 anos, e Roneilson Santos Cruz, 19 anos, morreram após a queda de uma torre de energia do chamado “Linhão do Madeira” que se estende por aproximadamente 2.400 quilômetros, ligando as usinas do Rio Madeira (Jirau e Santo Antônio) a Araraquara, no interior de São Paulo.
Trabalhadores entrevistados pela página eletrônica folhadosulonline.com.br declararam que “um encarregado da firma com sede no Japão teria orientado os trabalhadores a não subirem na torre que acabou desabando. Já um engenheiro, cujo nome não foi revelado, teria determinado que o serviço prosseguisse. Deu no que deu…”
“Nós pedimos que eles instalassem gabaritos em cada pé das torres, mas não fizeram isso”, denunciaram outros operários da Toshiba, explicando que o equipamento prende a estrutura de aço no chão e também que um equipamento chamado “Y”, que dá mais segurança a quem está em cima da torre, não é fornecido aos operários.
Notícia publicada em brasilandiavip.com diz que “o clima é de revolta no canteiro da obras. Trabalhadores da Toshiba do Brasil, responsável pela execução do serviço, estariam ameaçando o engenheiro que autorizou o trabalho na plataforma, que estaria ‘condenada'”.
Preso dono de cativeiro de mulheres
Adão Rodrigues, o “Alemão”, dono da “Boate Xingu”, onde mulheres, inclusive uma menor e uma travesti, foram traficadas e forçadas a se prostituir, mantidas em regime de escravidão por dívida e em cárcere privado, foi preso em 22 de fevereiro.
Após a denúncia feita por uma jovem que conseguiu fugir e possibilitou a libertação das mulheres do cativeiro que estava instalado no interior do canteiro de obras da Usina Belo Monte, em Altamira, Pará, novas revelações vieram a público.
Adão Rodrigues já teria traficado e escravizado mulheres, forçando-as a se prostituir em pelo menos doze grandes obras, várias delas do Programa de Aceleração do Crescimento – PAC do governo federal, inclusive em Jirau.