Arbens na Guatemala, Morsadegle no Irã, Goulart no Brasil, Allende no Chile, Lumumba no Congo, Sukharno na Indonésia, etc. Governos legais e democraticamente constituídos foram violentamente derrubados. Como em todos os momentos em que o Terceiro Mundo tenta se separar do USA, novamente, as forças imperialistas intervêm para "corrigir" os ideais democráticos das massas.
Quando os oprimidos se revoltam — como o fizeram os povos nesses últimos 50 anos, na Coréia e os vietnamitas que saíram vitoriosos, os de Angola e Moçambique, os da República Dominicana, de Granada etc., e, hoje, os peruanos, nepaleses, turcos, filipinos e tantos outros que começam a libertar parte seus territórios nacionais — simultâneos os massacres contra eles perpetrados, a censura que desaba sobre a humanidade, marca aqueles combatentes com a alcunha ultrajante de terroristas. Tal como faziam os nazistas contra os membros da resistência, em que país fosse. Segundo o Wall Street Journal, periódico das altas finanças americanas, "uma possível guerra contra o Iraque e, dentro das guerras seguintes planejadas pelos EUA", foi discutida pela cúpula da OTAN, em Praga, nos dias 20 e 21 de novembro. Procurava-se vencer as últimas resistências européias à participação no ataque contra vários países. Porém, o Iraque está na ordem do dia.
Diz, ainda, o jornal que membros da OTAN advertiram o Iraque sobre as graves conseqüências pelo não cumprimento da resolução 1441da ONU, que atrairia represálias, denominadas de medidas eficazes. Evidentemente, "as graves conseqüências" significam a guerra, e as "medidas eficazes" os preparativos para o massacre.
Algumas potências européias, recentemente, foram demovidas de sua neutralidade e, agora, ameçadoramente afirmam que a guerra pode ser evitada, "desde que o Iraque permita as inspeções de eventuais armas de destruição massiva". A mudança de atitude, todavia, surpreende apenas pelo fato de haver despojos distribuídos antes de iniciada a agressão.
Os alemães, por exemplo, estão colocando seus mísseis antiaéreos Patriot à disposição do EUA que, por sua vez, deverá transferi-los para a Turquia e Israel, a pretexto do eventual risco de serem atacados pelos mísseis Scud, da guerra de 1991. O governo alemão aceitou transportar, dentro de seu território, as tropas ianques, já acantonadas naquele país, e aviões americanos e britânicos poderão sobrevoar, sem restrições, o espaço aéreo alemão. Os tanques alemães antiarmas ABQ (atômico, bacteriológico e químico) encontram-se no Kuwait. Trabalharão sob as ordens do exército ianque. As tropas especiais alemãs, desde o Afeganistão, terão seu efetivo aumentado de 1.200 para 2.000 homens. Deverão ocupar-se da região de Kabul, ao lado das tropas holandesas, para permitir que forças ianques alcancem o Golfo sem qualquer atropelo. A marinha alemã navegará em torno do chifre da África em operações de patrulha na região repleta de militantes árabes.
O direito de destruir as nações
Em fins de outubro de 2002, a burguesia européia evitava envolver-se na guerra do Oriente Médio, uma vez que a agressão militar ianque vinha estimulando a resistência contra todos os imperialistas, inclusive, os da Europa.
A intervenção contra o Iraque aumentará consideravelmente os sentimentos antiianques no mundo árabe, e se voltarão contra toda sorte de colonialismo e feudalismo em seus países de origem, acelerando a revolução. É o que pressentiam as grandes burguesias da França, Bélgica e Alemanha, opondo-se à estratégia de guerra preventiva do USA, movida contra os que ensaiam separar-se do império ianque. "E existem 4 milhões de árabes na França", advertia o governo francês, no que era respaldado pelo ministro alemão de assuntos estrangeiros: "Uma guerra no Iraque conduzirá a uma radicalização na região."
Até há pouco, o ex-ministro francês Védrine dizia: "Somos contra a aproximação simplista e absoluta da luta contra o terrorismo". Já Fischer, seu colega alemão, preferiu afirmar: "O eixo do mal não é nossa maneira de fazer política. A UE (União Européia) prefere o diálogo diplomático, as relações comerciais e a luta contra a pobreza para eliminar o potencial de desespero e os riscos de segurança no mundo".
Se tais palavras confortam as colônias e semicolônias e fazem crer que as feras já caminham em direções opostas, cabe lembrar que assim falam os que não vêem nenhum problema em bombardear a Iugoslávia e esquartejá-la, promover o genocídio em Ruanda etc. e etc. São os que consideram o embargo genocida contra o Iraque "meio diplomático" e "lavam as mãos" diante do extermínio dos palestinos.
Além disso, o hegemônico USA, pela própria natureza do imperialismo, foi obrigado a estabelecer uma nova estratégia se arrogando no direito de destruir a capacidade militar de qualquer adversário potencial —antes que ele se desenvolva. Isto é dirigido, em primeiro lugar, aos movimentos antiimperialistas e socialistas do Terceiro Mundo, mas — em termos —, também, à Rússia, China e potências da Europa. É uma estratégia que não tem retorno e impulsiona todas as potências à pilhagem, o quanto antes, acelerando a necessidade de acumulação de forças para embates maiores entre si, no futuro.
Nem todas as negociações sobre a partilha do mundo são do conhecimento público. Às vezes, sequer seus efeitos – caso da África, saqueada e vazia de gente. Hoje, as potências fazem exibições de armamento, deslocam tropas, ainda que sob veementes protestos dos povos, e são, abertamente, cúmplices dos USA no massacre. Primeiro contra o Iraque. Os outros virão depois, até que a luta de libertação das nações faça dobrar suas vontades.