Mesa composta durante o ato de desagravo por representantes de movimentos populares
Na terça-feira, dia 3 de outubro, foi realizado no auditório do Sindicado dos Comerciários de Belo Horizonte e Região metropolitana, o ato de desagravo à Liga Operária, Sindicato dos Rodoviários de BH e outras organizações populares que vêm sendo vítimas de perseguições políticas, o que configura na verdade crimes contra a organização do trabalho.
Estas organizações vêm sendo alvos de inquéritos policiais ilegais e processos judiciais arbitrários que recaem especialmente sobre Albênzio Dias de Carvalho, o "Boné", fundador da Liga Operária. Organizado pelo Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos — Cebraspo, o ato contou com o apoio e a participação de várias entidades e personalidades, como a Frente de Defesa dos Direitos do Povo; Federação dos Rodoviários de Minas Gerais; Sindicato Único dos Trabalhadores do Ensino — Sind-UTE; os Sindicatos dos Comerciários de Belo Horizonte e Betim; Sindicato dos Rodoviários de Belo Horizonte; Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil de Belo Horizonte, Movimentos de Luta pela Moradia,o Movimento Feminino Popular além de diversos representantes dos diversos setores da luta popular, como os estudantes, entre outros.
O ato também contou com a participação do representante da Federação Nacional de Camponeses do Paraguai e um dirigente da luta popular da Argentina que deram o seu apoio e repudiaram os processos.
As perseguições às lideranças populares e às entidades democráticas citadas foram desencadeadas em abril de 1999, quando o Sindicato dos Rodoviários e a Liga Operária decidiram apoiar a luta pela moradia desenvolvida pelas famílias ocupantes de um terreno baldio da prefeitura, hoje a Vila Bandeira Vermelha, em Betim, Minas Gerais, que culminou com a invasão do terreno pelas tropas fortemente armadas da PM, acatando ordens do então prefeito, Jésus Lima, do PT. O saldo da brutal invasão policial foi o assassinato dos trabalhadores desempregados Erionides Anastácio dos Santos e Élder Gonçalves de Souza, que lutavam pelo justo direito à moradia.
Desde então, tem se intensificado a perseguição às organizações que apoiaram a luta dos ocupantes do Vila Bandeira Vermelha. Foi-se criando uma trama de falsas acusações que engrossam um processo judicial que já dura mais de seis anos, devido aos sucessivos pedidos de prorrogação do processo pela Polícia Federal, que tenta criminalizar a luta popular no país.
Segundo o advogado responsável pela defesa no processo, e integrante da organização dos Advogados do Povo, Dr. Daniel Dias de Moura, o processo é arbitrário, não se justifica e se dirige contra o dirigente da Liga Operária. O processo se configura nada mais do que uma perseguição política, uma vez que poderia ser encerrado em apenas seis meses de investigação e burocracia, mas a justiça e o governo insistem em mantê-lo aberto para intimidar a luta do povo pelos seus direitos e cercear as ações de Albênzio em favor da luta popular.
Durante o ato foram vários os depoimentos de repúdio aos processos contra a luta do povo e suas lideranças, como o sofrido pela estudante Bárbara Flores, integrante da UCMG (União Colegial de Minas Gerais), detida em 2003 no presídio de Bangu 6, por ter participado de uma manifestação no Rio de Janeiro contra a invasão do Iraque pelas tropas ianques e que, desde então, é vítima de um processo do Ministério Público do Rio de Janeiro.
Participaram do ato também integrantes da Liga dos Camponeses Pobres. Eles chamaram atenção às arbitrárias prisões de camponeses no Norte de Minas e em Rondônia, onde o camponês Wenderson dos Santos, o Russo, se encontra preso há dois anos por lutar pela terra para plantar e que atualmente foi transferido para o bárbaro presídio Urso Branco, na cidade de Porto Velho, em Rondônia.
Conforme denúncia dos camponeses, Russo já sofreu duas tentativas de assassinato quando ainda estava preso em Jaru, Rondônia, e agora, no Urso Branco, corre mais ainda o risco de perder sua vida na mão de assassinos a mando do latifúndio. O seu advogado, Dr. Hermógenes Jacinto de Sousa, na tentativa de acabar com a agonia do camponês, de seus familiares e companheiros, também vem sofrendo ameaças de morte.
A posição classista, combativa e independente das direções do Sindicato, da Liga Operária e de todos os militantes das causas populares, tem incomodado os interesses dos poderosos que usam de todas as formas para atingir e impedir a continuidade da luta do povo. Mas esses poderosos estão muito enganados se pensam que vão intimidar e acabar com essa luta. As perseguições e calúnias não intimidam; servem é para mostrar que o povo está incomodando os seus interesses. A luta continuará até a vitória da classe!
Ao final do ato foi definida por todos os presentes a continuidade das campanhas de solidariedade aos lutadores do povo e de denúncias contra as perseguições às organizações classistas e independentes, trabalho que já vem sendo desenvolvido, e apresenta resultados, visto o grande número de pessoas presentes no ato e as mensagens de apoio recebidas.