Depois de sangrentos combates nos dias 20 e 21 de março, a Divisão Ocidental do Exército Popular de Libertação (EPL) do Nepal, dirigido pelo Partido Comunista do Nepal — Maoísta [PCN (M)], se apoderou durante 13 horas da capital do distrito de Myagdi, a cidade de Beni, no oeste do país. O EPL desferiu este golpe aos quartéis da polícia e exército a 300 km oeste da capital Katmandu, três semanas depois que a Divisão Oriental ganhou um combate similar em Bhojpur, capital de uma província do leste.
Segundo relatos, vigiavam a cidade mais de mil efetivos do Exército Real do Nepal (ERN), metade no quartel e outra em patrulha. Foram aniquilados cerca de 150 e estima-se que centenas tenham se rendido, além do que, os revolucionários fizeram 35 prisioneiros de guerra, entre militares e políticos reacionários. O EPL se apoderou ainda de 130 fuzis modernos e 50 mil balas de diversos calibres.
Os combatentes revolucionários iniciaram o ataque às 23 horas e rapidamente reduziram a escombros o Escritório da Administração (OAD), o Escritório de Polícia (OPD), onde recuperaram todos os fuzis dos gendarmes e o Escritório de Desenvolvimento do Distrito (ODD). Entraram à força na prisão e libertaram todos os presos políticos. No Escritório do Banco Nacional de Desenvolvimento expropriaram todo o dinheiro.
À meia-noite atacaram o Batalhão Kaliprasad e, segundo o serviço de notícias maoísta KSS, destruíram o círculo exterior do quartel. Os combates seguiram até meio dia de domingo (21). O EPL, disparando das colinas ao redor da cidade, impediu que reforços em helicópteros aterrissassem. Um helicóptero foi derrubado, e atearam fogo ao quartel do Exército e ao escritório do Oficial Chefe do Distrito e a ODD. Segundo a imprensa nepalesa, a população dos arredores compareceu, cantando músicas revolucionárias e dançando.
Às 15 horas do dia 21, quando os revolucionários dirigidos pelos maoístas haviam deixado o campo de batalha, sete helicópteros do ERN sobrevoaram a cidade e bombardearam as aldeias vizinhas, assassinando três civis. A emissora maoísta FM do distrito de Salyan transmitiu as notícias. Os habitantes do distrito de Baglung, a 15 Km, ficaram muito felizes ao se inteirarem da grande investida no campo inimigo.
Numa entrevista coletiva em Katmandu, o ERN, cinicamente, declarou que havia matado 500 maoístas e ferido 200 e que obteve somente 18 baixas. Nem a imprensa burguesa deu crédito. No dia 22 quase todos os jornais nepaleses questionaram e até zombaram desta afirmação. Nos dias subsequentes, o Ministério do Interior e o quartel do ERN na capital censuraram os meios de comunicação para que não divulgassem nada além do que fosse passado por estes órgãos. Na noite do dia 21, o presidente Prachanda do PCN (M) lançou um comunicado com os fatos. Disse: “Esta segunda ação, qualitativamente exitosa, depois da ação sob a coordenação central em Bhojpur, é uma refutação contundente às mentiras propaladas pelo inimigo (sobre o enfraquecimento da força militar dos maoístas) e mostrou claramente o desenvolvimento e a invencibilidade da guerra popular mediante ações descentralizadas em todo país e com estas últimas ações, o EPL tem estabelecido sua supremacia militar sobre o assassino ERN. Continuarão as ações militares até que se obtenha uma solução política com mudanças globais.” O serviço de notícias KSS informou que no combate tombaram 49 revolucionários, dentre eles o vice-comandante de brigada do EPL.
O governo e seus partidários reagiram com muita preocupação. O enviado especial britânico, Jeffrey James, se reuniu com os dirigentes dos partidos políticos parlamentares e os instou a unirem-se ao rei. Desde que o rei dissolveu o parlamento e tomou o poder absoluto em 2003 se agravaram as brigas internas nas classes dominantes. Richard Boucher, porta-voz do departamento de Estado ianque, disse que os maoístas “devem parar a violência e retomar as conversas com o governo em busca de uma solução política para crise.” O secretário geral da ONU, Kofi Annan, disse que não se pode resolver a crise por meios militares. A monarquia disse que está a ponto de derrotar os maoístas.
O PCN (M) caracteriza a situação da guerra popular no Nepal como em equilíbrio estratégico, em iminência de se passar à contra-ofensiva estratégica, o que leva ao desespero as classes dominantes locais e o imperialismo. Recentemente, o New York Times afirmou em artigo que não haveria graça nenhuma uma República Popular maoísta no sudeste asiático a esta altura do campeonato.