Cerca de 200 famílias estão vivendo na rua em situação precária desde que foram expulsas de suas casas em um assentamento localizado no bairro de Massaranduba, em Salvador. A ação de reintegração de posse promovida pela Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (Conder) no dia 28 de janeiro deste ano foi recebida com protestos e resistência.
Mauro Akin Nassor/Correio
Moradores resistiram contra forte aparato de guerra da PM baiana, em janeiro
Os moradores relataram que no dia da demolição foram expulsos à força dos imóveis. A tropa da Polícia Militar (PM) chegou em torno das 6 horas da manhã em mais de dez viaturas e, rapidamente, começou a marcar os 400 barracos de madeira com “X”, para derrubada imediata, ou “R”, para a retirada dos móveis. Dava-se, então, o início da desapropriação da área, para desespero das famílias.
“Chegaram aqui esmurrando as portas, perguntando quem estava morando, dizendo que todo mundo vai sair, tratando a gente como cachorros.”, afirmou uma moradora em entrevista concedida ao jornal Correio. “Se eu tivesse para onde ir não estaria passando por isso.”.
A população resistia à derrubadas dos barracos, enfrentando os policiais que formavam paredões e avançavam com escudos e cassetetes. Com o uso de bombas de gás lacrimogêneo, eles conseguiram abrir a passagem.
O motorista da retroescavadeira chegou a chorar ao testemunhar o apelo da população. Ele teria desligado a máquina e descido para ir embora, mas um homem de preto o mandou retornar “Disseram: ‘Volte, você é louco de desacatar uma ordem judicial? Você está aqui pra isso’. E o motorista retornou e começou a derrubar os barracos”, contou uma moradora.
Duas pessoas ficaram feridas: uma mulher atingida por bala de borracha e um homem. que levou uma pedrada na cabeça. Uma mulher grávida junto de um bebê de oito meses também passaram mal com as bombas de gás lacrimogêneo.
A Conder informou em nota que os moradores receberam a notificação de reintegração de posse nos dias 9 e 10 de janeiro, e que o órgão disponibilizaria caminhões para as famílias tirarem seus pertences do local. Um morador, porém, revelou que somente no dia 25 que recebeu a notificação sobre a retirada das casas.
Atualmente, os muitos que não tiveram para onde ir dependem de doações e vivem na rua, em frente à antiga moradia, onde ainda se encontram o rastro deixado pela demolição e do que restou das casas onde as 200 famílias moravam há pelo menos um ano. Muitas madeiras quebradas se misturam com a poeira.
Conder suspeita de incêndio
Por volta das 18h30 do dia 31 de janeiro, um incêndio tomou conta das moradias improvisadas das famílias que foram despejadas. Os moradores acreditam que a Conder é responsável.
“Às 17h de ontem, funcionários da Conder tinham acabado de cercar toda a área com arame farpado. Logo depois, o fogo surgiu. Como pode? Nós não íamos fazer isso. A Conder é a maior interessada na nossa saída.”, declarou uma moradora. As testemunhas estavam aglomerados sobre uma calçada enquanto compartilhavam uma bacia com sopa – a primeira refeição do dia para muitos que estavam ali – quando as chamas surgiram. Como o local é repleto de pedaços de madeiras, não demorou para as chamas alastrarem-se.
Esta não seria a primeira vez que ocorre um incêndio supostamente acidental. Os moradores contam que ao fim do ano passado, representantes da companhia estiveram na ocupação para intimidar os moradores e coagi-los a deixar o local. “No dia seguinte, dois barracos pegaram fogo ‘misteriosamente’.”, conta uma das desabrigadas.