Bairros pobres oprimidos, cercados e militarizados

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Bairros pobres oprimidos, cercados e militarizados

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Já instalada nas favelas Santa Marta, Cidade de Deus e Batam, foi inaugurada no dia 10 de junho a nova ‘unidade pacificadora’ da PM do Rio nos morros Chapéu Mangueira e Babilônia. A militarização inclui a construção de muro cercando as favelas e a destruição do comércio local. A população se organiza e prepara a resistência contra essa nova intervenção, patrocinada por Luiz Inácio com 63 milhões de reais do Plano de Aceleração do Crescimento.

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Muro já construído no Santa Marta

Recém inaugurado, o batalhão da PM nos morros Chapéu Mangueira e Babilônia — chamado de ‘unidade pacificadora’ — é a nova dor de cabeça dos trabalhadores que moram no local, agora vigiados como criminosos, 24 horas por dia.

O vigilante André Luiz Abreu de Souza, de 32 anos, conhecido como Che Guevara, lidera a resistência popular através do Fórum comunitário Lúcio Bispo — grande comunista que morava na favela antes de falecer e que, de acordo com André, recebeu Che Guevara em sua casa durante a visita do líder cubano ao Brasil em 1962. O vigilante conta que o projeto da ‘unidade pacificadora’ não foi discutido com a comunidade.

— Isso é mais uma imposição do Estado, que não foi discutida com a comunidade, o que já virou um hábito. Todo projeto que chega aqui, já chega pronto. Nós nunca participamos do planejamento. Essa "unidade pacificadora" foi anunciada em uma reunião da SOS Leme, na qual o secretário de Segurança [Beltrame] estava presente, para atender um interesse da burguesia e da classe média alta que reside no Leme, de manter os morros Chapéu Mangueira e Babilônia ocupados pela polícia. Nós ficamos sabendo de tudo em cima da hora. E quem está financiando isso tudo é o Lula. Quem dá dinheiro para Cabral e Eduardo Paes sustentarem essas medidas fascistas aqui é o Lula — conta André.

Povo cercado por muros

E junto com a presença em tempo integral da polícia mais violenta do mundo, moradores dos morros Chapéu Mangueira e Babilônia serão cercados por muros, como já acontece na Rocinha e na favela Santa Marta, ambas em regiões consideradas nobres da cidade do Rio.

André Luiz acusa a gerência estadual de usar a questão da proteção ambiental como pretexto para a construção dos muros, já que nos últimos anos, os bairros não avançaram um metro sequer em direção a mata. Segundo André, ao contrário disso, um projeto de reflorestamento promovido pelos próprios moradores têm recuperado a vegetação, sua fauna e flora.

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"Unidade pacificadora" nas favelas do Leme

— E o muro vem no mesmo pacote da "unidade pacificadora". E eu posso provar para você que os morros aqui não precisam de muro, porque em 1995 iniciou-se um projeto de reflorestamento, que inclusive foi apoiado pela prefeitura e que ganhou uma projeção muito grande, promovendo até o retorno de espécies de animais que saíram da mata quando ela estava sendo desmatada há 15 anos atrás. Portanto, eles sabem que aqui nós não desmatamos, mas sim reflorestamos, logo não precisamos de muro. Nós sabemos que as intenções por trás do muro estão muito distantes do meio ambiente. Já foi comprovado que os que mais desmatam são os ricos, então esse muro não serve para nada que não seja a criminalização da favela. Inclusive o Sérgio Cabral deu uma entrevista para a revista Isto é dizendo que pretende colocar guaritas nesses muros. A comunidade vai virar um campo de concentração. A proteção ambiental não passa de um bode expiatório. E essa é outra iniciativa que não foi discutida com a comunidade. A gente fala do muro com as pessoas e elas perguntam "Muro? Que muro é esse?". Ninguém sabe de nada. Aqui a gente vai fazer um plebiscito, como foi feito na Rocinha e resistir o quanto for necessário — explica.

Pago por Luiz Inácio

Em visita ao Rio no dia 29 de maio para inaugurar as obras do PAC nos complexos do Alemão e de Manguinhos, Luiz Inácio anunciou a inclusão dos morros Chapéu Mangueira e Babilônia no plano de obras, o que inclui o gasto de 62,5 milhões de reais.

De acordo com ‘Che’, os investimentos são quase todos voltados para o turismo, como a construção de um teleférico e um parque aquático, e não atendem as reais demandas da comunidade, como educação, saúde e saneamento.

— Com o anúncio do PAC, chegou a notícia de que o Lula vai investir R$ 63 milhões na comunidade. Vai ter obras para criar teleférico, parque aquático e mais um monte de coisa, mas e as verdadeiras demandas da comunidade? A população do morro da Babilônia cresceu muito nas últimas décadas e o reservatório de água que abastece o povo já não está suportando a demanda. Aqui ainda têm casas de pau-a-pique. Para comunidades relativamente pequenas, 63 milhões é muito dinheiro, a gente imagina grandes melhorias de saneamento e urbanização, antes de Parque Aquático e teleférico. Se é que esse dinheiro vai ser investido — lamenta.

De acordo com Luiz Fernando Pezão, vice de Cabral, Luiz Inácio é o grande patrocinador das gerências estadual e municipal nas políticas genocidas de criminalização e extermínio da pobreza. Segundo ele, Luiz Inácio "vibra muito quando a gente inaugura as coisas e leva novos projetos".

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