Em Fortaleza, o Movimento Crítica Radical defende o boicote às eleições
O Comitê Contra a Farsa eleitoral de Belo Horizonte já prepara suas primeiras ações. Não votar, votar nulo, boicotar as eleições. Esse chamado tem repercutido na cidade de várias formas: através de convocações boca-a-boca, e-mails, reuniões em canteiros de obras da construção, assembleias.
Uma potente ferramenta para a convocação e mobilização do Comitê tem sido o programa Tribuna do Trabalhador, transmitido pela Rádio Favela (Autêntica FM), sintonia 106,7 FM, que também pode ser ouvido ao vivo na internet todos os sábados, das 8 às 10 horas da manhã.
Integrantes do Comitê anunciam as reuniões e convocam os ouvintes para participarem das reuniões e atividades, esclarecem e debatem como será realizado o boicote ativo à farsa eleitoral.
A participação dos ouvintes é grande e os debates concorridos. A aceitação da proposta de denúncia e boicote ativo às eleições tem sido grande e quando algum ouvinte liga e defende algum tipo de participação no parlamento, o debate esquenta.
E o mais importante, esses ouvintes não têm se limitado a participar apenas dos debates durante o programa, mas tem comparecido às reuniões do Comitê e se mobilizado para participar das panfletagens, debates e das diversas ações propostas nas reuniões.
Vote comigo, vote nulo
Escrito por Públio Athayde*, publicado em 12 de agosto de 2012 no observadorpolitico.org.br
Cartaz do Comitê pró-voto nulo da Baixada Santista
Não adiantaria mudar pessoas: o sistema vigente não presta. Qualquer santo se corromperia ali. Eu teria gosto em fazer política, mas não me arrisco a me misturar com porcos, pois sei que acabaria comendo farelo. Ninguém é bom, puro ou honesto e forte o suficiente para não ser corrompido pela estrutura eleitoral, política, partidária, legislativa, judiciária e administrativa do Brasil: o tal sistema que chamam de democracia.
A mudança do sistema será lenta: décadas – se for feita. Mas penso que o primeiro passo seja começarmos a negar a validade do que estamos praticando. Negar a validade é, inclusive, não participar do processo. Não participar é votar nulo, branco ou abster-se de escolher algum bandido conhecido ou algum conhecido que vai se transformar em bandido.
Pense nisso ao ir às urnas, não se engane escolhendo nominhos e achando que isso vai fazer alguma diferença. Na prática, o voto da minoria serve só para referendar a opressão da patuleia pelos premiados pela loteria eleitoral. Isso é o que chamam de democracia, os cordeirinhos sufragando lobos, podem uns votar nos malhados, outros nos pardos e até nos verdes! Mas são todos lobos. Eu sou a ovelha negra, que vai fazer diferente e não vai mais votar em lobo nenhum, em vagabundo nenhum que quer é jantar a gente.
Após a publicação desse texto, alguns leitores comentaram, outros rebateram. Esse foi o último comentário feito pelo autor, ainda no dia 12 de agosto:
As pessoas estão convencidas que escolhendo melhor podem corrigir o sistema, mas apenas podem mudar uns erros por outros, umas pessoas erradas por outras que errarão. As pessoas estão persistindo no erro, persistindo no engodo de achar que eleições mudam alguma coisa. Só mudam a lista de réus, quanto mais espertos forem eles, menos puníveis.
Outros dizem que quem não vota não pode reclamar depois. Não vou reclamar “depois” – estou reclamando AGORA – pois sei o resultado. Nenhuma das opções nas urnas, em nenhuma cidade, vai mudar o resultado: repetição dos nomes que farão as mesmas coisas, ou nomes novos que farão as mesmas coisas. O defeito não está nas pessoas (apenas) o defeito é o SISTEMA.
Não existem escolhas quando o sistema não presta. Qualquer pessoa não presta, se esse sistema é corrupto. Não vou mais ficar votando nesse ou naquele, não vou tentar trocar ratos gordos por ratos magros. Vou reclamar sim, vou reclamar de bandidos, vou reclamar de incompetentes. O meu direito de não votar não outorga a ninguém direito nenhum de roubar, ou praticar nenhum crime. Não vou participar disso, não vou, não vou, não vou. Não vou endossar essa pornochanchada. Estou de fora. Não existe escolha entre bandidos, meio-bandidos, canalhas, meio-canalhas. Não vou escolher menos pior. Não vou mais fazer escolhas por cor do bigode, por mentira mais bonitinha, por biografia mais santa.
Só não há mudança na permanência. Se você não consegue ver alternativas, procure mais, olhe mais adiante, pense diferente – rasgue alguns conceitos antigos supostamente válidos, mas que comprovadamente são ilusórios. Esse é o primeiro passo necessário. Eu não tenho nenhuma receita pronta para sanar os males que se apresentam, mas estou disposto a muita coisa.
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* Professor, formado em Ciência Política pela UFMG, dedicado à atividade literária e artes visuais.