A "nova" Constituição Política do Estado foi inaugurada com a criação de mais burocracia e empecilhos através de indícios de corrupção no governo do Movimiento al Socialismo — MAS. Os militantes do MAS e a imprensa burguesa coincidem em denominar esta reforma como a "refundação do país".
No domingo pela manhã, Evo Morales empossou os 20 ministros (antes eram 17) do "novo governo plurinacional". A burocracia recém-empossada tem a tarefa de fechar o cerco, segundo o chanceler David Choquehuanca, porque "os ataques da oposição no período eleitoral irão se agravar".
Os 20 ministros têm o trabalho de entrincheirar-se em torno de Evo Morales para evitar que ele se desgaste ainda mais com os escândalos de corrupção de pessoas de sua confiança, a falta de uma política agrária e de produção, a ausência de planos para gerar trabalho e a presença de uma crise incontida para as massas.
As eleições presidenciais estão previstas para a primeira semana de dezembro na nova Constituição. Evo Morales mal saiu de referendo e agora deve se preparar para candidatar-se à cadeira presidencial. Na posse de seu novo gabinete de ministros, Morales disse que não concordava com os 61% de votação (obtida no referendo com o Sim à Constituição em 25 de janeiro), "é como um vício", e quer mais.
Os ministros, então, têm como incumbência principal fazer a campanha eleitoral, mas antes devem armar as estruturas burocráticas e criar postos de trabalho (chamados comumente de "pegas") para seus militantes, simpatizantes e agregados.
Outra missão dos ministros é lavar a cara do Presidente e de seu governo, enlameada até os cabelos pelos casos de corrupção desatada ao redor da "brilhante" proposta do MAS: a "nacionalização" dos hidrocarbonetos.
A corrupção em departamentos (estados) governados pelo MAS e em secretarias de toda a administração estatal espalha-se como um vírus, algo que Evo Morales não nega e atribui que "a corrupção é um direito de um Estado colonial".
Contudo, o governo tem como desafio encantar as massas para que siga depositando seu voto a favor de Evo Morales. O povo pobre não abandona as esperanças de dias melhores.
As expectativas
Em 7 de fevereiro, o MAS convocou uma concentração massiva em El Alto para presenciar a promulgação da nova Constituição Política do Estado. A maioria da multidão reunida era de funcionários públicos, que estavam ali obrigados por seus respectivos chefes.
No entanto, também estive-ram presentes pessoas simples, camponeses pobres, que chegaram a concentração repletos de esperança em dias melhores. O pai de uma família de Roboré (a 400 km de Santa Cruz de la Sierra), disse que com a nova Constituição haverá trabalho e bem-estar para a população, embora tenha admitido que nos últimos três anos não percebeu nenhuma mudança de que tanto falam.
Um cidadão de Tarija, Hernán Choque, disse que espera para adiante "mais educação, mais saúde e mais trabalho" para os pobres, crente que isso chegará agora com a já aprovada nova Constituição.
Outros setores populares assistiram ao ato praticamente obrigados por seus dirigentes. Às 8 horas da manhã de sábado, uma verdureira do mercado Rodríguez protestava em alto e bom tom para todos os seus vizinhos de venda por ser obrigada a ir a promulgação da nova Constituição em El Alto: "Se não comparecermos, nos cobrarão uma multa de 100 bolivianos"*, exclamava, se queixando por ter que deixar seu local de trabalho para esta comemoração.
O governo não economizou. O deslocamento de vários regimentos militares até La Paz e a contratação de uma empresa para retirar e em seguida recolocar as grades do aeroporto internacional teve um custo alto.
Mais uma vez, Evo Morales aproveitou para chamar "a todos os prefeitos (governadores) e administradores", para referir-se objetivamente aos cívicos da "Media Luna", para juntos por em marcha a Constituição.
* 100 bolivianos equivalem aproximadamente a R$ 33,02.