Brincadeira e trabalho sério

Brincadeira e trabalho sério

Companhia de circo e teatro de rua itinerante que cria, produz e circula com seus próprios espetáculos, o OFF-SINA comemora 25 anos de trabalho sobre o teatro popular e a arte do riso. Formado pela família Riguetti, tem como sede a garagem de sua casa, no Rio de Janeiro, que denomina o Grande Circo Teatro Garagem, onde promove encontros com o povo. Paralelamente, mantém uma sede pública na cidade e circula por praças e ruas de várias localidades do país.

— O circo é uma possibilidade de colocar a nossa subjetividade em forma de espetáculo. A nossa constituição é um núcleo familiar como toda família circense: eu, minha esposa Lilian Moraes, o Paulo e o Renato, nossos dois filhos. A garagem da nossa casa funciona como escritório e sala de ensaio, e na época do inverno torna-se palco do que chamamos de ‘sexta-feira lá em casa’, quando fazemos apresentações de pequenos espetáculos, com uma conversa e uma comida — conta Richard Riguetti.

— Além dessa sede, trabalhamos com o que chamamos de ‘sede pública’, um conceito novo que os grupos de teatro de rua do Brasil estão utilizando, que é a ocupação de um espaço público aberto, seja ele praça, rua ou parque.

No caso, nós trabalhamos, há 24 anos, no Largo do Machado, uma praça na zona Sul do Rio, por onde passa gente de várias partes da cidade — continua.

— Preferimos desenvolver nossas atividades de espetáculos e oficinas, ao ar livre, junto com as pessoas. Construímos a nossa poética em espaços públicos abertos, aceitando a situação que se apresenta naquele entorno da praça. O grupo procura trabalhar bastante a pesquisa, o estudo, o treinamento, o ensaio, a apresentação e a reflexão — comenta.

Segundo Richard, o próprio nome do grupo vem desse desejo de encontrar e dialogar com o povo.

— Em 1986/87, quando nós o fundamos, a palavra off significava estar fora do teatro comercial. Era uma designação para um tipo de teatro alternativo muito usado no meio. Juntamos com sina, que significa ter uma missão, ir atrás do público que não estava presente nas salas de espetáculos, pois apenas cinco por cento da população do Rio de Janeiro ia ao teatro. Essa realidade não mudou e continuamos trabalhando para esses noventa e cinco por cento que fica do lado de fora — afirma.

O OFF-SINA é um dos articuladores e fundadores da Rede Estadual de Teatro de Rua do Rio de Janeiro e da Rede Brasileira de Teatro de Rua. Richard diz que além das apresentações na sede e na “sede pública” o grupo já percorreu 25 estados brasileiros, com uma participação, em média, de 300 a 500 pessoas por apresentação.

— Acreditamos que já atingimos mais de dois milhões de espectadores, entre eles moradores de comunidades populares dos mais longínquos lugares do nosso país. Ao longo desses anos temos conseguido muitos prêmios, o que tem ajudado na nossa sobrevivência e continuidade dos trabalhos — declara.

Circo e teatro ao ar livre

— No nosso repertório estão espetáculos como: OCafé Pequeno da Silva e Pisiu,E o palhaço o que é? e Oba, o circo chegou, todos de palhaço, com cenas chamadas de ‘reprises e entradas’, que são clássicos do picadeiro. São cenas de diversos palhaços de vários circos, mas, abordadas de forma diferenciada por cada um — explica Richard, que é o palhaço Café Pequeno, ao lado de Lilian Moraes, a palhaça Currupita.

— Também O príncipe da maçonaria, um espetáculo de circo teatro, um pouco diferente desse universo só do palhaço. É uma peça que passa de pai para filho, nós não conhecemos o autor. Temos também Nego beijo, um espetáculo que retrata a vida e a obra do Benjamim de Oliveira, filho de escravo, um dos maiores palhaços negros do Brasil, e A Borralhona, que conta a história da palhaça Currupita, que quer se casar — continua.

Junto com a família Riguetti, segundo Richard, existe uma equipe com figurinista, cenografista, designer gráfico, preparador corporal, dramaturgo, e tudo mais, formada para cada espetáculo, assim como artistas convidados.

— Para O príncipe da maçonaria, convidamos uma família de circo, chamada Família Campos, do circo Show Tropical. Conosco contracenaram o Marcelo Campos, a Tânia Campos e o Michel Campos. Foi a união de duas famílias circenses em um só elenco, algo maravilhoso que pode acontecer sempre que precisarmos — comenta.

— Atualmente estamos realizando um projeto comemorativo dos 25 anos. Vamos fazer uma pesquisa sobre a vida e a obra do casal de palhaços Treme-Treme e Corrupita, já falecidos, que são os nossos mestres. Teremos a orientação da Ermínia Silva, da Unicamp, uma doutora especializada em história e muito dedicada à arte do circo. Dessa pesquisa deve sair um novo espetáculo — avisa.

— Além disso, teremos 24 atividades durante todo o ano aqui na nossa sede pública, no Largo do Machado. Vamos receber amigos e grupos do Brasil inteiro e também os Patos Mochados, da Argentina. Paralelo, iremos realizar o plano piloto da Escola Livre de Palhaços, onde estaremos convidando seis mestres de palhaços — finaliza Richard Riguetti.

Para participar do ‘Sexta-feira lá em casa’, saber maiores informações sobre datas de apresentações na sede pública ou outros locais, contatar: (21) 2556-6203 e http://offsina.blogspot.com/

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