Existe um clima de “salve-se quem puder” entre as classes dominantes. A pugna entre os supostos três poderes da República e, até mesmo, no interior de cada um deles é o reflexo das disputas entre as frações das classes dominantes e entre seus respectivos grupos de poder em busca de ganhar mais ou perder menos com a crise condicionada pela situação revolucionária em desenvolvimento.
Dificuldades para chegar ao acordão
A “Operação Lava Jato” continua tirando o sono e o respeito de “ilustres” figuras da República, como Sérgio Cabral, ex-governador do Rio de Janeiro e principal responsável pela debacle deste estado. Enquanto isso, nos porões do Congresso Nacional e nos monopólios de imprensa, arma-se uma ofensiva em duas frentes: a primeira, temporariamente já fracassada, com o objetivo de embutir no projeto anticorrupção também processar juízes por crime de responsabilidade. E a segunda, para baixar a bola do judiciário ao tentar desviar o foco da “Lava Jato” para a questão dos supersalários; item no qual o judiciário desponta como um insulto ao vergonhoso salário mínimo de R$ 880,00, albergando supersalários de até R$ 200.000,00.
Direcionar o ataque ao judiciário, apesar de ser mais um caso do “sujo falando do mal lavado”, tem a finalidade de conseguir fazer um acordão de todos os partidos do putrefato sistema político e paralisar a fúria investigatória, de inquéritos, prisões e condenações. Um acordão mais de fundo do que aquele que apareceu nas gravações de conversas do Sérgio Machado com Renan Calheiros, Sarney e Delcídio Amaral que propunha conchavar todo mundo, menos o PT, e fazendo o impeachment de Dilma para aplacar o sentimento anticorrupção da sociedade. O que, àquela ocasião, só serviu para depor a presidente, fez com que a opinião pública anticorrupção seguisse dura. Os Procuradores e Juízes intensificaram as denúncias através das “delações premiadas” e, com o aprofundamento da crise econômica, o povo aumentou sua rebelião contra o gerenciamento.
O acordão de agora inclui o PT e satélites, cujo ingrediente do angu seria a anistia dos trambiques praticados por “suas excelências” do mesmo PT, PMDB, PSDB, PP, Et caterva, criando ambiente de “estabilidade política” para se aplicar com toda força as medidas draconianas contra o povo e a nação que já estão sendo votadas no Congresso.
Tirante a demagógica campanha de Fernando Collor em 1988, nem no gerenciamento de FHC nem de Luiz Inácio ou Dilma, a questão dos altos salários (ou marajás, como Collor denominava) foi sequer arranhada, pelo contrário. Mais que tolerada, foi incentivada por uma vinculação horizontal, entre os três poderes; e vertical, com a vinculação das instâncias inferiores às superiores, no caso do judiciário, proporcionalidade entre juízes, desembargadores e ministros dos tribunais superiores. Tudo isso como forma de manter a “harmonia” entre os poderes. Em todos eles, burocratas de alto coturno acumulam vantagens e benefícios que ultrapassam em muito o teto estipulado em lei, como se o estabelecimento de um teto salarial de R$ 33.000,00 não se constituísse, por si só, uma imoralidade.
Ministros, senadores, deputados, governadores, ministros de Tribunais Superiores, procuradores, desembargadores, diretores de Estatais, membros de conselho de administração das mesmas, deste e de governos passados, muito bem aposentados antes de completar 60 anos, continuam acumulando os contracheques e defendendo a reforma da previdência, para os outros.
Necessidade semicolonial
Na verdade, a manutenção de alta casta burocrática/militar privilegiada, que consome bilhões de reais dos impostos pagos pelas massas, não só com altos salários, mas com benesses muitas vezes superiores aos salários, faz parte do caráter semicolonial e semifeudal do Estado nas semicolônias, a serviço do modelo de capitalismo nelas engendrado pelo imperialismo, o capitalismo burocrático.
Tais privilégios tem o fito de acobertar e dar sustentação à dominação do país pelo imperialismo e classes dominantes lacaias. Desta forma, assegurado o abjeto saqueio da nação, através da remessa de lucro, cobrança de juros exorbitantes da dívida pública, royalties, assistência técnica, super e subfaturamento, isenções e incentivos fiscais, subsídios e outras formas “criativas” a favorecerem à grande burguesia, ao latifúndio e, principalmente ao imperialismo e exploração das classes trabalhadoras, sugando seu suor e sangue com o arrocho salarial e constante precarização dos direitos e condições de trabalho. Estes ficam com a parte do leão de tudo o que o povo brasileiro produz, enquanto que os burocratas de alto coturno fazem o papel de hienas.
Oportunismo e burocracia
Historicamente o oportunismo e o revisionismo, sócios menores do imperialismo, portanto, contrarrevolucionários camuflados, são contumazes perseguidores de “lugarzinhos rendosos” em qualquer dos três poderes. Estes jamais estarão na linha de frente na luta pela destruição dos privilégios da burocracia. Provas mais que suficientes vamos encontrar no gerenciamento petista quando boa parcela de militantes, antigos operários, ascenderam às classes possuidoras ao se aboletarem na alta burocracia.
Nunca é demais salientar que por essa e outras razões eles estão no campo da contrarrevolução.
Alvo da Revolução
Em seu importantíssimo livro “O Estado e a Revolução”, Lenin já advertia que a tomada do Poder pelas classes revolucionárias só estaria consolidada mediante o estabelecimento de forças armadas comprometidas com os ideais revolucionários e a destruição de todo o aparato burocrático e sua substituição por funcionários eleitos e com mandatos revogáveis a qualquer momento.
Assim, a destruição desta burocracia bilionária é alvo da Revolução Democrática tanto quanto o latifúndio, a grande burguesia e a subjugação imperialista, principalmente ianque.
Enquanto a situação revolucionária se desenvolve de forma mais acelerada, os revolucionários devem colocar em seus planos de luta a exigência de redução imediata de todos os altos salários e o corte de todo o privilégio da burocracia, porém conscientes de que “Fora o Poder tudo é ilusão”.