O gerenciamento reacionário do estado do Rio de Janeiro, ora sob a direção de turno de Sérgio Cabral, segue se esmerado em levar às últimas consequências uma das principais tarefas que a grande burguesia fluminense lhe confiou: mobilizar todo o aparato repressivo sob suas ordens para sitiar as classes populares que estão ao seu redor. A mais recente nuance desta escalada fascista levada a cabo sob a patuscada da “reconquista do território” e da “proteção da população” é a ocupação das cercanias de escolas da rede estadual de ensino pela Polícia Militar.
Trata-se da extensão do Programa Estadual de Integração de Segurança (Proeis) para a rede estadual de ensino, que começou a vigorar no último dia 2 de maio e que consiste na presença ostensiva de 423 policiais militares fardados e armados na portaria e cercanias de unidades escolares de 21 municípios fluminenses, 37 somente na capital.
Cabral comentou mais este capítulo do sitiamento do Rio dizendo que a extensão do Proeis para as escolas do Rio é mais uma prova da “integração dos setores”. O monopólio da imprensa noticiou a assinatura do termo de “cooperação” entre a famigerada Polícia Militar do Rio e os responsáveis pela educação pública do estado dizendo que a medida “beneficia” 115.490 alunos e 6.279 professores.
Sim, o Proeis no sistema público de ensino do Rio é uma prova e, sim, beneficia alguém: é uma prova do processo de militarização das escolas do estado do Rio de Janeiro, o que beneficia as classes dirigentes, sempre ansiosas por manter o povo na rédea curta.
Aprovando a iniciativa de Cabral, a diretora de uma das escolas agora “conveniadas” ao Proeis disse a um jornalão do Rio exatamente o que um jornalão do Rio gosta de ouvir, ou seja, um discurso preconceituoso, elitista, reacionário, de criminalização, de insinuação de que os jovens das classes populares são casos de polícia:
“Em frente à escola há sempre alguns grupos que se reúnem para perturbar as aulas. Eles sempre colocam o som alto e ingerem muita bebida alcoólica. Com esta chegada do policiamento este movimento, entre outros que acontecem, será diminuído”.
Mil e trezentas crianças no quartel
Outro exemplo de “parcerias” desta estirpe entre o aparato repressivo do velho Estado e as instituições públicas de ensino é o Programa de Resistência às Drogas (Proerd), fruto de uma dobradinha entre a Polícia Militar do Paraná e a Secretaria de Educação daquele estado.
No último dia 18 de maio, nada menos do que 1,3 mil alunos do 5º ano do ensino fundamental de escolas de Curitiba foram encaminhados ao Quartel do Comando Geral da Polícia Militar paranaense para serem “formados” no programa.
Três jovens estudantes foram escolhidos como vencedores de um concurso de redação sobre as supostas maravilhas operadas pela Polícia Militar nas escolas. As três crianças cantaram a música oficial do programa com a banda do Proerd e tiveram contato com os policiais que participam do programa.
Nada mais marcial, como marcial e reacionário é o louvor ao “modelo do policial fardado” nas escolas, como falou um oficial da PM do Paraná à imprensa burguesa, que costuma repercutir com loas toda e qualquer iniciativa que alarga os tentáculos do aparato repressivo do velho Estado:
“O programa tem feito um trabalho excelente, vitorioso em todo o planeta, neste momento são 10 milhões de crianças ao redor do mundo todo que estão em sala de aula tendo um modelo de policial fardado, mostrando a eles o perigo das drogas e as vantagens do civismo e de ter um policial amigo, sabendo inclusive que ele estará ali para protegê-lo do perigo”.
A diretora de uma das escolas participantes do programa, também em entrevista à imprensa burguesa, adotou um discurso mistificador que faria enrubescer os promotores do próprio Capitão América:
“Eles [os alunos] aprenderam que o policial é um companheiro, que não só prende quem comete crimes. Os alunos perceberam ainda que existe uma convivência com os policiais militares e passaram a vê-los como amigos que querem nos proteger”.
Quer dizer que a Polícia Militar do Brasil, truculenta, altamente letal e orientada por uma linha claramente política, antipovo, agora é “companheira” e “amiga” dos estudantes das escolas públicas, filhos do proletariado? Pois sim…