Em diversas cidades do país, o desfile militar de 7 de setembro, comemorativo ao Dia da “Independência”, foi marcado por manifestações populares exigindo punição para os militares e civis responsáveis pelas torturas, assassinatos, desaparecimentos e demais crimes cometidos pelo gerenciamento militar fascista.
Manifestação durante o desfile militar no Rio de Janeiro
No Rio de Janeiro, o Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos (Cebraspo), o Movimento Feminino Popular (MFP) e o Movimento Estudantil Popular Revolucionário (MEPR) organizaram a manifestação e levantaram duas faixas com os dizeres:”Punição para os criminosos militares e civis, mandantes e executores de torturas, assassinatos e desaparecimentos forçados do regime militar!” e “Glória eterna aos heróis da luta contra o regime militar fascista!”.
Assim como no ano passado, a manifestação foi muito bem recebida e realizada em frente às arquibancadas e em meio ao público que se concentrava na Av. Presidente Vargas, centro do Rio, onde se realizava o desfile militar. As organizações exigiram ações concretas pela punição dos responsáveis pelos crimes cometidos contra o povo nesse sangrento período de nossa história.
Em Recife (PE), o desfile de 7 de setembro foi realizado na Avenida Cruz Cabugá. Uma manifestação realizada por diversas organizações que compõem o Fórum da Anistia de Pernambuco levantou a bandeira da punição para os torturadores do regime militar.
O grupo se reuniu na concentração do Grito dos Excluídos e elaborou cartazes e placas com fotografias de militantes assassinados e torturados no regime militar, como José Carlos da Mata Machado, Helenira Rezende, Gregório Bezerra e Maria Lúcia Petit. De lá seguiram para o desfile dos militares onde interviram em frente à bancada do governo, exigindo a punição de todos os torturadores e assassinos do regime.
Fazem parte do Fórum, a Associação Pernambucana dos Anistiados Políticos, o MEPR, a Federação do Movimento Estudantil de História e o Comitê de apoio ao jornal A Nova democracia de Recife.O ato ganhou repercussão nos meios de comunicação da capital pernambucana e, devido a sua combatividade, o gerente estadual Eduardo Campos e o comandante militar do Nordeste, Odilson Benzi, tiveram de dar declarações com suas opiniões para canais de TV.
Em Belo Horizonte, o MFP levou cartazes com as fotos de revolucionários mortos ou desaparecidos
Em Belo Horizonte, por volta das 11hs da manhã do dia 7 de setembro, logo após o último grupo do desfile oficial, um grupo de 40 mulheres rompeu as cordas que separavam o público da parada militar e tomaram a Avenida Afonso Pena, no centro da cidade. Rapidamente duas ativistas abriram uma faixa com os dizeres:”Cadeia para os torturadores do regime militar!”. Atrás dessa faixa quatro mulheres seguravam duas bandeiras vermelhas do Movimento Feminino Popular. Seguiam-nas três colunas de ativistas, cada uma portando um cartaz com a foto de um revolucionário executado ou desaparecido pelo regime.
As ativistas do MFP percorreram 1 km da Avenida Afonso Pena gritando palavras de ordem. Os nomes dos revolucionários assassinados eram chamados e todas respondiam juntas: “Presente!”. Grupos de populares aplaudiram a marcha das mulheres. Apoiadores da luta distribuíram milhares de panfletos do MFP, afirmando a luta contra o esquecimento, o perdão e a reconciliação com os criminosos do regime militar. Uma faixa do movimento ficou aberta bem em frente ao palanque oficial durante todo o desfile militar, reafirmando a consigna dessa luta. Também participaram da manifestação militantes do MEPR, operários do sindicato ‘Marreta’ da Construção Civil, entre outros.
Em Montes Claros (MG), durante o desfile militar, a tropa de choque do 10° Batalhão da PM reprimiu o ‘Grito dos Excluídos’, agredindo os manifestantes com cassetetes e balas de borracha, prendendo um ativista do movimento Levante Popular da Juventude.
Em nota enviada à redação de AND, ativistas do MFP e do MEPR, que também participaram do protesto, denunciaram:
“Esse 10° Batalhão da PM que reprime manifestações populares e prende ativistas é o mesmo que, em meados da década de 1960, durante o regime militar, sob o comando do coronel Georgino (atual patrono do curso de Direito da Unimontes!), atacou covardemente a luta dos posseiros em Cachoeirinha/ Verdelândia, torturando dezenas de camponeses e assassinando várias pessoas, entre as quais muitas ainda hoje consideradas “desaparecidas”.
Esse 10° Batalhão da PM que reprime manifestações populares e prende ativistas, neste mesmo episódio, foi diretamente responsável pela morte de 64 crianças detidas pelas tropas e que acabaram morrendo por frio, inanição e surto de sarampo.
Esse 10° Batalhão da PM que reprime manifestações populares e prende ativistas é o mesmo que, sob o comando do coronel Georgino, participou da invasão da UNB em 1968.
Esse 10° Batalhão da PM que reprime manifestações populares e prende ativistas é o mesmo que humilha, tortura e assassina o povo pobre e a juventude nas periferias de Montes Claros.”
Em Goiânia, o desfile de 7 de setembro foi marcado por inúmeros protestos. Manifestantes realizaram panfletagem e uma faixa assinada pelo Movimento Feminino Popular com os dizeres “Nem perdão, nem esquecimento e nem reconciliação: punição para os criminosos do regime militar, civis e militares, mandantes e executores de torturas, assassinatos e desaparecimentos forçados!” destacava-se em meio à multidão.Apoiadores de AND em Goiânia enviaram uma mensagem à redação do jornal destacando o apoio da população ao protesto, assim como uma manifestação realizada simultaneamente exigindo a saída do gerente estadual Marconi Perillo.
Em Rolim de Moura, Rondônia, centenas de estudantes e professores tomaram as ruas da cidade durante o desfile “cívico”. Eles convocaram o povo a não participar da farsa das eleições, denunciaram a corrupção que assola o município, o abandono da educação e exigiram punição para os torturadores do gerenciamento militar.
Em Niterói (RJ), familiares de mortos e desaparecidos, no último dia 28 de agosto, tomaram a Praça Arariboia, no centro da cidade, para distribuir panfletos e fixar 375 cruzes, simbolizando seus familiares assassinados pelo regime militar.