O grupo mineiro Zé da Guiomar reúne em seu repertório, sambas autorais, clássicos e obras de compositores das Minas Gerais. Em sua mistura fina há também o samba da Bahia, colorindo com novos batuques o samba de roda.
– Somos um grupo dedicado ao bom samba. Começamos sem grandes pretensões, nos apresentando em um bar chamado ‘Pastel de Angu’. Mas nossa trajetória acabou sendo marcada no Reciclo Cultura Bar, o espaço cultural da Associação dos Catadores de Papel – Asmare. Ficamos conhecidos como o grupo que agitou e ajudou a reunir público no Reciclo – fala o saxofonista Renato Carvalho.
O grupo se apresentou por quase dez anos, todas as sextas-feiras, nesse local, que tornou-se uma referência para as pessoas que gostam e procuram um samba nas noites de Belo Horizonte.
– A parceria rendeu bons frutos para ambos. Eles faziam, por exemplo, o "Festival do lixo cidadania", convidando artistas de todo o país. E sempre nos apresentávamos ao lado desses artistas. Hoje, infelizmente o local está fechado – lamenta Renato.
O nome costuma gerar uma grande curiosidade no público, que acredita ser o "Zé" um dos integrantes.
– Muitos perguntam quem é o Zé da Guiomar ou qual de nós é ele (risos). Na verdade o Zé da Guiomar é o grupo. Como nosso estilo é tipicamente brasileiro, tendo uma forte identificação com a nossa cultura popular, achamos que deveríamos ter um nome que fosse algo bem presente na vida do povo, em suas histórias – explica Renato.
E o povo tem muito esse negócio de associar o nome de alguém ao de outro, por exemplo, o da esposa com o do esposo. No caso, a Guiomar é a sua mãe. Significa que o Zé é filho da dona Guiomar (risos). Esse tipo de tratamento é bem comum no meio do povo – continua.
A pessoa que serviu de inspiração, o verdadeiro Zé da Guiomar, era um patrono de marujada de congados, uma manifestação típica do interior de Minas.
– Ele comandava um desses congados, e tinha umas histórias muito engraçadas e marcante personalidade, inclusive, um jeito peculiar de apresentar seu grupo. Era quase um símbolo de cultura lá em Conceição do Mato Dentro, uma cidade histórica do interior de Minas. O Zé da Guiomar era de lá – conta.
Além de Renato, o grupo é composto por: Márcio Souza (vocal e violão); Valdênio (cavaquinho e voz); Analu (pandeiro e percussão) e Totove (surdo e percussão). Recentemente também Marcelinho do Vale, fazendo percussão.
Sabendo trabalhar o verdadeiro samba, o Zé da Guiomar é um dos responsáveis pelo seu fortalecimento e enraizamento em Belo Horizonte.
– Eram poucos os que tocavam samba por aqui quando começamos, pelo menos nos bares da Zona sul. Somente nós fazíamos releitura de grandes autores, como: Zé Ketti, Noel Rosa, Adoniran Barbosa, Cartola, Paulinho da Viola, sempre interpretando com os nossos arranjos. – comenta Renato.
– Para não destoar daquilo que vínhamos realizando, nosso primeiro disco foi dedicado a regravações. Este CD teve somente uma música inédita e duas autorias, as demais foram releituras. Já no segundo invertemos isso, e partimos para uma linha mais autoral. Fizemos apenas duas regravações – continua.
Conexão Minas-Bahia
– Estamos preparando o nosso terceiro disco. Nele queremos fazer uma conexão com o samba da Bahia. O Rio de Janeiro é a referência do gênero, sem dúvidas, mas sentimos vontade de tentar uma ‘cara nova’, buscar algo que dê uma nova forma, bem brasileira, ao nosso tão querido samba. Lembrando que o samba baiano também tem grande expressão e reconhecimento em todo o país – afirma Renato.
– Praticamente todos os músicos que se aventuram pelo samba em Minas Gerais fazem ‘o caminho’ do samba carioca, ou buscam ligação, inspiração no que é feito por lá. Até por isso também optamos por fazer essa busca com a Bahia, procurando ajudar enriquecer ainda mais o gênero. E acreditamos que muita coisa boa surgirá dessa junção, que ainda é uma experiência – acrescenta.
– O Zé da Guiomar gosta muito de misturar ritmos, sem nunca desvirtuar do samba, é claro, tendo-o como elemento principal. A Bahia tem uma maneira peculiar de fazer o seu samba e inúmeros autores. Entre eles estão o Riachão e o Batatinha, que são sambista fantásticos, mas que não têm presença na grande mídia. O primeiro passo já foi dado nas nossas apresentações em Salvador, quando encontramos com o Paulinho Boca de Cantor, que tem uma pesquisa interessante sobre o gênero e disco de samba gravado – continua.
O grupo tem se apresentado por várias partes do país, além de Minas: Brasília, Rio, São Paulo, Salvador, entre outros. No ano passado o grupo resolveu ‘tirar umas férias’ das noites, mas, devido a tantas reclamações por parte do público, voltou a tocar fixo este ano.
Muita gente nos procurava e dizia que queria ver o Zé da Guiomar tocando em um local fixo novamente. E nós gostamos desse trabalho nas noites, porque é uma maneira de ter presença e diálogo permanente com o público, com o pessoal que acompanha o trabalho do grupo – conta Renato.
E para quem gosta do "Zé da Guiomar" e do bom samba ele avisa:
Estamos todas as sextas no ‘Observatório’, que é um bar com tradição de música ao vivo em Belo Horizonte. E todas as quintas e um sábado por mês, no ‘Vinil Cultura Bar’, um dos mais legítimos e duradouros quando se fala em música ao vivo. O samba mineiro realmente tem mostrado que conquistou o seu espaço, e nos sentimos honrados por fazer parte do time que começou esse caminho – conclui satisfeito.
Para contratar os shows do Zé da Guiomar, ligue para (31) 2515-9023/3284-0709 ou pelo www.bangaloproducoes.com.br.