Os integrantes do monopólio da imprensa têm as suas estratégias de mercado para viabilizarem-se e sobreviverem enquanto empresas capitalistas que são. Estão sempre em busca de multiplicar ouvintes, leitores, telespectadores, tudo a fim de justificarem os altos preços que cobram em seus espaços publicitários.
Para tanto, recorrem a promoções, dão brindes de tipos e gostos variados e apelam a todo tipo de sensacionalismo para vender jornais e aumentar a audiência. Não raro, recorrem a estratagemas como verdadeiras sessões de inchaço do Ibope fantasiadas de, digamos, “noticiário sério”. Um desses estratagemas é travestir o mais puro sensacionalismo com a roupagem de “jornalismo investigativo”, tudo com a prestidigitação da câmera escondida.
A câmera escondida hoje é a boia salva-vidas à qual se agarra o jornalismo da Rede Globo, por exemplo, com sua credibilidade devastada junto à população por causa de tanta patranha antipovo há décadas veiculada em toda a sua grade de programação.
Uma câmera escondida, entretanto, não é tão inocente quanto, por exemplo, um dicionário dividido em infinitos encartes embutidos nas edições dominicais dos jornais da grande imprensa. O que está por trás do “sucesso” das câmeras escondidas pela Rede Globo aqui e ali?
Em primeiro lugar, a câmera escondida da Globo entra na favela, entra nos bailes funk, a fim de reforçar os estereótipos elitistas em torno da pobreza, mas não entra nas reuniões de pauta do monopólio da imprensa e nem sequer nos escritórios dos grandes anunciantes da empresa capitalista de comunicação, muito menos nas festinhas do Projac, onde talvez tivesse muito mais o que mostrar do que nos bailes das periferias.
Além disso, e não menos importante, a câmera escondida sensacionalista da Rede Globo, quando usada para flagrar as maracutaias de ricos empresários, ajuda reforçar o mito de que há empresas capitalistas más e empresas capitalistas boas – boas e más empreiteiras, por exemplo, boas e más contratistas em geral do setor público.
Globo embosca trabalhadores
Foi o caso da “reportagem” feita com câmera escondida e exibida no programa “Fantástico”, da Rede Globo, no último dia 18 de março, sobre como empresas fornecedoras do Estado agem para fraudar licitações – no caso, fornecedores de um hospital público negociando propinas com um falso funcionário público (o produtor da Globo disfarçado) de um hospital do Rio de Janeiro. A reportagem causou justa indignação entre os trabalhadores por todo país por mostrar parte da promiscuidade e da picaretagem que imperam nas relações que envolvem o Estado corrupto e apodrecido.
Na sequência da “reportagem investigativa”, o Ministério da Saúde publicou uma portaria determinando a suspensão dos contratos em todos os hospitais do país com as cinco empresas flagradas pela câmera escondida do Fantástico. A prefeitura do Rio e o governo fluminense fizeram o mesmo.
E assim, com casos como esse, o monopólio da imprensa e as “autoridades” do podre Estado tentam fazer crer que prestam um serviço – uma denunciando um punhado de empresas de pequeno e médio portes flagradas com a boca na botija, mas nunca os grandes arranjos, as grandes negociatas da venda do país e do arrendamento da sua força de trabalho para os grandes monopólios internacionais, e o outro achando mesmo que o cancelamento de meia dúzia de contratos com empresários submetidos da noite para o dia ao opróbrio público é uma forma de “fazer justiça” e “dar uma satisfação” ao povo.
Ora, justiça mesmo um dia chegará para os “jornalistas”, “produtores”, etc. que, volta e meia, armadilham trabalhadores com as suas câmeras escondidas para conseguir audiência fácil mediante o infame “teste de honestidade”, como aconteceu recentemente quando outro programa “jornalístico” da Globo, o Jornal Hoje, exibiu imagens de manobristas catando moedinhas e comendo chocolates deixados nos carros de ricos que saíram para jantar fora e, mancomunados com a Globo, toparam colocar tanto a câmera quanto a isca – uma bem escondida, outra bem à mostra – nos seus respectivos carrões.