Um dos principais nomes do forró nordestino, Paulo Matricó traz na memória um pouco da história dos repentistas e trovadores, com os quais conviveu desde menino. Carregando influências de grandes mestres, como Jackson do Pandeiro, Luiz Gonzaga e Zé Marcolino, Matricó tem como frente principal de trabalho a cantoria e o forró, e já teve o privilégio de também tocar xote, baião, coco, arrasta-pé e toadas pela Europa, mostrando o Brasil para o mundo.
— Minha história com a música tem início através da poesia. Nasci no sertão de Pernambuco, no Vale do rio Pajeú, uma região povoada por repentistas, poetas e trovadores, e desde cedo estive perto de menestréis: Dorival Batista e Pinto de Monteiro, entre outros, além de meu pai, que até hoje, aos 76 anos de idade, vive para a poesia — conta.
Aos 18 anos Paulo foi trabalhar em Recife, em uma indústria, e depois em um banco, mas se sentia insatisfeito. Foi então que conheceu o compositor Anchieta Dali, e acabou tornando-se um profissional de música.
— Formamos o grupo Matricó, juntamente com a cantora Suely Nascimento e o músico Evaldo Cavalcante. Era 1990, e naquele momento estava muito forte o movimento de cantoria, a música de Elomar, Xangai e Geraldo Azevedo, e nesta linha fazíamos nosso trabalho, nos apresentando em muitos lugares e participando de festivais nacionais— lembra.
O grupo durou até 1992, quando todos resolveram seguir suas carreiras solo, e foi neste momento que Paulo Roberto Pereira dos Santos herdou seu sobrenome artístico.
— Fui morar em Brasília, onde comecei a tocar em bares e publiquei meu primeiro livro de poesias, Dois versus ser tão louco, 1994, e no ano seguinte, com a ajuda de um grande músico cearense, o Manassés, lancei meu primeiro disco: Outro verso, com composições minhas e de parceiros, como Anchieta Dali — conta.
De volta a Recife, em 1997, gravou seu segundo disco, Junho também, mostrando que, apesar de identificar-se com a cantoria, é um autêntico forrozeiro nordestino.
— Ele teve uma característica de cantoria, acústico, mas também muito forró, porque isso está no meu sangue nordestino. E como o mês de junho é muito importante para nós, cheio de festa em que o forró fala mais alto, coloquei o nome Junho também — diz bem humorado.
Música que contagia o mundo
Em 1998 Paulo Matricó se casou com uma alemã, que conheceu em Recife, e foi morar na Alemanha, passando a tocar forró pela Europa.
— Através dela conheci uns músicos alemães que, apaixonados pelos ritmos brasileiros, formaram a Banda Menino, um grupo que mistura a nossa música com uma batida dançante de raiz européia. O engraçado é que nenhum deles têm algum parente ou qualquer raiz brasileira. Simplesmente vieram ao Brasil e ficaram encantados com o nosso país e com a nossa cultura — comenta.
Paulo Matricó fez uma parceria com esses rapazes e se apresentou pela Alemanha e outros países da Europa.
— Certa vez viajei por 30 cidades na Alemanha, em uma turnê da banda. Em um momento do show eles paravam, eu entrava, e eles me acompanhavam tocando a minha música: um forró, um xote, um baião — conta.
— E a coisa deu tão certo que quando terminou a turnê convidei o baterista, o baixista e violonista, que também toca acordeon, e montei um grupo de forró, que foi muito bem recebido por onde passou. O pessoal lá é meio desajeitado para dançar forró, mas pelo menos se balançava — brinca.
— Chegamos a gravar um disco, Maria Pereira, 1999, uma mistura de português e alemão, com sotaque nordestino. Em 2000 vim com minha esposa morar aqui no Brasil, mas, continuo a ter contato com a banda — diz.
Morando novamente em Recife, Matricó lançou Forrozeiro. Logo depois realizou um concerto acústico em um teatro da cidade, gravando ao vivo Em canto do Sertão. Em 2002 fixou residência em Brasília, em uma área rural no cerrado. Em consequência disso lançou em 2007 seu mais recente disco, Claro — O coração do cerrado, com canções ligadas a questão da defesa do meio ambiente.
— Esse disco tem aquele timbre do meu jeito de ser nordestino e ao mesmo tempo retrata essa vivência que estou tendo aqui na região, onde a natureza e a poesia têm outro tom. Hoje eu tenho 51 anos e o amadurecimento reflete no trabalho que faço. Mas continuo trabalhando as frentes ligadas a cultura nordestina.
— O que quis dizer nesse meu último trabalho é que o coração do poeta pulsa onde ele está, sem jamais perder as características primitivas, suas raízes. Porque sem a sonoridade, a métrica da poesia, os elementos que compõe a música nordestina, não consigo fazer nada. Fazem parte da minha própria estrutura — confessa.
— Faço shows constantes pelo nordeste. Março e abril, por exemplo, estarei envolvido em shows por lá, e logo depois já começam as preparações para as festas de São João e os festivais de inverno. Pernambuco é a minha base e onde tenho mais contatos com pessoas do mundo da música — continua. Ainda neste primeiro semestre deverá sair o primeiro DVD de Paulo, gravado ao vivo em um teatro de Brasília. No momento também, cursa teoria musical e viola caipira na Escola de Música de Brasília.
— Tudo que fiz até hoje foi de forma totalmente autodidata, mas sinto o desejo de me preparar melhor, enquanto vou amadurecendo. Escolhi viola caipira porque a música caipira de raiz e a nordestina têm muito em comum. Ela também é utilizada com muita força pelos repentistas e pelos grupos armoriais. A música armorial é violeira.
— O movimento armorial, preconizado e difundido por Ariano Suassuna, tem basicamente uma viola, um violino e uma rabeca. Então para mim, estudar e tocar viola, quando eu conseguir tocar é claro (risos), é seguir basicamente nesse timbre nordestino — conclui.