Canto da mineirice

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Canto da mineirice

Nascido em um festival de música brasileira dos anos setenta, o mineirinho Nóis do canto divulga e valoriza a simplicidade do homem do campo, através da música da terra, a música regional, principalmente das Minas Gerais. Com dois discos gravados, e mantendo uma forte influência do trabalho de Geraldo Vandré, Quinteto Violado, Banda de Pau e Corda, entre outros, o grupo mescla nas apresentações do showMais um cadim de nóis canções autorais e de artistas afins.

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O Nóis do Canto com Rolando Boldrin, o segundo sentado da direita para a esquerda

Corria o ano de 1979, quando ainda aconteciam os festivais de música popular brasileira pelo país. Zinho, um dos fundadores do grupo, organizava um desses festivais no Centro Educacional do Bonfim, em Juiz de Fora, quando constatou que não tinha dinheiro para contratar uma atração para o intervalo, período em que os jurados estariam escolhendo os vencedores. Sabendo que o povo esperaria por isso, chamou amigos e juntos escreveram uma música, acrescentaram outras de Geraldo Vandré, e nasceu o Canto da terra, atualmente Nóis do canto.

— Geraldo Vandré foi um ícone na luta contra a repressão militar. Inclusive corríamos o risco de não poder tocar, por conta da censura. Mas para nós valia a pena arriscar e o povo amou. Daí pra frente, devido ao sucesso que tivemos, começaram a surgir convites para apresentação em outros festivais, alguns inclusive vencemos, feiras agropecuárias e shows por Minas Gerais — conta Marcelo Juliani, produtor, diretor e um dos componentes do Nóis.

— Contudo, mais tarde, por conta da falta de apoio da mídia e até mesmo espaços em casas de espetáculos, praticamente paramos nossas atividades por cerca de 15 anos. Fazíamos somente algumas apresentações esporádicas. Na verdade, isso é comum na vida de artistas que trabalham com música cultural brasileira, sem apelo comercial — acrescenta.

— Todos precisávamos de uma fonte de renda para o sustento de nossas famílias, e isso não estava acontecendo com o trabalho de música. Então, digamos que demos uma parada para retomar depois, porque não desistimos assim tão fácil. Sendo assim, em 2004, com o apoio financeiro de um casal de amigos, conseguimos gravar nosso primeiro disco, todo com músicas de autoria própria. Com ele voltamos a toda atividade — continua. 

O primeiro disco esgotou em pouco tempo, devido ao imenso sucesso.

— Parece que tinha muita gente esperando para comprar um (risos). O pessoal decidiu dedicar o trabalho ao meu pai, o seu Augustinho, ou Popó, como carinhosamente o chamávamos. Ele era um dos principais incentivadores do grupo, nos acompanhando por toda parte. Infelizmente faleceu antes de ver o sonho do disco realizado — comenta Marcelo.

— Meu pai tinha um conhecimento prático musical muito grande, mas era totalmente leigo em teoria, aprendeu na escola da vida mesmo. Ele formou a primeira dupla sertaneja de Juiz de Fora, junto com meu tio. Mas quando digo sertanejo é o sertanejo de fato, não esse estilo que dizem que é, mas, não tem nada a ver com o caipira. Me refiro a Rolando Boldrin, Tonico e Tinoco, Tião Carreiro e Pardinho, e outros que cantam a essência do homem do campo — afirma convicto.

Aqueles lá do Canto da Terra

Na hora de gravar o primeiro disco o grupo descobriu que precisaria trocar de nome, porque Canto da terra já estava patenteado por alguém. 

— Como já éramos bastante conhecidos por aqui, tive a ideia de colocar Nóis do canto, já que mineiro fala nóis ao invés de nós, e as pessoas iriam responder quando alguém perguntasse quem éramos: ‘são aqueles do Canto, lembra?’ (risos). Então já deixamos claro que somos nóis, do Canto — brinca Marcelo, acrescentando que o nome marcou muito mais que o primeiro.

Durante esses 31 anos de existência, o grupo teve algumas alteração de componentes. Atualmente conta com Marcelo Juliane (violão e voz), Alexandre Laguardia (violão, baixo e voz), Zé Jorge (viola, violão, gaita e voz), Lenine (flauta, gaita e voz) e Knorr (percussão e voz).

— Quase todos compõem letra e música, e quando não, dão pitaco nos arranjos. Tirando o Alexandre, que estudou em escola de música, todos nós somos autodidatas. E cada um tem a sua inspiração, mas, em suma, procuramos fazer uma música falando e exaltando Minas Gerais, com um estilo bem mineirinho — declara.

— Mas nada impede de gravarmos um baião ou outro ritmo nordestino. Na verdade, tocamos de tudo um pouco, e o nosso show reflete isso. Tem Rolando Boldrin, Lo Borges, Quinteto Violado, Zé Ramalho, Milton Nascimento, Paulinho Pedra Azul, Xangai, Violeta Parra, Victor Jara, Mercedes Sosa e muito mais — conta com alegria.

Mesmo voltando a ativa com shows e apresentações diversas, o grupo continuou enfrentando os problemas de falta de espaços, que obriga todos os componentes a terem outras atividades.

— Já fui bancário por um tempo e hoje sou jornalista; o Zé Jorge é funcionário de uma grande empresa; o Lenine trabalha no comércio; o Knorr é designer gráfico; e o Alexandre dá aulas de música, instrumento e teoria em uma escola aqui em Juiz de Fora — conta Marcelo.

O grupo continua lutando por sua  existência, sempre mantendo a autenticidade e divulgando a mineirice. Nessa linha, gravou o seu segundo disco, Mais um cadim, com o apoio de uma lei de incentivos da cidade, e apresentou o espetáculo Mais um cadim de nóis, em Juiz de Fora e diversas cidades mineiras.

— Temos nos apresentado pouco no momento, por conta das nossas obrigações em outras atividades. Contudo, nos encontramos na minha casa, que é a casa da bagunça (risos), para falar de música, tocar, cantar, e pretendemos gravar um novo disco. Inspiração é o que não nos falta — finaliza Marcelo Juliani.

O disco Mais um cadim é vendido nas apresentações do grupo e pela internet. Para contatar o Nóis do Canto: (32) 9121-0471 e [email protected]

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