Cantor salva a farsa eleitoral no Haiti

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Cantor salva a farsa eleitoral no Haiti

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Soldados brasileiros observam o baixo movimento em uma zona eleitoral

Ante a completa desmoralização dos sufrágios da burguesia ao redor do mundo, com os índices de abstenção nas urnas batendo todos os recordes nos quatro cantos do planeta, seja nos países onde o voto é facultativo, seja naqueles onde o voto é obrigatório, as classes dominantes e o imperialismo a cada dia precisam arranjar mais subterfúgios para tentarem, em vão, convencer as massas de que as eleições, processos farsescos tanto nos países imperialistas quanto nas semicolônias, de alguma forma interessam ao povo.

Tem sido assim, vide o que acaba de acontecer em mais uma farsa eleitoral organizada pelo imperialismo no Haiti.

O primeiro turno da farsa eleitoral haitiana foi um fiasco, mesmo ante os pobres “padrões de qualidade” dos sufrágios desta estirpe capitaneados pela ONU nas nações mais devastadas por agressões e ocupações imperialistas. Inúmeras e claras evidências de fraude, alto índice de não comparecimento às urnas (cerca de três quartos dos haitianos não votaram), várias seções eleitorais justificadamente destruídas pelo povo, e 19 candidatos pedindo a anulação do pleito poucas horas depois de aberta a votação. Um absoluto escracho da “exportação da democracia”, o tipo falso de democracia que o USA e seus comparsas tentam impor mundo afora.

Quando saíram resultados preliminares colocando a ex-primeira-dama Mirlande Manigat no segundo turno junto com o candidato do governo, Jude Celestin, houve protestos em todo o país contra a ausência do cantor Michel Martelly na volta final do sufrágio.

Com a vaca eleitoral indo para o brejo, o imperialismo, via Organização dos Estados Americanos (OEA), parece ter articulado rapidamente um acordo com Manigat e Martelly para que as eleições pudessem passar ao segundo turno, tanto que, logo após serem apontados como os vitoriosos no primeiro turno, com a comissão eleitoral haitiana aceitando um relatório produzido às pressas pela OEA neste sentido, tanto um quanto outro imediatamente retiraram suas assinaturas do pedido de anulação das eleições.

‘Pequeno milagre’ para o imperialismo

Houve ainda o entendimento de que a ausência no segundo turno de Celestin, que representava o governo atual, poderia aplacar as acusações de fraudes generalizadas nos locais de votação e, portanto, de total ilegitimidade do sufrágio haitiano.

Em meio ao completo caos em que o primeiro turno da farsa eleitoral haitiana se converteu, em todos os níveis e sentidos, acabou prevalecendo o nome de Michel Martelly, o cantor popular convertido em alternativa para o imperialismo no Haiti, eleito o novo gerente haitiano com as bençãos da ONU e sob a escolta das “forças de paz” comandadas pelo exército brasileiro, ainda que o resultado oficial da farsa sufragista não tivesse sido anunciado até o fechamento desta edição.

O novo gerente do Haiti foi saudado pelo ex-chefe do imperialismo ianque Bill Clinton, que atualmente é “emissário” da ONU para o país caribenho e que no início de abril esteve em Porto Príncipe para, após o fim do processo eleitoral, confirmar os votos de lealdade do cantor. Referindo-se à eleição de Martelly, Clinton disse: “Às vezes, estamos tão concentrados nos problemas que nos esquecemos de ver os pequenos milagres”.

De fato, Martelly foi um pequeno milagre para as pretensões das potências no Haiti. Castigado por um forte terremoto há pouco mais de um ano, ocupado por exércitos estrangeiros designados para manter a nação sob controle e devastado por uma grande epidemia de cólera que começou nas próprias fileiras invasoras, as massas do pobre país caribenho vêm dando mostras de que a paciência com tanta opressão está chegando ao fim, e de que não aceitará mais fazer as vezes de laboratório de políticas e ações antipovo a serem levadas a cabo em outros países.

Os desafios a seguir serão imensos. Martelly, o gerente miraculosamente “eleito” do Haiti,  saudou a volta ao país do tirano Jean-Claude “Baby Doc” Duvalier, que gerenciou a semicolônia haitiana por mais de uma década e estava exilado na França, e já avisou que pretende chamá-lo para ser seu conselheiro.

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