A crise prolongada de superprodução se agudiza e vai deixando as potências europeias cada vez mais contra a parede, aprofundando suas contradições e cada vez mais suscitando divergências entre os poderosos do mundo no que tange às dispendiosas medidas paliativas exigidas pelos monopólios a fim de garantir sua sobrevida.
Os efeitos da crise geral vão-se espalhando feito rastilho de pólvora entre os paióis das economias capitalistas agonizantes, ora colocando não mais apenas bancos e seguradoras à beira da falência, mas também seus próprios sistemas monetários e de câmbio, caros instrumentos de dominação, em risco iminente de bancarrota.
No último dia 13 de novembro, o ministro das Relações Exteriores de Portugal, Luís Amado, disse que o fracasso das elites político-partidárias do país em se entenderem colocou a gerência local na “situação extrema” de vislumbrar a possibilidade de abandonar o euro, por causa da “perda de confiança dos investidores”.
“Perda da confiança dos investidores” é o nome com o qual as burocracias mais subservientes se referem à chantagem dos monopólios e do capital financeiro transnacional para que aprovem arrochos salariais, enxugamentos orçamentários, cortes de gastos na saúde e na educação, demissões, privatizações e medidas anti-povo em geral, coisa que em Portugal a direita e os oportunistas não conseguem levar adiante da forma como o grande capital quer, porque não conseguem chegar a um acordo suficientemente vantajoso para ambas as partes a fim de fazer passar as contrarreformas no Parlamento.
Diante da “incompetência” de seus paus-mandados empoleirados na administração do Estado português, as potências europeias já avisaram que irão intervir no seu pequeno feudo lusitano, como acabaram de intervir na Irlanda. Em Bruxelas, na Bélgica, sede da União Europeia, os chefes da Europa do capital já decidiram que a mobilização dos recursos do Fundo Europeu de Estabilização Financeira (EFSF, na sigla em inglês) — uma espécie de FMI para a Europa, criado em maio deste ano — para “socorrer” a Irlanda, com todas as obrigações de austeridade que este tipo de “socorro” traz consigo, será empurrado também, mais cedo ou mais tarde, goela abaixo do povo português.
Maior grau de ingerência
A gerência da Irlanda tentou a todo custo evitar o desgaste eleitoreiro de ter que recorrer aos recursos do EFSF, o que automaticamente implica em acentuada perda de soberania, uma vez que o país fica diretamente sob a tutela dos seus “parceiros” — algozes, na verdade — sobretudo da Alemanha, maior financiadora do FMI europeu e, portanto, potência que de fato manda e desmanda no que tange à utilização do dinheiro do fundo. Os chefes da Europa do capital, entretanto, impuseram aos irlandeses uma penhora de si próprios da ordem de 100 bilhões de euros.
Na Grécia, a exigência dos credores alemães e franceses é que o Estado reduza o déficit orçamentário para 3% do PIB do país em 2014. Diante do fato de que a Grécia fechou o ano de 2009 com o déficit em 15,4%, segundo a agência de estatísticas da União Europeia, a Eurostat, as perspectivas são de arrochos ainda mais draconianos aos trabalhadores gregos nos anos que estão por vir, tudo para cumprir as ordens da Europa do capital.
Na Espanha, quarta maior economia da zona do euro, a produção capitalista estagnou em 0% de crescimento no terceiro trimestre deste ano em relação ao trimestre anterior, o que significa que os 4,6 milhões de espanhóis que não conseguem arranjar trabalho, ou 20% da chamada “população economicamente ativa” do país, tendem a permanecer na situação de desemprego em que se encontram.
Somando-se a isso os preços dos imóveis em queda livre e as dívidas do bancos espanhóis chegando a níveis gregos, é possível entender o desespero da chefe da Europa do capital, Angela Merkel, com a ruína iminente da moeda única europeia, instrumento criado pelas potências da União Europeia para azeitar sua dominação sobre os elos mais fracos do bloco.
Em um relatório recente enviado aos seus clientes, uma consultoria britânica alertou que “embora seja ainda cedo para dizer que a Espanha será a gota de água que fará entornar o copo e levar à desintegração da União Europeia, já é evidente que os seus problemas estão além das possibilidades de resolução”. Para salvar o euro, os poderosos da União Europeia já falam até em “revisar” o famigerado Tratado de Lisboa para permitir um maior grau de ingerência das potências naquelas nações que consideram “países-problema”.